Já nos prometeram um transplante de cabeça em um paciente humano em 2017, e a principal mente por trás deste possível procedimento altamente controverso não mostra sinais de recuar em seu objetivo maluco. Muito pelo contrário, na verdade: o cirurgião pioneiro italiano Sergio Canavero anuncia que o procedimento foi realizado com sucesso em um macaco.
Conforme revelado pelos sites Motherboard e New Scientist, Canavero tem instigado a imprensa com alguns detalhes sobre os progressos realizados até agora por ele mesmo e pelo colaborador Dr. Ren Xiaoping, da Harbin Medical University, na China, entre outros.
Xiaoping investiu uma quantidade significativa de tempo para aperfeiçoar a técnica em camundongos, depois de ter realizado o transplante em mais de 1.000 ratinhos. Os animais foram capazes de respirar e beber após a cirurgia de 10 horas, mas só viveram por uma questão de minutos.
Agora, de acordo com Canavero, a equipe de Ren realizou o transplante em um macaco. Mesmo que esta façanha realmente seja verdade, não parece que nenhum incremento significativo foi feito desde os anos 70, quando o Dr. Robert White conseguiu realizar o mesmo feito. Embora os animais dos dois procedimentos tenham alegadamente sobrevivido às cirurgias, nenhum dos procedimentos envolveu uma tentativa de fundir as medulas espinhais do doador e do receptor – ainda que Ren tenha ido mais longe do que White neste sentido, ao resfriar o cérebro até -15°C, a fim de proteger o tecido nervoso de danos. Depois de cortar as medulas espinais, os vasos sanguíneos da cabeça transplantada foram ligados aos do corpo do doador.
“O macaco sobreviveu completamente ao processo sem qualquer lesão neurológica de qualquer tipo”, afirma Canavero. Mas, considerando o fato de que o animal foi sacrificado após apenas 20 horas, por motivos éticos, juntamente com o fato de que as medulas espinhais não tenham sido ligadas, esta afirmação parece prematura, para dizer o mínimo.
Análise científica
Independentemente disso, de acordo com Ren, a ideia por trás do experimento não foi investigar o potencial de duração da sobrevivência, mas sim como manter o cérebro alimentado com o sangue, para evitar que o tecido morresse pela falta de oxigênio e nutrientes.
O que talvez seja mais duvidoso sobre esse anúncio é o fato de que Canavero escolheu ir até a imprensa antes do trabalho ser publicado, uma abordagem que é considerada tabu entre a comunidade científica. Canavero diz que sete artigos devem ser publicados nas revistas Surgery e CNS Neuroscience & Therapeutics. Tanto o Motherboard quanto o New Scientist entraram em contato com o editor da Surgery, Michael Sarr, que confirmou que eles haviam revisado até agora dois artigos sobre o assunto, mas que novas rodadas de edição são necessárias antes da publicação.
Sarr apontou preocupações sobre o sensacionalismo e a ética do procedimento, mas observou que a revista tem um interesse significativo devido às implicações da pesquisa. Em particular, um dos artigos debate o crescimento de nervos após lesão medular, algo que tem o potencial de oferecer esperança para um enorme número de pessoas que sofre esse tipo de trauma debilitante.
Outros caminhos
Canavero e Ren certamente não são os únicos cientistas que trabalham para atingir esse objetivo louvável. Um grupo liderado por C-Yoon Kim, da Universidade Konkuk, na Coreia do Sul, por exemplo, tem cortado a medula espinhal de ratos vivos e, em seguida, fundindo-as novamente com a ajuda de uma substância chamada polietileno glicol, que auxilia as membranas graxas das células a se juntarem.
Vídeos mostram os animais sendo capazes de andar, mancando, depois do procedimento. Outras equipes estão também testando diferentes métodos, tais como células estaminais ou estimulação elétrica.
Não se sabe ainda, entretanto, se Canavero poderá realmente realizar o transplante em um paciente humano no próximo ano. [IFLS]