Vogue bane modelos anoréxicas

Por , em 17.05.2012

Zegna, Prada, Yves Saint Laurent, Chanel, Jimmy Choo, Versace e Hermès. O que todas essas grifes têm em comum? Além do preço para poucos, todas terão de se enquadrar nas novas normas para modelos anunciadas por 19 edições internacionais da revista Vogue.

O pacto entre os editores-chefe das versões internacionais de banir as modelos magérrimas e anoréxicas (e jovens demais) foi promovido no editorial da edição de junho da Vogue britânica. “Como uma das vozes mais poderosas da indústria da moda, Vogue tem a oportunidade única de se engajar em temas relevantes onde pensamos que podemos fazer a diferença”, lê-se no editorial da revista desse mês (foto desse artigo).

A ‘Iniciativa da Saúde’, como está sendo chamada a série de medidas da Vogue, compromete-se a trabalhar com modelos que, na visão da revista, sejam saudáveis e ajudem a promover uma imagem saudável do corpo.

“Vogue acredita que boa saúde é beleza”, afirma o presidente da Condé Nast International – empresa que gerencia várias revistas de renome, como a The New Yorker e a Wired –, Jonathan Newhouse. “Os editores da revista querem que ela reflita os comprometimentos com a saúde das modelos expostas em suas páginas e com o bem-estar de seus leitores”.

As edições comprometidas com a mudança são: Alemanha, Austrália, Brasil, China, Coréia do Sul, Espanha, Estados Unidos, França, Grécia, Holanda, Itália, Índia, Japão, México, Portugal, Rússia, Reino Unido, Turquia e Taiwan.

O que muda

A iniciativa das 19 revistas Vogue consiste em seis pontos fundamentais. Confira:

  • Não trabalharão com modelos abaixo de 16 anos ou que aparentem ter uma desordem alimentar.
  • Pedirão para os agentes ficarem cientes desse fato e irão solicitar aos diretores de elenco que chequem as identidades das modelos em shows, campanhas ou seções de fotografia.
  • Ajudarão a estruturar programas de aconselhamento onde modelos maduras possam dar conselhos para garotas mais jovens.
  • Encorajarão produtores a criarem condições de trabalho mais saudáveis nos bastidores, o que inclui respeito pela privacidade e opções saudáveis de comida.
  • Encorajarão designers a considerarem as consequências dos tamanhos irrealistas (extremamente pequenos) de suas amostras de roupas, fato que limita o número de modelos que podem fazer campanhas para suas marcas e que encoraja o uso de modelos extremamente magras.
  • Serão embaixadores para uma mensagem de saúde.

Promessas para inglês ver?

A decisão da revista Vogue foi bem recebida pela indústria da moda e por seus leitores, mas vale lembrar que essa não é a primeira vez que essa indústria teceu esforços para combater desordens alimentares entre modelos.

Em 2007, o Conselho Britânico de Moda recomendou que as modelos fossem escolhidas somente mediante certificado médico que comprovasse que elas não eram anoréxicas.

No mesmo ano, durante a Semana de Moda de Nova York, nos Estados Unidos, o Conselho Norte-Americano de Designers de Moda adotou medidas que restringiam a idade mínima das modelos e sugeriam mudanças no ambiente de trabalho.

Mas todas essas medidas abrem margem para discussão, pois, segundo especialistas, como a médica Cynthia Bulik, da Universidade da Carolina do Norte, nos EUA, não se pode dizer se alguém sofre de uma desordem alimentar somente a olho nu. “A frase ‘que aparente ter uma desordem alimentar’ não é clara o suficiente”, explica Bulik. “Como eles determinarão isso? Quem dará a palavra final? Quem na Vogue é qualificado para fazer esse diagnóstico?”, indaga a médica.

De acordo com a cientista da Carolina do Norte, uma modelo pode ter bulimia e ser completamente normal, inclusive tendo um peso regular.

E ainda existe outro ponto importante para ser levado em consideração. O banimento às modelos magras demais pode ser ilegal. Empregadores, como agências de modelos e revistas de moda, podem ser processados por violarem leis federais – dependendo do país –, por discriminação contra pessoas doentes (anoréxicas e bulímicas).

Por isso, apesar da decisão da Vogue ter sido bem intencionada, ainda vai dar o que falar. [LiveScience, HuffingtonPost, Vogue, Telegraph, CBC, Foto]

3 comentários

  • Flor de Lis:

    Boa iniciativa. Excelente. Não sei que graça encontraram ao instituir um padrão de quanto mais magra mais bonita. Isso só faz com que belas moças tenham que se enquadrar nisso pra continuar na carreira de modelo; e meninas entrem nessa neurose pra realizar seu sonho de modelar. Viva à saúde. Viva o corpo saudável. Mulher bonita é mulher saudável. E se alguém te falar naquele tom de deboche: “Querida, está acima do peso hein! Estou vendo um “pneuzinho”!”, aqui vai meu conselho: responda na classe… “Darling, já viste avião sem pneu??”. E ‘vamo que vamo’ minha gente.

  • Persefone:

    Acho que isto é bem vindo, mas esta transição não pode ser feita de maneira brusca, e sim levar um período para se implantar. Penso que o modelo de beleza está mudando, sendo que na realidade estas moças nunca se enquadraram ao que se acha de beleza feminina, e as revistas estão querendo se adaptar. Mas essa mudança vai levar tempo, pois culturalmente, modelo é um “cabide vivo”, onde a roupa vai se adequar sem precisar de fazer ajustes. Vai aí um trabalho de conscientização dessas meninas, nutricional, médico e psicológico para trabalhar a auto-imagem que elas possuem sobre seus corpos e a real beleza, que não é esta que a mídia impõe. Essa mudança, se realmente acontecer e os estilistas aceitarem, vai levar anos…

  • Dan:

    Ainda vai dar o que falar mesmo…Ainda mais porque a pseudo bem intenção é o que move a indústria da moda. Décadas de idolatria ao modelo ideal de corpo fez com com que essa geração de modelos se inspirassem em corpos nunca antes alcançados e pele sobre osso esculpiram o “ideal-hj”, ainda que sob a sombra de doenças hj cada vez mais frequentes…Anorexia, bulimia , negligências frequentes com o corpo e mente. E agora, a indústria decide que há de se mudar os padrões para que haja saúde. Creio que isso é o que há de imediato para desinflar a população de modelos que clamam atravéz do corpo por emprego e prejudica a imagem dessas corporações. Se a moda agora é bancar heróis de uma geração, vamos desempregar os que estão no limite pra continuar a ditar a indústria de sonhos. Tim tim.

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