Bebês são preconceituosos já com 9 meses?

Por , em 6.05.2012

Um novo estudo apontou que bebês tão novos quanto 9 meses são melhores em reconhecer emoções e expressões faciais de pessoas de sua própria raça, e tendema achar que pessoas de outras raças “são todas iguais”.

Mas, não, isso não significa que todos somos “preconceituosos” por natureza. Embora os bebês nasçam com um certo “vazio” de pensamento, abertos a todos os tipos de descobertas, aos poucos eles percebem quem é da sua raça, e quem não é, pelas diferenças físicas.

E, como eles tendem a conviver nesses primeiros meses apenas com sua família, geralmente pessoas da mesma raça que eles, eles ficam melhores em entender emoções e expressões dessa raça.

Isso significa que, se um bebê afrodescendente for adotado por uma família caucasiana, provavelmente vai distinguir melhor as expressões de pessoas brancas.

O estudo foi conduzido por Lisa Scott e colegas da Universidade de Massachusetts Amherst, EUA, e publicado no periódico
Developmental Science. Eles estudaram 48 bebês caucasianos que não tinham sido muito expostos a bebês negros nos primeiros meses de vida.

Enquanto monitoravam a atividade cerebral dos bebês, os cientistas testaram suas habilidades de diferenciar duas pessoas da sua própria raça e duas pessoas de outra raça, e também suas habilidades de ver expressões emocionais como feliz ou triste, e se elas correspondiam a atitudes como chorar ou rir.

Os bebês de 5 meses diferenciavam todas as pessoas da mesma forma, da sua própria raça ou de outra. Também, ao analisar as expressões de qualquer pessoa de qualquer raça, utilizavam uma única parte do cérebro.

Já os bebês mais velhos, de 9 meses, eram melhores em diferenciar pessoas de sua própria raça. E quando eles analisavam expressões, o cérebro mudou a região na qual processa essa informação, inclusive operando diferentemente quando eles processavam expressões de pessoas de sua própria raça ou de outra raça.

Isso significa que, conforme os bebês crescem, se tornam mais especializados em certas tarefas.

Esse processo é bem parecido com o de aprender uma linguagem. Quando os bebês são muito novos e ainda não sabem separar a relevância dos sons, eles dão a mesma atenção a todos. Mais tarde, quando já entendem melhor os sons que fazem parte da língua que escutam, eles se tornam mais seletivos, desenvolvendo meios de diferenciar os sons relevantes e os não relevantes.

Seguindo esse pensamento, muitos poderiam dizer que as crianças já nascem preconceituosas, preferindo prestar mais atenção a sua própria raça. Não é bem assim. Como já foi dito, os bebês na verdade estão prestando mais atenção a sua própria família, não necessariamente a uma raça em particular.

Mas esse fenômeno pode explicar porque o preconceito persiste em alguns adultos que têm o pensamento de que todos de uma outra raça parecem iguais.

O conselho dos pesquisadores para os pais é que eles criem seus filhos em um ambiente diversificado. Assim, o bebê será obrigado a ser um “generalista”, e não um “especialista”, pelo menos no que se trata da aparência das pessoas.

Claro que você também precisa educá-lo bem, para que ele entenda que todos são iguais, não fisicamente, mas no que diz respeito aos direitos e deveres. Assim, mais tarde na vida, ele será uma pessoa mais flexível com menos chances de perceber alguém como diferente de si.[Jezebel, ScienceDaily, Gizmodo, LiveScience]

5 comentários

  • Wesley Nathan Medeiros Sa:

    não mesmo,são os adultos que ensinam isso as crianças através de palavras ou atos.

  • Mendi Morton:

    Gostei do texto, porém tenho que chamar atenção para a palavra “raça” usada no artigo. Há algumas poucas décadas, o conceito de raça dentro da nossa espécie foi felizmente derrubado, chegando-se à conclusão de que não existe esta divisão dentro da nossa espécie. Porém sabendo que, principalmente em artigos estrangeiros, este conceito ou “modo de falar” ainda é amplamente usado, sei que a culpa por usar tal termo errôneo não é necessariamente da editora do texto. Que a palavra é altamente ofensiva é, porém imagino que nem passou pela cabeça da Natasha querer ofender alguém, muito pelo contrário.

  • Alex Coimbra:

    Sobre este assunto, é interessantíssimo devastarmos o mundo desvelado por Paul Ekman (cientista no qual foi baseada o “Cal Lightman” da série “Lie to Me”).

    Ele comprova por experimentos científicos que as expressões faciais relativas às emoções básicas são universais. Claro, não porque seja algo “místico”, mas em razão da evolução (este também é o entendimento de Darwin, em sua obra Evolução das Espécies).

    Segundo ele diz, as expressões faciais (faciais, e os gestos corporais) são naturais do ser humano, ou melhor, de todas as espécies de animais. E quem duvidar disso eis uma desafio: um cachorro bravo ou um gato atacando, agem da mesma forma, e manifestam a mesma expressão facial, seja aqui no Brasil, na China ou na Alemanha.

    Quem tiver interesse o material é vastíssimo, embora haja apenas uma obra dele em português (as demais obras estão somente em inglês).

    Com a devida vênia à opinião do título, referentemente à “raça”, em termos científicos (em razão das mínimas diferenças genéticas entre as “raças” que compõem a humanidade), o termo raça não é apropriado para diferenciarmos um asiático, um africano ou um alemão, já que, cientificamente, o critério para que uma espécie se divida em raças é muito maior do que meras flutuações na aparência.

    Observação: não vou me envolver em discussões cíclicas inúteis (em boa hora a Hipescience inseriu este critério – Parabéns a vocês), e caso alguém tenha uma opinião diferente, que fique à vontade para manifestá-la – Como diria Voltaire: “Posso não concordar com o que dizes, mas defenderei até a morte o direito de dizer o que dizes”.

  • Alexandre:

    Tinha o péssimo hábito de convesar com pessoas, certa vez, tentei falar com uma criança de 3 anos que mal sabia falar mas me xingou de cada coisa que até me entristeceu, perguntei porque ela fazia aquilo e ela me disse: -‘você é branco!’

    • Mendi Morton:

      Nesse caso eu acredito que seja absorção cultural e não biológico. Porém como você disse, a criança ainda é bem novinha, há grande chance de ela mudar radicalmente, principalmente na puberdade. 🙂

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