Vida pode ter surgido dez bilhões de anos antes do que pensávamos

Por , em 23.02.2014

50 anos atrás, dois jovens astrônomos do Bell Laboratories apontaram sua antena de 6 metros em forma de chifre para o céu sobre Nova Jersey (EUA), com objetivo de medir a Via Láctea, galáxia que abriga o planeta Terra.

Para sua perplexidade, Robert W. Wilson e Arno A. Penzias ouviram um assobio insistente de sinais de rádio vindo de todas as direções e de além da Via Láctea.

Demorou um ano inteiro de testes para que eles e um outro grupo de pesquisadores da Universidade de Princeton (EUA) explicassem o fenômeno: foi descoberta a radiação cósmica de fundo em micro-ondas, um resíduo da explosão primordial de energia e matéria que deu origem ao universo, cerca de 13,8 bilhões de anos atrás.

Os cientistas haviam finalmente encontrado evidências que confirmavam a teoria do Big Bang, proposta inicialmente por Georges Lemaître em 1931.

Avi Loeb era apenas uma criança em uma fazenda em Israel quando Wilson e Penzias começaram a investigar esses sinais misteriosos. Hoje, ele é colega de Wilson no Centro de Astrofísica e presidente do departamento de astronomia da Universidade de Harvard (EUA), e um dos principais pesquisadores do mundo sobre o que tem sido chamado de “madrugada cósmica”.

O físico teórico, agora 52 anos, publicou mais de 450 trabalhos sobre aspectos do início do universo, incluindo a formação de estrelas e galáxias e as origens dos primeiros buracos negros. Ele tem feito um trabalho pioneiro no mapeamento tridimensional do universo, e já analisou as implicações da colisão iminente entre a Via Láctea e a galáxia de Andrômeda (que não vai acontecer antes de vários bilhões de anos, pode relaxar de novo em sua cadeira).

E Loeb agora quer explorar uma ideia ainda mais provocante: recentemente, em um artigo submetido à revista Astrobiology, ele sugeriu que, apenas 15 milhões de anos após o Big Bang, a temperatura da radiação cósmica de fundo era de 0 a 30 graus Celsius, quente o suficiente para permitir que água líquida existisse na superfície de planetas, se algum já estivesse rodando pelo espaço na época, sem precisar do calor de uma estrela.

Assim, a vida no universo poderia ter começado já naquele momento. Isso é particularmente impressionante porque as primeiras evidências de vida na Terra tem apenas 3,5 bilhões de anos. A proposição de Loeb acrescentaria cerca de dez bilhões de anos para essa linha do tempo da vida no universo.

“Eu tenho tentado entender o início do processo antes de a Via Láctea e suas estrelas serem formadas“, disse Loeb. “Acontece que as primeiras estrelas eram mais massivas que o sol e as primeiras galáxias menores do que a Via Láctea. Este período é interessante porque é a versão científica da história do Gênesis. Eu não quero ofender as pessoas religiosas, mas o primeiro capítulo da Bíblia precisa de revisão – a sequência de eventos precisa ser modificada. É verdade que houve um início no tempo. Como na história bíblica, ‘Haja luz’, mas esta luz pode ser pensada como a radiação cósmica de fundo”, brinca o cientista.

Se já acreditamos massivamente em alienígenas agora, quem dirá se ficar provado um dia que já havia vida no universo bilhões de anos mais cedo do que pensávamos. Ou Loeb está errado, ou os ETs são muito bons em se esconder (e, vamos assumir, espaço para isso não falta). [Smithsonian]

35 comentários

  • Roberto Gama da Silva:

    Na verdade isso quer dizer que não é preciso nem mesmo de um planeta para ter vida, bastava um numero suficiente de elementos químicos para que a vida ocorresse. Simples assim.

    • Cesar Grossmann:

      O problema da hipótese do surgimento da vida no espaço e não em planetas é a dificuldade dos componentes “se encontrarem” no espaço. Uma bactéria, por exemplo (que já é uma forma de vida bastante complexa) teria que ficar procurando alimento por uma quantidade de tempo absurda, e o tempo necessário para ela acumular matéria suficiente para se dividir seria outro absurdo. As duas bactérias-filho teriam que se afastar imediatamente, por que o único alimento nas proximidades seriam elas mesmas…

  • Renan Gomes de Souza:

    Considerando esta visão não precisaria de um planeta para existir vida, apenas água liquida, foi oque eu entendi, me corrijam se eu estiver errado, obrigado.

    • Cesar Grossmann:

      a temperatura da radiação cósmica de fundo era de 0 a 30 graus Celsius, quente o suficiente para permitir que água líquida existisse na superfície de planetas, se algum já estivesse rodando pelo espaço na época, sem precisar do calor de uma estrela.

      A ideia é que qualquer planeta, até um Plutão da vida, teria água líquida, não importando sua posição em relação à estrela central.

    • Thiago Corrêa:

      Cesar, na verdade a matéria diz que planetas errantes que não orbitam nenhuma estrela ou planetas que orbitem estrelas muito afastados poderiam possuir água em estado líquido própria para a vida. Se já existissem estrelas como o nosso sol nesta época, e fizermos uma comparação, então planetas a uma distancia de sua estrela central igual a distancia da Terra seriam muito mais quentes do que a nossa Terra, talvez até inviável para a vida com água em estado de vapor, já no caso de planetas a uma distancia como plutão, então poderia ter água na temperatura ideal em estado liquido própria para a formação de vida. Neste caso a distância da estrela central importaria sim, só quis corrigir esta parte no seu comment.

    • Cesar Grossmann:

      Não sei se a Terra seria muito mais quente, estando na posição em que se encontra. Se o espaço tivesse uma radiação de fundo de temperatura de 22ºC, esta radiação só aqueceria os planetas até esta temperatura (ou seja, até atingir o equilíbrio térmico). No caso da Terra, isto talvez aquecesse as regiões onde a temperatura mínima é menor que essa, mas será que alteraria a temperatura máxima?

      Posso estar falando besteira, algum climatologista de plantão?

    • Peterson Souza:

      Cesar, não sou climatologista, mas pelo que eu entendo os planetas são aquecidos de acordo com a quantidade de energia acumulada na superfície.
      logo se um planeta já está a uma temperatura de 22º C e receber uma carga de energia de uma fonte qualquer (como uma estrela) então a sua temperatura deverá subir ainda mais devido ao acumulo de energia.
      Alguém me corrija se eu estiver errado.

    • Cesar Grossmann:

      Peterson, um planeta vai receber energia e devolver ela para o espaço, e sempre na forma de radiação eletromagnética (microondas, infravermelho, luz visível, ultravioleta). O que muda a razão entre energia emitida e absorvida acho que são fatores como a cobertura atmosférica (a presença ou não de gases de efeito estufa, que bloqueiam certas faixas do espectro, absorvendo-as), e o albedo (a grosso modo, a “cor” do solo, mais claro reflete mais).

  • Thiago Corrêa:

    Se o universo for infinitamente antigo, então seres vivos(matéria animada) sempre existiram por ai. Talvez este espaço preenchido com matéria de 13,8 bilhões de anos seja apenas a ponta do iceberg.

    Mts pessoas odeiam esta ideia.. rsrs

    • Thiago Corrêa:

      13,8 bilhões de anos luz, mas é maior que isso atualmente é claro….

    • Cesar Grossmann:

      Thiago, um Universo infinitamente antigo não seria escuro. Já teria atingido o equilíbrio térmico, e durante a noite o brilho do céu seria o mesmo que o brilho da superfície de uma estrela.

      Este é o Paradoxo de Olbers, e é uma pedra tremenda no sapato de quem afirma que o Universo é infinitamente antigo.

    • Thiago Corrêa:

      César, eu sei apenas que pouco sabemos quanto aos mistérios do Universo. Talvez na borda do nosso universo existe algum tipo de material, como uma matéria escura, de modo que a luz possa ser absorvida, ou pode ser que conforme feixes luminosos caminhem entre a matéria que está espalhada pelo espaço, ela vai sendo absorvida lentamente, até um certo ponto que não sobre mais nenhum foton sequer pra prosseguir com a informação, enfim existem muitas teorias quanto a isso, podemos teorizar bastante. Vc afirmar com certeza algo quanto a isso, apenas está alimentando a sua crença, talvez uma crença antropocêntrica. A verdade é que como pouco sabemos em relação a esses mistérios, então ou eu ou vc podemos estar certo em nossas afirmações, ou podemos estar ambos errados quanto a isso.

    • Thiago Corrêa:

      Vc apenas repete o que esta escrito em livros, etc etc. Paradoxo de Olbers já é um velho conhecido, os criacionistas também adoram dizer isso em relação a finitude do universo, o que estaria de acordo com a existência de um Deus, mas não chega a ser uma pedra tremenda não velho, pesquise pra vc ver a idéia contrária ao Paradoxo de Olbers. Pra mim a idéia contrária ao Paradoxo de Olbers é mais lógica, simplesmente não vejo sentido no fim do universo e fora não existir nada, é um tanto estranho, a verdade é que antropocêntricos talvez não se sentem confortáveis com a idéia de que podemos ser infinitamente insignificantes. Enfim eu posso estar errado tb, mas não vejo lógica em um universo finito, além de que me da a impressão de ser uma idéia antropocêntrica.

    • Thiago Corrêa:

      Isto o que eu acredito, seria considerado um crença é claro, porém um crença lógica(racional), sem qualquer tipo de fantasia, e nós não sabemos com certeza muito a respeito destes mistérios do universo. Eu não disse apenas infinitamente antigo, mas também infinito em tamanho.

      No momento eu acredito nisso, e isto o que nós vemos com nossos telescópios seria apenas um fiasco do verdadeiro tamanho do universo no total que seria infinito.

      Um dia desses vi um documentário aqui no hypes que dizia que astrônomos descobriram um certo aglomerado de galáxias distantes que provavelmente estariam sendo atraídas por alguma força gravitacional de algum objeto cósmico ou aglomerado de objetos cósmicos que estariam fora do alcance de visão dos nossos telescópios, é algo a se pensar! Será que o universo é só isso o que a maioria diz, ou será que ele é infinito? Eis a questão….

      My opinion

    • Thiago Corrêa:

      Não digo fiasco, erro total, etc… =D Quis dizer que constatar que o universo é finito apenas com nossa observação visual dos Telescópios, ou através de radiação(que tb é luz) na minha opinião ainda não é o bastante, talvez na borda do nosso universo visual existam mecanismos que bloqueiem isto, e então talvez o que vemos seja apenas uma porção minúscula(esta seria a palavra certa naquela frase) do verdadeiro tamanho do Universo(infinito).

    • Cesar Grossmann:

      Thiago, será que tem algum conceito mais bizarro do que um Universo com “bordas”? A propósito, tem algumas afirmações que são tomadas como possíveis sem que haja qualquer evidência para tal, como esta de que o fóton sairia de um corpo com a velocidade c+v, e depois “desaceleraria” até c. Não tem como desacelerar sem perder energia, e como faz isso? E mesmo assim ainda haveriam perturbações ópticas, miragens, etc.

    • Cesar Grossmann:

      Bom, Thiago, você parece ter CERTEZA que as teorias científicas — relatividade, espaço-tempo, etc. — estão erradas. Mesmo não tendo evidência alguma, você duvida que os pressupostos e conclusões da ciência, como a constância da velocidade da luz no vácuo e outras constantes físicas (que foram medidas), estão erradas.

      Para mim isto é um outro tipo de fé cega.

    • Thiago Corrêa:

      Cesar pense um pouco mais, vc sabia que a unica evidencia para existencia de espaço são as lentes gravitacionais? Nesta teoria o espaço se curvaria ao redor de um corpo(como se o espaço que estivesse ocupando o interior das moleculas do corpo fosse expremido para fora) isso então geraria a chamada força da gravidade. Eu admito a possibilidade de espaço não existir, e alguma particula desconhecida ainda seria a responsavel pel força da gravidade, neste caso espaço não existiria…

    • Thiago Corrêa:

      E entao se espaço não existir, então o efeito de lente gravitacional existiria talvez devido a alta taxa de particulas que etivessem em torno do objeto supermassivo, seria tipo um efeito miragem… Agora vc vizualizou pq eu aceito a possibilidade de espaço-tempo não existir?
      Espero que a modera aceite todos esses ultimos posts…

    • Thiago Corrêa:

      Meus comentários que eu quase que desenhei pra vc o efeito Doppler, foram excluídos pq estavam mt grandes, mas olha, é simples…

      Provas para existencia de espaço: Lentes Gravitacionais.

      Provas para existência de tempo: luz constante para observador/emissor vice/versa, mesmo que estejamos mt lentos como observadores e tenhamos a resistencia da nossa Atmosfera, Magnetosfera, etc…

      Boa sorte com as suas conclusões…

      Não esqueça de assistir o “Idiocracia”

      Tenha um ótimo Feriado…

    • Cesar Grossmann:

      Thiago, você continua fazendo afirmações sem provas e tomando elas como provas. Resistência da luz à magnetosfera, atmosfera? A diferença da velocidade da luz na atmosfera e no vácuo é conhecida, e pode ser medida a partir de fenômenos como a difração e reflexão.

      Além do mais, a curvatura do espaço tempo é provada não só pela existência de lentes gravitacionais, mas pelo fato da curvatura da luz ser prevista pela teoria. E tem a precessão do afélio de Mercúrio.

    • Cesar Grossmann:

      Veja estas notas de aula de astronomia e física:

      http://www.astronomynotes.com/relativity/s4.htm

    • Thiago Corrêa:

      A luz medida aqui na Terra será sempre menor que C, devido a resistencia da nossa Atmosfera. Mas eu acho que se fizermos um teste com a Voyager I, e medir um feixe luminoso que está contra ela, veriamos uma leve variação para mais que C, muito pouco é claro pq estamos muito devagar ainda. e a Voyager I é o objeto mais rápido construído pelo homem atualmente.

  • Cesar Grossmann:

    Agora considerem que levaria apenas 5 milhões de anos para que uma galáxia do tamanho da Via Láctea fosse colonizada por uma civilização que levasse 500 anos para ir para de uma estrela a outra estrela e que pudesse lançar uma nova nave-colonizadora a cada 500 anos.

    O que nos leva novamente ao Paradoxo de Fermi…

    http://www.economist.com/blogs/babbage/2012/01/extraterrestrial-intelligence

    • Thiago Corrêa:

      E se essa civilização pudesse viajar pelo espaço a milhares de vezes a velocidade da luz? Ficaria mais fácil a colonização não? rsrs…

      E se a TR não estiver completamente correta? Abra sua mente Cesar… Não fique preso a dógmas…

    • Rodrigo Duarte:

      No entanto o paradoxo de fermi não considera a possibilidade de que diferentes civilizações podem estar batalhando pela via láctea ou mesmo outras galaxias.
      Alem disso quem ou o que garante que o ser humano não é o produto de uma dessas naves colonizadoras.
      Também se pode pensar que tais civilizações estão aguardando chegarmos a uma maturidade antes de fazer contato ou mesmo que já tenham feito contato em um passado distante ou até recentemente porem tal contato foi encoberto por grupos de poder.

    • Cesar Grossmann:

      Thiago, é fácil acusar alguém de “estar preso a dógmas (sic)”. Difícil é provar que ele está errado.

      Eu acho que questionar é importante, mas questionar por questionar, discordar dos especialistas só por que quer, ou por que acha difícil entender, é só uma maneira de acreditar no que você quer acreditar.

      Você parece ter um problema com a Teoria da Relatividade (as duas). Bom, elas tem evidências empíricas, agora viva com isso…

    • mwcarval:

      Tenho algumas dúvidas Cesar, se vc puder responder, ficaria grato: Seria essa vida sinonimo de inteligência? Afinal a Inteligência assim como nós a conhecemos no ser humano não é aceita hoje como um acidente evolutivo? Então apesar dos bilhões de estrelas, planetas, satelites naturais que abrigam ou abrigaram vida, podemos afirmar que somos um espécime bem difícil de ser encontrado?

    • Cesar Grossmann:

      mwcarval, a princípio acho que quando se fala em vida inteligente, se coloca o adjetivo “inteligente” junto. Quando falam em surgir vida no Universo, penso que se trata de uma afirmação genérica, “surgiu um ser vivo”. Pode ser uma bactéria.

      Eu tenho a impressão que a vida metazoária e também a inteligência são acidentes evolutivos. Aconteceram, mas poderiam muito bem nunca ter acontecido.

  • Lucas Noetzold:

    Mas planetas se formam sem estrelas? (a poeira continuaria se acumulando até virar uma estrela)

    • Marcelo Ribeiro:

      Os planetas são subprodutos da formação de estrelas e tem origem no mesmo disco de poeira que formou sua estrela-mãe: http://a.ciencia.vc/139hBru

    • icarofsx:

      Marcelo Ribeiro, não necessariamente. Estrelas e planetas podem ser formar sem que, para isso, um necessite do outro. Se em uma área do espaço não há poeria suficiente para formar uma estrela, ou seja, da possível junção da poeira não há gravidade suficiente para iniciar a fusão nuclear, teremos um planeta. Dessa poeira poderia brotar um planeta. De certa forma, a única diferença entre um planeta e uma estrela é a quantidade de poeira que levou a formação de um e de outro.

    • Saprugo:

      Isso depende do tempo que a radiação de fundo se manteve nessa faixa de temperatura, permitindo a existência de água líquida, e do tempo que as primeiras estrelas, mais massivas e comuns do que hoje, levaram para consumir seu hidrogênio, colapsar e semear no espaço os elementos químicos mais pesados e necessário à formação da vida, e a consequente formação de estrelas de segunda geração e planetas a partir do disco de acreção formado. Uma condição a menos para a formação de vida pode (cont.)

    • Saprugo:

      ter existido nessa época: o planeta se formar na “zona habitável” de sua estrela, pois os planetas que se formaram muito longe das suas estrelas, ou os que foram expulsos da orbita de sua estrela por algum evento gravitacional ou outro motivo qualquer, vagando solitários pelo espaço, teriam calor o necessário para a água existir em estado líquido. As estrelas mais massivas gastam seu combustível nuclear (H) em muito menos tempo do que as estrelas menores e mais modestas, como nosso Sol, (cont…

    • Saprugo:

      , por esse motivo essas primeiras estrelas muito massivas tiveram uma vida curta, possibilitando os eventos que citei de terem ocorrido em alguns milhões de anos após o Big Bang, e se cruzando na linha do tempo com essa faixa de temperatura da radiação de fundo. Acredito que tenha sido esse o motivo da especulação da possibilidade da vida se formar mais cedo do que se esperava, se eu estiver errado, por favor me corrijam.

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