Quando o prazer se torna vício
Todos os seres humanos buscam o prazer, em suas diversas formas. O prazer é um motivador em nossas vidas e fundamental para nossa evolução. É a partir dele que buscamos coisas como comida, água e sexo, necessários tanto para nossa sobrevivência quanto para passar nosso material genético para as próximas gerações.
Muitos de nossos rituais mais importantes, como oração, música, dança e meditação, produzem uma espécie de prazer transcendental, que se tornou profundamente arraigado na prática cultural humana.
Mas as atividades que proporcionam prazer têm uma tênue divisão que separa o vício da virtude; e especialistas dizem que não é difícil pender para o lado do vício.
Como qualquer força poderosa que existe entre os humanos, o prazer também é regulamentado pelas sociedades. Em todas as culturas ao redor do mundo, encontramos ideias e regras bem definidas sobre isso, como “o prazer deve ser buscado com moderação”, “o prazer é transitório” ou “o prazer deve ser conseguido naturalmente”.
Para incontáveis crenças, a negação do prazer gera crescimento espiritual. Nossos sistemas jurídicos, religiões e sistemas educacionais estão todos preocupados com o controle do prazer – basta observar o recente furor pelo combate às drogas. Nós criamos regras e costumes em torno do sexo, drogas, alimentos, álcool e até mesmo dos jogos de azar. As prisões estão repletas de pessoas que tiveram a possibilidade de desfrutar de prazeres proibidos, ou que encorajaram outros a fazer isso.
O fato é que a maioria das experiências transcendentais que conseguimos em nossa vida – sejam vícios ilícitos ou atividades socialmente aceitas como a meditação, compras ou até mesmo a caridade – ativam um circuito distinto de prazer em nossos cérebros.
Alimentos calóricos, orgasmo, jogos de azar, oração, dança e até jogos online: tudo isso evoca sinais neurais que convergem para um pequeno grupo de áreas cerebrais interconectadas chamadas de circuito do sistema de recompensa cerebral, ou o circuito do prazer. São nesses pequenos aglomerados de neurônios que os prazeres humanos são emitidos.
Há, no entanto, um problema: o circuito de prazer, em que um neurotransmissor chamado dopamina desempenha um papel crucial, pode ser “cooptado”. As drogas que implicam um risco de vício, como a cocaína, a nicotina, a heroína ou o álcool, são viciantes porque atingem os nossos circuitos do prazer. As drogas que funcionam de forma diferente, como antidepressivos ou LSD, podem ser psicoativas, mas não são, a rigor, viciantes.
E não são apenas as drogas que desempenham esse papel viciante nos cérebros. A evolução tem feito com que nos viciemos por uma grande variedade de substâncias e experiências, do crack a maconha, meditação a masturbação, fast food a carne gordurosa.
Quando o cérebro humano é observado, podemos ver partes importantes do circuito do prazer sendo ativadas por estímulos evolutivamente antigos ou modernos. Quando os centros de prazer são estimulados, os seres humanos podem ignorar quase todo o resto ao seu redor.
Se estamos realmente determinados a alcançar o controle do prazer, tanto para as sociedades quando para indivíduos isolados, a luta deve ser associada com os neurônios que proporcionam as sensações prazerosas. O vício – o lado negro do prazer – está associado a mudanças duradouras nas funções elétricas, morfológicas e bioquímicas dos neurônios e das conexões sinápticas.
Há fortes indícios que são essas ligações e movimentações cerebrais do circuito do prazer que desencadeiam muitos dos aspectos aterrorizantes do vício, incluindo a tolerância (necessidade de doses sucessivamente maiores para obter satisfação), o desejo, os sintomas de abstinência (febre, tremores, depressão, insônia, ansiedade) e as recaídas.
A nossa atual compreensão da função neural, juntamente com as tecnologias que nos permitem analisar e manipular o cérebro com uma precisão sem precedentes, estão nos dando novas perspectivas sobre a biologia do nosso cérebro.
Analisando a base molecular das transformações duradouras nos circuitos de prazer do cérebro, será possível, no futuro, o desenvolvimento de medicamentos e outras terapias que ajudem as pessoas a se libertarem de muitos tipos de vícios, tanto de substâncias químicas quanto de experiências. [The Telegraph]
7 comentários
Que mal há no vício pelo prazer?
Lidaremos sempre com isso. Em busca de mais dopamina, mais prazer, seremos levados à repetição da experiência. E não é bem o caso da predestinação já que alguns genes podem ser desativados, assim como também, por vezes, alguns deles são ativados… E isso não depende tanto da sua presença quanto das condições de vida do indivíduo que os detém.
eu sou viciado em mulher
Sou viciado em masturbação. Passarei longe desses remédios pra vícios!
eu sou viciado em masturbação e sexo
Enfim, tudo é genético, a ciência da predestinação?
eu so viciado em rapadura