5 políticas progressistas encontradas em ditaduras

Por , em 27.07.2014

É fácil cair na armadilha de pensar em estereótipos e que tudo é preto e branco quando o assunto são países estrangeiros. Acostumados com a nossa cultura, frequentemente pensamos com horror nas ditaduras que ainda existem e já existiram no mundo, acreditando que nossa democracia é melhor em tudo. Mas não é tão simples assim.

Sem querer fugir do fato que muitas ditaduras são ou eram realmente infernos na Terra, algumas, na realidade, têm políticas progressistas muito além do que crê a nossa vã filosofia. Abaixo, você confere uma breve lista, que vai do Irã à Alemanha nazista:

5. A maconha é totalmente legal na Coreia do Norte

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Quando seus amigos reclamarem o quão tirânico o governo é por se recusar a legalizar a maconha, é possível que você se sinta tentado a citar que há um grande número de pessoas no mundo que vivem sob regimes horrorosos, tão rígidos que questionar o poder vigente pode fazer com que você seja executado com um lança-chamas. Isso não é uma piada, já que esse fato realmente pode ter acontecido na Coreia do Norte. Porém, neste momento, você pode acabar saindo um pouco desmoralizado, já que eles podem apontar, com razão, que mesmo na Coreia do Norte a maconha é totalmente legalizada.

Em um país onde aparentemente os “direitos humanos” são considerados um conceito bizarro que vai contra o espírito da prosperidade da “Melhor Coreia”, dar de cara com um lança-chamas não é a única maneira de iluminar a mente. Enquanto a maioria do resto do mundo ainda está teorizando, debatendo ou mesmo ignorando a possibilidade de tornar a cannabis legal, a Coreia do Norte está tão à frente que nunca a considerou algo ilícito.

O governo norte-coreano não considera a maconha uma droga e seu uso nunca foi regulamentado. E nem pense em dizer “Ah, mas isso é porque o país não dá a mínima para o bem-estar de seu povo”, já que o governo é extremamente rigoroso com usuários de drogas pesadas, como metanfetamina, por exemplo.

Por lá, a erva não é mais escassa ou mais tabu do que o tabaco – inclusive, seu nome local é “ip tambae”, que significa “tabaco em folha”. Também não tem problema algum em cultivar cânhamo, com plantações se estendendo ao longo de trilhos de trem em todo o país devido a seus óleos extraíveis, que são usados ​​para fins industriais, e suas raízes profundas, que ajudam a manter as faixas.

E quanto a sua tão temida força militar? Aparentemente, fumar maconha é um passatempo superpopular entre as fileiras do exército norte-coreano. Imaginar os soldados envoltos em uma fumaça densa e suspeita, rindo de seus próprios uniformes, meio que dá uma amenizada naquela imagem de ameaça à paz (risos) mundial.

4. Os nazistas defendiam ferrenhamente os direitos dos animais

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Provavelmente, um grande respeito pela santidade da vida não é a primeira coisa que vem a sua mente quando você pensa na Alemanha nazista. É seguro dizer que um regime que deliberadamente assassinou mais de 13 milhões de pessoas provavelmente não colocou compaixão nem perto do topo de sua lista de prioridades. Se os nazistas tratavam pessoas assim, como você acha que eles tratavam os animais? A resposta é “surpreendentemente bem”.

A Alemanha nazista tinha algumas das mais rigorosas leis de proteção animal de seu tempo, mesmo que nós provavelmente assumíssemos que eles afogavam gatos por esporte. Na verdade, uma das primeiras coisas que o partido nazista fez quando chegou ao poder foi aprovar um conjunto de leis que regulava rigidamente como os animais eram abatidos para alimentação e proibia qualquer forma de experimentação animal cruel, como a vivissecção. Na verdade, muitas das leis de proteção animal que ainda estão em vigor na Alemanha foram originalmente postas em prática por Hermann Goering, BFF de Hitler e segundo no comando.

Enquanto você provavelmente irá supor que qualquer lei que os nazistas passaram foi projetada de alguma forma para ofender os judeus (no que estaria parcialmente certo, já que o abate kosher judaico foi citado como parte da sua justificativa), as leis de proteção animal se aplicavam a todos, mesmo os muito ricos, e Hitler (um vegetariano devoto) não levava a coisa na brincadeira.

Mesmo a caça tinha de ser realizada o mais moralmente possível – as caças a cavalo e usando cães foram proibidas, por serem consideradas antiéticas e um meio de causar sofrimento desnecessário à presa. Sem nunca ter caçado sem essas regalias, a aristocracia ficou furiosa. Ah, além disso, um biólogo foi punido por não dar anestesia suficiente para vermes durante um experimento.

Existem algumas teorias sobre como os nazistas conciliaram as suas políticas de proteção animal com o fato de que eles eram, bem, nazistas. Estudos psicológicos de criminosos de guerra revelaram que muitos deles eram ambientalistas ao ponto de colocarem as vidas dos animais acima das vidas de seres humanos (ou pelo menos de certas etnias de seres humanos).

3. Ruanda é o líder mundial em igualdade de gênero

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Se você sabe alguma coisa sobre Ruanda, a palavra “genocídio” provavelmente aparecerá em sua mente. Na década de 1990, Ruanda era um dos lugares mais violentos do planeta e, nos últimos vinte anos, tem sido governada por um ditador, Paul Kagame, que tem um jeito engraçado de fazer seus rivais políticos desaparecem, além de manter uma rédia curta na liberdade de expressão de seus cidadãos. Isso é quase incompreensível quando se leva em conta que, em termos de direitos das mulheres, Ruanda faz o resto do mundo comer poeira.

O país tem tanta igualdade de gênero que está quebrando (seus próprios) recordes mundiais em relação à maior proporção de mulheres no governo. Em 2013, as mulheres ganharam 64% dos lugares no parlamento de Ruanda. E elas o fizeram graças a um número de eleitores que deixaria qualquer político verde de inveja.

Para um país que era basicamente sinônimo de todos os problemas pelos quais a África se tornou conhecida, aconteceu uma transformação incrível. Duas décadas atrás, a falta de leis, o estupro e o assassinato eram endêmicos, mas hoje há penas severas por estupro, linhas telefônicas diretas para as vítimas e acesso generalizado à contracepção.

E as empresas estão seguindo o exemplo dado pelo parlamento liderado por mulheres de Ruanda, encerrando anos de discriminação enraizada. Este é também o país mais limpo na África. Sacolas plásticas são absolutamente ilegais (tem até mesmo uma multa de mais de R$ 300 para quem for pego), vendedores ambulantes não são permitidos e os funcionários de limpeza empregados pelo governo trabalham contra o tempo para se certificar de que não haja lixo emporcalhando os espaços públicos.

Caso você resolva deduzir que tudo isso é apenas uma máscara feliz que está sendo usada para encobrir algo realmente assustador, parece que a vida diária em Ruanda é mais ou menos tão calma quanto parece. Os índices de criminalidade são baixos e corrupção policial é mínima, o que é surpreendente para um país governado por um cara que recebe mais de 90% dos votos a cada eleição.

2. Os mongóis protegiam a liberdade religiosa

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Notório por ter impiedosamente subjugado o continente asiático, o Império Mongol praticamente dominou o mundo nos tempos em que “potência a cavalo” era um termo literal e as pessoas limpavam a bunda com folhas de bananeira. Enquanto os mongóis protagonizaram o espetáculo de uma quantidade sem precedentes de pilhagem e estupro, também endossaram algumas políticas surpreendentemente modernas, incluindo a tolerância religiosa.

Genghis Khan aderiu ao xamanismo, mas assegurou que a liberdade de religião fosse garantida a todos os seus súditos. Religiões estrangeiras eram bem-vindas, mesmo que contradissessem as crenças espirituais xamânicas. Mesmo que tenha conquistado civilizações inteiras com força bruta, Genghis percebeu que para ser o governante de um império poderoso, você tem que manter as pessoas felizes. Imaginamos que não deve ter sido uma tarefa simples ensinar este conceito a um homem que empalava pessoas praticamente por diversão, mas eventualmente Genghis percebeu que marchar sobre um país e obrigar todos a se converterem a alguma nova religião estranha não é a melhor maneira de manter o poder quando seus súditos superam você aos milhões.

Assim, os conquistadores mongóis não só toleravam religiões estrangeiras entre a população, como também as apoiavam, chegando ao ponto de oferecer incentivos fiscais para taoístas, budistas, islâmicos e cristãos. Para não ficar atrás, o herdeiro Genghis ao trono, Ogedei Khan, encomendou a construção de um monte de novas igrejas, mesquitas e templos. Ele era, portanto, capaz de agradar a líderes religiosos e manter tudo sob controle. A única exceção foi sob o governo do neto de Genghis, Kublai Khan, que discriminou taoístas.

1. O Irã é supertolerante com alterações de sexo

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O ex-presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, alegou em uma ocasião infeliz que seu país continha exatamente zero homossexuais, como se desacreditando sua própria existência e os rebaixando ao reino dos unicórnios e sacis. É compreensível, a partir da perspectiva dele, porque gostaria de acreditar nisso, já que, se você for gay no Irã, pode ser apedrejado.

Se gostar de brincar com alguém que tem um brinquedo igual ao seu é um crime punível com a morte, nós podemos apenas imaginar como os transexuais são tratados no Irã. Provavelmente estamos imaginando errado, porque a comunidade transgênero enfrenta quase nenhuma dificuldade.

Estimativas não oficiais colocam em cerca de 150 mil o número de pessoas com transtorno de identidade de gênero no Irã, país que perde apenas para a Tailândia em cirurgias de mudança de sexo. Em 1987, o aiatolá Khomeini instituiu uma fatwa específica que não só tornou esta operação legal, mas também fez com que o governo ajudasse as pessoas pagarem por isso, inclusive os tratamentos hormonais que acompanham a cirurgia.

Por mais magnânimo que isso soe para uma das teocracias mais duras do mundo, pode-se argumentar que eles estão fazendo isso pelas razões erradas. Como mencionamos, o governo iraniano não quero que haja quaisquer gays em seu país, então deduziram que dar às pessoas a liberdade de mudar de sexo é uma maneira de resolver o problema (porque, aparentemente, um homem gay é apenas uma mulher heterossexual por dentro, certo? De forma alguma isso seriam duas questões separadas e bem diferentes, não é mesmo?). Basicamente, eles aceitam o transexualismo através da pura força de sua homofobia.

Operações de mudança de sexo devem ser autorizadas por um psiquiatra especialista do governo e, por vezes, um sexólogo. Os possíveis pacientes devem ser submetidos a várias sessões com até seis psiquiatras diferentes, bem como consultar um examinador forense da agência médica governamental que supervisiona as cirurgias.

Após a mudança, o indivíduo torna-se literalmente uma nova pessoa – a sua certidão de nascimento antiga é destruída e uma nova identidade é emitida. Novas leis estipulam uma maior compensação financeira para os indivíduos interessados no procedimento, e há até uma proposta para permitir empréstimos para que os transexuais possam iniciar seus próprios negócios. [Cracked, O Globo, The Guardian]

1 comentário

  • Veronica Santos:

    Esse é o artigo mais desafiador que eu já li ! Ainda estou com dificuldades de processar as informações.

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