Rasto de condensação de aviões tem efeitos inesperados na atmosfera

Por , em 15.07.2019

Um estudo do Instituto de Física Atmosférica da Alemanha descobriu que os rastos de condensação dos aviões podem ser mais perigosos para o meio ambiente do que as próprias emissões de dióxido de carbono das aeronaves.

Isso porque o “efeito de aquecimento” da atmosfera de tais rastos deve triplicar até 2050.

Rasto de condensação

Rasto de condensação ou trilha de condensação são as nuvens formadas pela condensação dos gases de exaustão dos motores das aeronaves em altitudes elevadas.

Toda aeronave que queima combustível deixa uma trilha de gases e fuligem. Em altitudes elevadas, vapor d’água se condensa em partículas de fuligem e congela, formando nuvens cirrus que duram de segundos a horas, dependendo da temperatura e umidade.

Nuvens podem ter efeitos tanto de resfriamento quanto de aquecimento da atmosfera – podem refletir alguns raios solares para o espaço ou bloquear parte da radiação em direção à Terra.

Em outras palavras, tanto nuvens cirrus naturais quanto rastos de condensação podem ter efeitos de aquecimento na atmosfera.

Projeções

Ulrike Burkhardt, principal autor do estudo, e seus colegas usaram modelos computacionais para estimar o efeito de aquecimento dos rastos de aviões em 2006 (ano em que começamos a ter registros detalhados de tráfego aéreo), bem como em 2050, quando o tráfego aéreo deve ser quatro vezes maior do que agora. O modelo levou em conta as mudanças no volume de tráfego, localidades e altitudes dos voos, bem como alterações climáticas.

Os resultados mostram que o efeito de aquecimento será três vezes maior em 2050 do que era em 2006. Inclusive, esse tipo de efeito provavelmente superará o aquecimento que virá com o aumento das emissões de dióxido de carbono de aviões, graças a melhorias na eficiência do combustível utilizado.

Ou seja, globalmente, o aquecimento atmosférico associado às nuvens de rasto deve ser maior do que o causado pelas emissões de carbono da aviação.

“O aquecimento que não vem de CO2 é o elefante na sala”, explica Bill Hemmings, do Transport & Environment, um grupo da Bélgica.

Contribuição menor

Vale lembrar que, ao todo, a aviação é responsável por cerca de 5% do aquecimento global total.

O efeito do rasto de condensação, assim, não chega a ser uma catástrofe planetária. Os modelos computacionais sugerem que as nuvens contribuirão com cerca de 160 miliwatts de “força radiativa adicional” (energia extra fluindo de volta para a superfície da Terra) até o meio do século, enquanto o aquecimento pela emissão de gases do efeito estufa deve contribuir com 6.000 miliwatts.

“Então, enquanto o rasto de condensação é certamente significativo, é um colaborador relativamente menor para o aquecimento global como um todo”, disse o cientista atmosférico Ethan Coffel, da Faculdade Dartmouth (EUA), que não participou do estudo.

Campo de pesquisa aberto

O efeito de aquecimento do rasto de condensação e das nuvens cirrus não é totalmente compreendido pelos cientistas ainda.

Como tem vida curta e ocorre na atmosfera superior, não sabemos com certeza quanta diferença este efeito tem para a temperatura na superfície da Terra, algo que Burkhardt chamou de “tópico de pesquisa aberto”.

O problema é que, independentemente disto, precisamos buscar soluções para as emissões de CO2 e para o rasto de condensação dos aviões de qualquer forma.

“A atitude tem sido que existem incertezas, então vamos esperar e não fazer nada”, criticou Hemmings.

As incertezas, de acordo com Burkhardt, funcionam nos dois sentidos – o estudo pode estar subestimando o aquecimento vindo desta fonte em até 70%.

As descobertas da pesquisa foram publicadas na revista científica Atmospheric Chemistry and Physics. [Gizmodo, NewScientist]

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