Ricos ou pobres: quem é mais propenso a mentir, roubar e trapacear?
Será que o dinheiro torna as pessoas ruins? Essa é uma pergunta justa, quando as manchetes são dominadas por más ações dos ricos e poderosos. Entre fraudes, corrupções e desvios, quanto mais as pessoas têm, parece que mais mentirosas e trapaceiras ficam.
“Para os pesquisadores que estudam riqueza e poder, é desanimador, mas não surpreendente, porque está alinhado com as nossas descobertas. O efeito do poder é, infelizmente, uma das leis mais confiáveis do comportamento humano”, explica Dacher Keltner, psicólogo da Universidade da Califórnia em Berkeley (EUA), que passou décadas estudando riqueza, poder e privilégio.
Nos últimos anos, Keltner e seu aluno de pós-graduação Paul Piff publicaram diversos experimentos que confirmam muitas de nossas piores suposições sobre o poder corruptor da fortuna.
Os estudos
Em um dos experimentos, por exemplo, os pesquisadores se posicionaram em um cruzamento movimentado e rastrearam o modelo de cada carro cujo motorista cortou os outros em vez de esperar sua vez. As pessoas que dirigiam carros caros – como um Mercedes novinho em folha – tinham quatro vezes mais chances de ignorar as leis de direito de passagem do que motoristas de carros baratos, como um velho Honda.
“Há algo sobre riqueza e privilégio que faz você se sentir como se estivesse acima da lei, que permite que você trate os outros como se eles não existissem”, disse Keltner.
Em outro experimento, um pesquisador se passou por um pedestre tentando atravessar a faixa, e observou quais carros paravam conforme a lei exigia, e quais passavam direto por ele. Todos os carros mais baratos pararam, enquanto metade dos carros caros ignorou o pedestre na faixa, mesmo depois de fazer contato visual.
Em um dos achados mais surpreendentes, Keltner e Piff descobriram que os ricos são mais propensos a literalmente tirar doces de crianças. Primeiro, eles pediram a 129 participantes que comparassem suas finanças com pessoas que tinham mais ou menos dinheiro. Em seguida, deram aos participantes um pote de doces e disseram que eles eram destinados a crianças em um laboratório próximo, mas eles poderiam pegar alguns, se quisessem. Aqueles que se sentiram mais ricos depois de comparar suas finanças com pessoas mais pobres pegaram muito mais doces para si mesmos.
Outros estudos
Nas últimas décadas, um crescente corpo de pesquisa tentou capturar e medir os efeitos exatos da riqueza sobre o comportamento e a moralidade.
Entre estudos realizados por outros cientistas, os resultados mostraram que os ricos sonegam mais impostos, traem mais seus parceiros românticos, são mais propensos a furtar, são mais propensos a trapacear em jogos de azar e são frequentemente menos empáticos.
Além disso, em pesquisas com doações para a caridade, muitas vezes as famílias de baixa renda doam maiores proporções de seu salário do que as famílias de renda média e alta.
Todos esses resultados sugerem que a riqueza e o poder tiram as inibições das pessoas, as fazem ter mais comportamentos de risco e sentimentos de direito e invulnerabilidade. Ao mesmo tempo, torna as pessoas menos empáticas e capazes de ver as perspectivas dos outros.
É melhor ser pobre?
Como grande parte da pesquisa psicológica sobre riqueza e poder é relativamente nova, muitos dos resultados ainda estão sendo testados e precisam ser confirmados por mais experimentos.
“Eu não diria que essas questões estão resolvidas. Há divergências sobre o exato efeito da riqueza sobre a ética e quão grande ele é”, disse Michael Kraus, psicólogo social da Universidade Yale (EUA).
Mas o tema é de grande interesse, especialmente com a crescente desigualdade social.
“Há muitas razões para nos preocuparmos com a ética das pessoas ricas. Mesmo se a pesquisa descobrisse que elas não são mais antiéticas que qualquer outra pessoa, sua influência no mundo é muito maior. Há governos e bancos estrangeiros envolvidos. Você começa a entrar nessa área onde pode afetar todo o país e o curso da democracia”, esclarece Kraus. [ScienceAlert]
1 comentário
Em Outros Estudos, 4º parágrafo, favor corrigir de: “capazes de ver as perspectivas dos outros”, para: incapazes de ver as perspectivas dos outros.