Em algum lugar nos arredores de Marraquexe, no Marrocos, no interior de um cofre sob a sombra das montanhas da Cordilheira do Atlas, está uma caixa de prata e níquel com o potencial de gerar uma mudança na forma como a música é consumida e rentabilizada no mundo todo.
A caixa é o trabalho artesanal do artista britânico-marroquino Yahya, cujas obras têm sido encomendadas por famílias reais e líderes empresariais de todos os cantos. Em breve, irá conter um tipo diferente de obra de arte: um álbum duplo do Wu-Tang Clan, um grupo de rap americano com oito integrantes, chamado “The Wu – Once Upon A Time In Shaolin”, gravado em segredo ao longo dos últimos anos.
Esse disco será verdadeiramente único – em vez de um lançamento tradicional por uma gravadora grande ou independente, o coletivo de hip-hop vai fazer e vender apenas uma cópia do álbum. Semelhante a um exclusivo Monet ou Degas, o preço será uma figura de milhões de dólares.
“Estamos prestes a vender um álbum como ninguém vendeu antes”, diz Robert “RZA” Diggs, membro do Wu-Tang Clan. “Estamos prestes a criar uma obra de arte como ninguém fez na história [moderna] da música. Estamos fazendo um item de colecionador”.
O objetivo do grupo é usar o álbum como um trampolim para a reconsideração da música como arte. Esse disco peculiar será um esforço separado do álbum de 20º aniversário do Wu-Tang, “A Better Tomorrow”, definido para lançamento comercial padrão entre junho e setembro deste ano.
Obra de arte, sim
De acordo com RZA e com o principal produtor do álbum, Tarik “Cilvaringz” Azzougarh, o plano é primeiro levar o “Once Upon A Time In Shaolin” em um “tour” por meio de museus, galerias, festivais e semelhantes, e depois vendê-lo.
Assim como uma exposição de alto perfil em uma grande instituição, haverá um custo para observá-lo e escutá-lo, provavelmente entre US$ 30 a US$ 50 (cerca de R$ 70 a 115).
Os visitantes vão passar por forte esquema de segurança para garantir que dispositivos de gravação não sejam contrabandeados. Como precaução extra, eles provavelmente irão ouvir as 31 músicas do álbum de 128 minutos em fones de ouvido fornecidos pelo local. “Um vazamento anularia todo o conceito”, explica Cilvaringz.
Embora nenhuma data de exposição tenha sido anunciada, Cilvaringz disse que o Wu-Tang tem conversado com diversas possíveis localizações, incluindo o Tate Modern, em Londres.
Uma vez que o álbum completar a sua excursão, a banda irá torná-lo disponível para compra por um preço “na casa dos milhões”.
Pretendentes podem incluir marcas dispostas a distribuí-lo como publicidade gratuita (assim como a Samsung gastou US$ 5 milhões para comprar cópias do último álbum de Jay Z para seus usuários), ou grandes gravadoras na esperança de lançar o álbum através dos canais habituais. Há também a possibilidade de que um cidadão rico o compre, podendo mantê-lo ou liberá-lo ao público em nome da democratização de um artefato cultural.
“A ideia de que a música é arte é algo que defendemos há anos. E, no entanto, ela não recebe o mesmo tratamento que a arte no sentido do valor que é dado para ela, especialmente hoje em dia, tendo sido desvalorizada quase a ponto de ter que ser dada de graça”, afirma RZA.
Empreendimento arriscado
Há sempre uma chance de que este plano cuidadosamente concebido falhe antes de ver a luz do dia.
“Eu sei que parece loucura. Pode dar totalmente errado, e nós podemos ser completamente ridicularizados. Mas a essência e núcleo de nossas ideias é a de inspirar a criação, a originalidade e o debate”, argumenta Cilvaringz.
Ele de fato espera que o álbum marque o início de um serviço de música privada – assim como, no passado, grandes figuras encomendavam obras de artes exclusivas.
Já RZA acredita que o disco é uma oportunidade para alcançar uma forma única de imortalização, não só através da música, mas por meio de um modelo. “Haverá um momento em que não poderemos mais sair em tour, é apenas a evolução natural do homem. Por outro lado, este álbum privatizado será algo – essa é a ideia – que vai durar muito mais tempo do que todos nós”, diz. [Forbes]