Seus pulmões são capazes de “cheirar” e “saborear”
Desde pequenos, aprendemos na escola que órgãos usamos para ativar nossos cinco sentidos: o tato está na pele, enxergamos com os olhos, escutamos com os ouvidos, o olfato é comandado pelo nariz e o paladar, pela língua. Mas nem tudo é tão preto e branco quanto costumávamos pensar. Cientistas descobriram que nossos pulmões também têm a ver com os dois últimos sentidos que listamos.
No caso do olfato, pesquisadores da Universidade de Washington em St. Louis e da Universidade de Iowa (EUA) concluíram que os pulmões conseguem sentir e distinguir odores. Contudo, ao invés de percebê-los como o tão conhecido sentido, estes órgãos reagem à presença de substâncias químicas nocivas, desencadeando uma resposta automática: a tosse.
Os estudiosos encontraram uma classe de células que expressam receptores olfativos em vias respiratórias humanas, chamadas de células neuroendócrinas pulmonares (PNEC), que é completamente nova. Os receptores estão localizados nas membranas das células neuroendócrinas. Estas células especializadas enviam impulsos nervosos para o cérebro que lhe permitem “cheirar” as substâncias químicas contidas em estímulos inalatórios potencialmente perigosos, como perfumes, fumaça de cigarro, solventes industriais, entre outros. Uma vez que um odor acre é detectado, ele aciona as células quimiossensíveis para que despejem hormônios que fazem as vias aéreas se contraírem. Em outras palavras, nós tossimos – sentimos aquela característica coceira na garganta e colocamos todo ar do nosso corpo para fora com violência.
Os pesquisadores também apontaram que, ainda que os pulmões estejam dentro de nós, estão ligados ao ambiente externo e, com isso, sofrem constantemente com agressões externas, o que teria gerado este mecanismo de defesa. As PNEC seriam “guardas” cujo trabalho é excluir os produtos químicos irritantes ou tóxicos.
Já no caso do paladar, a questão é que estes órgãos também contêm receptores gustativos que, quando encontram compostos amargos, abrem suas vias respiratórias. Esta descoberta, feita pela Escola de Medicina da Universidade de Maryland (EUA), em Baltimore, poderia melhorar radicalmente o tratamento de doenças pulmonares como a asma.
Os receptores gustativos estão agrupados sobre a língua, mas nos pulmões estão localizados no músculo liso dos brônquios. Você pode não ser capaz de sentir o gosto da sua comida preferida com estes receptores, mas eles reagem a compostos amargos, como o quinino e sacarina. O professor da instituição, Stephen B. Liggett, e sua equipe encontraram esses receptores por acidente. O grupo percebeu que quando estes compostos amargos interagiam com o cálcio nas células musculares dos pulmões, as vias aéreas humanas se abriam de forma muito mais ampla.
Inicialmente, Ligget achava que estes agentes dariam uma resposta de ataque a um inalante nocivo, causando aperto no peito e tosse, para que a pessoa saísse do ambiente tóxico. “Mas os compostos amargos funcionam de forma oposta ao que esperávamos”, relata o pesquisador. “Eles abriram as vias respiratórias mais profundamente do que qualquer droga conhecida que temos atualmente para o tratamento de asma ou da doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC)”.
Porém, antes que vocês, asmáticos, se joguem numa piscina de água tônica, Liggett observa que o caminho pode não ser esse. O estudioso aposta que estes compostos provavelmente precisarão ser introduzidos aos pulmões em forma de aerossol para ativar os receptores. [io9, ATS Journals, io9, Nature]