Qual seria o propósito dessa elaborada estrutura de 25 mil anos?
A estrutura encontrada deve ter sido importante para aqueles que a construíram, uma vez que exigiu tempo e esforço. Essa é a percepção do arqueólogo da Universidade de Exeter, Alexander Pryor. Ele é o autor líder de estudo publicado no Antiquity.
O exemplo de arquitetura do período glacial foi descoberta na Rússia, em Kostenki, em 2014. Na região há cerca de 70 estruturas desse tipo agrupados em torno do Rio Dom.
O que não se sabe é o motivo de caçadores-coletores, de 25 mil anos atrás, precisando aguentar as baixíssimas temperaturas (que chegavam a -20ºC ou menos), realizarem essa obra de aproximadamente 12,5 metros de diâmetro. A estrutura circular foi construída com ossos de ao menos 60 mamutes-lanosos.
As pistas deixadas no local sugerem que era destinado a processamento e armazenagem de alimento. Dentro da estrutura foram encontrados vestígios de fogueiras e restos de comida, inclusive legumes. E na parte externa foram encontrados fossos com ossos de mamutes.
Há ainda quem acredite que o lugar também apresenta elementos de rituais. Embora Pryor não tenha certeza do que poderia ser, como a vida humana está muito ligada a rituais, para ele é razoável que a estrutura tenha sido construída com as duas finalidades: ritual e atividades ligadas ao sustento.
Mamutes e construções
Estruturas similares, com uso de ossos de mamutes, foram encontradas por arqueólogos em diversos lugares do Leste Europeu, mas em escala bem menor. Além disso, esses sítios tem até 22 mil anos. Em geral, os pesquisadores consideram que essas estruturas tenham sido destinadas à moradia, para aguentar a temperatura no período glacial.
Essa estrutura se destaca pelo tamanho e por isso são feitas especulações em relação a sua função que não deve ter sido de moradia. Pryor diz não conseguir imaginar como essa estrutura teria sido coberto, devido ao tamanho.
Outra diferença da nova estrutura é o fato de ter pouca evidência de outros animais. Lá são encontrados, quase exclusivamente, restos de mamute. Enquanto os outros locais apresentam vestígios de outros animais, o que sugere que eles viviam do que pudessem encontrar na área.
Além disso, esse é o segundo círculo de ossos de mamute onde é identificada a queima de madeira. Mas essa estrutura é aproximadamente 5 mil mais antiga do que a outra.
Essa é a primeira vez que é descoberto componente de alimento vegetal nessas estruturas, de acordo com Pryor. Ainda não foram identificadas espécies específicas. As plantas podem ter tido sido utilizadas para venenos, medicamentos, corda e tecido. Também foram identificadas pequenas sementes carbonizadas. Não se sabe se elas foram trazidas por humanos ou acabaram no local por acaso.
Grande esforço
Ainda tem destaque a quantidade de ossos utilizados na estrutura, o que sugere que tenha ocorrido uma combinação de caça com retirada de locais onde houve morte em massa. A continuidade dos estudos pode dar mais pistas sobre a origem desses ossos. A estrutura completa apresenta divisões de áreas com paredes, fossas, lareiras, espaços de trabalho, de despejo e para matar os animais.
Há evidências de fonte natural de água na área, que permaneceria líquida durante o inverno. Essa água teria atraído animais e também os humanos para o local. Assim, a equipe de Pryor teoriza que esse fator possa ter influenciado a escolha da região para estabelecer a estrutura.
Ainda há muitos questionamentos a serem respondidos em relação a essa estrutura e sua função continua um mistério. Mas ela já dá pistas sobre como os ancestrais humanos se adaptaram à mudança climática no período mais dura do último ciclo glacial, de acordo com Pryor. Além de indicar como se adaptaram ao uso do que tinham à disposição. [Smithsonian Magazine, ScienceAlert, Antiquity]