Vida e obra de um artista de imaginação radioativa

Por , em 4.05.2011
Você conhecia Acord James? O artista, que tirou a própria vida em janeiro, é talvez mais facilmente definido como a única pessoa nos EUA a possuir licença individual para manuseio de material radioativo.

O escultor que se formou em física nuclear para poder fazer arte com material radioativo ficou famoso por ter o número da licença tatuado na sua nuca. Sua missão era ambiciosa: transformar a indústria nuclear.

Durante a década de 90, James planejava a construção de um edifício que armazenasse a radioatividade do lixo despejado na central nuclear de Hanford, no estado de Washington. Imaginou barras de urânio envoltas em granito saindo de uma escultura, que contivesse o material radioativo.

Acord James esperava alertar as gerações futuras do perigo do remanejamento sem cuidado do material. O monumento deveria ser o primeiro de muitos que lidassem com resíduos nucleares ao mesmo tempo que reconhecesse sua perigosidade e longevidade. Isso nunca foi feito.

A história é, de certa forma, metáfora da vida de James Acorde. Suas lutas constantes renderam algumas vitórias e muitos planos a realizar. Em seu trabalho, o conceito sempre foi mais importante do que a execução.

Acord era a favor da energia nuclear, e via a transformação de um elemento em outro como a realização do “desejo mais inato da humanidade”: a transmutação alquímica.

Mas ele estava desconfiado do segredo da indústria nuclear.  Acord enxergava na arte uma forma de arrancar o poder das mãoes dos cientistas nucleares. Seu objetivo era “aumentar a compreensão e  a abertura e transparência sobre a questão nuclear”.

O artista também gostava da ideia de usar a transmutação para neutralizar os resíduos radioativos. Durante anos, ele lutou para acessar os reatores em Hanford e da Faculdade Imperial de Londres para tentar transformar o elemento radioativo tecnécio-99 no metal rutênio, inócuo. Seu pedido lhe foi negado a cada vez pelas autoridades, que julgavam sua justificação fútil.

Eventualmente, Acord desistiu dessa batalha. Determinado a realizar uma escultura que incorporasse o conceito de transmutação, ele recorreu a meios mais acessíveis. Começou com a extração do metal radioativo amerício-241 a partir de detectores de fumaça. Combinando isso com esmeraldas, uma fonte de berílio, ele gerou nêutrons rápidos, que ele relata terem sido abrandados usando cera de abelha.

Ele, na sequência, iniciou uma uma reação para criar urânio-238 – extraído do esmalte de louça brilhante década de 1930 conhecido como laranja Fiestaware – para produzir plutônio-239. No ano passado, Acord anunciou que ele havia conseguido obter plutônio e estava preparando uma escultura que conteria o material.

De acordo com Mark Ramsey, ex-assessor de proteção contra radiações da Faculdade Imperial de Londres, “embora o sistema de Acord tivesse todos os componentes, a quantidade de nêutrons produzidos por esse método seria impraticável”.

Apesar das suas constantes falhas em integrar a comunidade científica nuclear, seus esforços irradiaram entre outros artistas. Em um memorial recente para Acord, o artista Carey Young disse que a sua “vida e obra devem dar esperança a todos os artistas que pretendem lidar com instituições inóspitas e mudá-los para melhor”. Acord foi um escultor de poucas esculturas, mas sua vida em si foi uma arte performática. [NewScientist]

2 comentários

  • Mochileiro:

    Faço minhas as palavras do @Ajax: Acho que a curiosidade geral é saber se ele morreu devido à constante exposição aos elementos radioativos.

  • Ajax:

    Só faltou dizer como ele morreu. Todos devem estar pensando que ele se matou engolindo uma barra de plutônio.

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