O psicólogo Paul Bloom, da Universidade de Yale (EUA), defende que o preconceito é algo natural, racional e até mesmo moral.
Sei que isso parece loucura à primeira vista, mas o que o cientista acredita não é que devemos todos agir como pessoas sem escrúpulos. Na verdade, ele crê que entender o preconceito como algo que não é inerentemente ruim é a chave para reconhecermos quando passamos dos limites.
Quando olhamos para alguém sobre quem já sabemos algumas coisas, podemos fazer vários julgamentos. Por exemplo, sobre sua etnia, afiliação política, crenças religiosas etc. A questão é: esses julgamentos tendem a estar certos. Somos muito bons nessas coisas. Não é algo necessariamente “mau”, nem arbitrário – é baseado no que já conhecemos do mundo.
Segundo Bloom, podemos tranquilamente usar nossas experiências para categorizar as pessoas. Ele afirma que, se não fossemos bom nisso, se não pudéssemos fazer “generalizações” em novas situações baseados em experiências anteriores, não sobreviveríamos – não saberíamos como nos comportar em nenhuma circunstância, não poderíamos reconhecer certos perigos etc.
Além disso, por mais “sem preconceito” que você se considere, todos nós fazemos diferenciações entre grupos – “nós” versus “eles”. Nos identificamos com certas pessoas, protegemos nossa família e amigos, nos distanciamos de quem não pensa como a gente etc.
Na maior parte das vezes, isso é racional. No entanto, esse comportamento pode se tornar irracional – e, então, pode ser prejudicial.
Um exemplo é o Holocausto. Bloom conta a história do pesquisador judeu Henri Tajfel. Tajfel achava que as consequências do Holocausto não eram por conta de uma falha terrível de caráter dos alemães, mas sim de uma exageração de processos psicológicos normais. Para provar isso, fez um estudo com adolescentes ingleses no qual os dividia em dois grupos aleatoriamente. O resultado foi que os grupos procuraram ativamente se diferenciar um do outro, e os adolescentes queriam estar mais próximos de pessoas do seu próprio grupo – e até prejudicar o grupo alheio, quando possível.
Outro caso de preconceito irracional foi mostrado em um estudo no qual compradores em um site online gastaram muito mais com os mesmos produtos quando eles eram exibidos por mãos brancas e não negras. Ainda outra pesquisa mostrou que pessoas com traços mais proeminentemente afro-americanos eram consideradas culpadas e tinham que cumprir pena de morte mais vezes do que pessoas com traços menos afro-americanos.
Isso ocorre porque as pessoas veem certos grupos sob a luz de certos estereótipos.
Ou seja, embora o preconceito e o pré-julgamento sejam comuns e não necessariamente ruins, como combater esse sentimento quando um estereótipo é deturpado e se torna irracional?
Segundo Bloom, uma maneira é apelar para a empatia e as respostas emocionais das pessoas. Isso é fácil de fazer através de estórias.
Dar um nome e um rosto a uma pessoa anônima pode fazer você se importar com ela, independente de não pertencer ao mesmo grupo que ela. Por exemplo, uma lista cheia de estatísticas sobre a fome e as doenças que atingem milhões na África não faz as pessoas doarem mais para a causa do que uma única história de uma única menina africana, com nome e rosto.
Emoção é apenas uma das vias para se conseguir empatia, no entanto. Existem também as vias racional e moral. O “princípio da imparcialidade”, por exemplo, exemplifica por que, apesar de sermos egoístas por natureza, nós tendemos a nos comportar de maneira nobre: porque isso é moral.
Na racionalidade dos direitos humanos, sabemos que não somos melhores nem merecemos mais do que nenhuma outra pessoa nesse mundo, por isso agimos de forma imparcial. Então, nossa razão também pode nos compelir a criar costumes e leis que prezem pelo bem maior, além do nosso próprio.
Sabemos que, em uma entrevista de emprego, vamos ser influenciados por um milhão de fatores: o sexo do entrevistado, sua aparência, sua etnia, sua atratividade. Em alguns casos, tudo bem. Em outros, criamos mecanismos racionais que nos impedem de fazer julgamento errados. Por exemplo, algumas orquestras fazem testes com músicos sem poder enxergá-los, para avaliar somente seu talento.
Em resumo: preconceito faz parte da natureza humana, e podemos usá-lo tanto para o bem quanto para o mal. Mas vale lembrar que, além do instinto, também somos capazes de ponderação racional, por isso nem tudo está à mercê dos vieses nesse mundo.
Confira a palestra que Bloom deu para o evento TEDTalks: [NPR]