Os guerreiros ganham o coração da mocinha: Os espólios de guerra biológicos
Segundo um novo estudo antropológico, estar em um conflito violento, mesmo que de pequena escala, oferece recompensas biológicas para os “guerreiros”.
Pesquisadores da Universidade Harvard (EUA) observaram uma tribo de pastoreio do Leste Africano que se envolve frequentemente em conflito armado, sob a forma de ataques violentos em grupos vizinhos.
Os membros que faziam parte desses ataques tinham mais esposas, e assim mais oportunidades de aumentar seu sucesso reprodutivo, tendo mais filhos.
Esse benefício pode não ser igual para todos os povos, no entanto. Segundo os cientistas, o sucesso reprodutivo dos membros dessa tribo em especial foi auxiliado por forças culturais poderosas.
Cultura x sucesso reprodutivo
Richard Wrangham, professor de antropologia em Harvard e Luke Glowacki, estudante de doutorado, são os autores dessa pesquisa. Glowacki viveu com os Nyangatom, um grupo de pastores nômades da região do sudoeste da Etiópia e do Sudão do Sul, por mais de um ano, observando todas as partes do dia-a-dia da aldeia, incluindo atividades como cavar poços de água e plantar alimentos.
Conflitos violentos também são comuns para a tribo. Homens entre 20 e 40 anos de idade carregando armas como fuzis AK-47 tomam parte nos ataques, e conquistam gado de grupos vizinhos.
Esse gado deve mais tarde ser entregue aos anciãos da aldeia, que utilizam os animais para obter esposas para si. Somente anos mais tarde os idosos concordam em fornecer aos “guerreiros” as vacas necessárias para obter a sua primeira esposa, ou esposas subsequentes.
“Em muitas culturas, especialmente no leste da África, a fim de se casar você tem que dar gado para a família da noiva”, explica Glowacki. “Se você não tem vacas, você simplesmente não pode se casar – não importa o quão bonito você seja ou quanto status tenha”.
Violência, pero no mucho
Embora ele tenha encontrado provas claras de que a violência oferece um benefício para os guerreiros, a questão é mais ampla – também envolve um certo controle e cooperação.
Glowacki recolheu dados sobre o cotidiano da tribo, incluindo o número de ataques, o histórico reprodutivo dos guerreiros, quantas esposas eles tiveram, quantos filhos tiveram, quantos estão vivos, quantos morreram e como morreram.
Em uma análise de 120 homens, a conclusão foi inequívoca: aqueles que participaram de mais ataques tinham mais esposas e mais crianças ao longo de suas vidas.
Mas enquanto esses guerreiros se beneficiam de fazer parte do conflito, a falta de um retorno imediato é o que ajuda a manter a violência sob controle.
“Não temos dados quantitativos sobre isso, mas existem alguns grupos no país vizinho – Quênia – nos quais os guerreiros que capturam vacas não têm que dar os animais aos anciãos ou podem vendê-los em um mercado, e a violência é significativamente maior”, argumenta. “Os Nyangatom têm um mecanismo que intermedeia os benefícios que os guerreiros recebem. Há um monte de status e privilégio que vem com a participação em ataques. Quando você volta para a aldeia, as mulheres cantam e as pessoas desfilam. Eles estão celebrando você, mas você ainda vai para casa sozinho”. [Science20]