Quando o avião no qual você está voando parece ser jogado de um lado para o outro nos céus como se fosse um brinquedo de um deus do trovão, você deve ficar preocupado? Na realidade, sim. Mas não pelas razões que você provavelmente imagina. Vamos dar uma olhada no que de fato é a turbulência e as verdadeiras razões pelas quais ela pode ser perigosa.
Alguns relatos científicos são tranquilizadores em comparação com as histórias às quais estamos acostumados na cultura pop. Não, a humanidade não está prestes a ser dizimada pelo vírus ebola, apesar do que os filmes de Dustin Hoffman nos dizem. Não, a internet não deve nos transformar em criminosos, embora os longas-metragens de Sandra Bullock nos deem essa impressão.
Porém, e essa história de que nenhum avião jamais foi derrubado por causa da turbulência? Sim, isso é um mito. Uma aeronave já teve o azar de entrar em uma zona de turbulência violenta e ser derrubado como uma frágil pipa durante uma rajada de vento. Outro avião caiu devido à turbulência ao passar no meio de uma tempestade. Mas como podem alguns solavancos no ar causar um desastre?
Uma das principais fontes de turbulência é a confluência de duas massas de ar em movimento e em velocidades diferentes. Isso pode acontecer em qualquer lugar, mas é particularmente mais provável de acontecer sobre montanhas. O ar proveniente do solo sobe a montanha como uma rampa e se choca com a massa de ar de cima, girando em remoinhos ou explodindo rapidamente para a atmosfera.
O incidente aéreo do início de setembro deste ano com um voo da TAM que ia de Madri, na Espanha, para São Paulo também teve como causa a turbulência. Embora não tenha sido muito grave em termos de acidentes aéreos (apenas 15 pessoas se feriram), o caso prova que, até os dias de hoje, os aviões mais modernos ainda estão suscetíveis a passar por problemas devido à turbulência.
Em 1966, um Boeing 707 foi derrubado por causa dessa turbulência. O piloto tinha desviado de sua rota de voo previamente planejada, saindo de Tóquio, capital do Japão, para mostrar aos seus passageiros o Monte Fuji. Entretanto, o vento de 225 quilômetros por hora que soprava nas imediações do morro era mais forte do que a aeronave podia aguentar. A ventania rasgou a cauda em pedaços e o avião caiu, matando todos a bordo.
Desde então, os jatos passaram a ser feitos de um material mais resistente – e é provável que um avião moderno tivesse sobrevivido a uma turbulência como aquela. Ainda assim, esses solavancos no ar continuam sendo perigosos. Até o tipo de turbulência mais facilmente evitado – aquela criada por uma tempestade – contribuiu para um acidente de avião em 2009. Quando o vapor d’água se condensa em gotas, ele libera muito do seu calor para o ar à sua volta. Como resultado, o ar se expande e se eleva rapidamente. O ar que se levanta rapidamente se esfria e isso cria um ciclo.
Qualquer avião que passa por uma tempestade vai experienciar correntes de ar ascendentes e descendentes, súbitas e imprevisíveis. Esses tipos de vento podem subir até 50 mil pés (15,2 mil metros) de altura na atmosfera, por isso os aviões comerciais não conseguem voar em um patamar acima a fim de escapar deles. Felizmente, as rotas de voo das aeronaves são capazes de monitorar o mau tempo e evitar tais situações.
Quando um avião da companhia francesa Air France encontrou turbulência devido a uma tempestade e o piloto decidiu subir para a altitude máxima de voo da aeronave, há indícios de que o piloto automático tenha falhado e parado de funcionar de repente. Na sequência, outros sistemas também falharam e o avião caiu no oceano.
Os casos apresentados acima são extremos e a probabilidade de que o seu avião caia devido a esse sacolejo é muito baixa, mesmo que você seja um frequentador nato de aeroportos. Por outro lado, a turbulência não precisa derrubar uma aeronave para causar danos – como foi o exemplo do avião da TAM, aqui no Brasil.
Na realidade, a turbulência é a causa número 1 de lesões em acidentes não fatais. Os solavancos provocam mudanças na aceleração e na altitude do avião. Quando uma aeronave está voando a centenas de quilômetros por hora, apenas uma pequena mudança na sua aceleração ou altitude pode significar uma grande colisão e uma catástrofe fatal.
Entre 1980 e 2009, três pessoas foram mortas devido à turbulência. Um deles era comissário de bordo e dois eram passageiros que não estavam usando o cinto de segurança. Centenas de pessoas já ficaram feridas, algumas de forma tão grave que tiveram de ser hospitalizadas. Até mesmo uma pequena queda do avião no ar pode fazer com que os passageiros que não estão usando os cintos de segurança batam com a cabeça no teto – que foi o caso da maioria dos feridos do voo de Madri da TAM. Por isso, é realmente importante que você mantenha seus cintos afivelados mesmo se o aviso de usá-los estiver apagado.
A maioria dessas lesões e mortes se deu devido ao que é chamado de “turbulência de céu claro”. É algo invisível para o radar e se trata de correntes velozes de ar. Estar dentro de uma não é tão ruim. Porém, estar acima ou abaixo de uma, onde o ar em rápido movimento rompe o ar lento ao seu redor, pode derrubar um avião por mais de 300 metros.
No final das contas, as viagens aéreas ainda são extremamente seguras. Embora a turbulência possa ser assustadora, é apenas um fator que pode vir a desencadear um acidente. Além disso, tais solavancos só derrubaram – comprovadamente – um avião da década de 1960, que, pelos padrões modernos, era muito mais inseguro em relação aos que temos hoje.
Até mesmo o avião que mencionamos acima, que caiu por mais de 300 metros, pousou em segurança depois do susto. De forma geral, a turbulência é o motivo pelo qual as companhias aéreas recomendam que você mantenha o seu cinto de segurança afivelado o tempo todo que estiver sentado, e nada mais. Se você não quiser acordar com a cabeça no teto da aeronave, é melhor seguir a recomendação. [io9]