Asteroide que poderia acertar a Terra gira tão rápido de deveria ter se desfeito

Por , em 21.08.2014

Na última semana, rumores sensacionalistas foram divulgados pelo jornal “Telegraph”, que afirmou que um asteroide acabaria com a vida na Terra em 2880. A matéria revoltou membros da comunidade científica, que se apressaram para explicar que o desastre não era tão certeiro – o que não faz com que o asteroide 1950 DA seja desinteressante.

“É muito, muito improvável que o asteroide vá nos atingir em 2880”, explica o astrônomo Phil Plait, do blog Bad Astronomy, acrescentando que o caso é um pouco menos simplório que isso. Porém, garante, há uma explicação científica “muito legal”.

O 1950 DA tem sido notícia nos últimos tempos porque uma equipe de cientistas analisou a rapidez com que ele gira e descobriu algo extraordinário: o objeto é tão rápido que deveria se despedaçar!

Asteroides são pedaços sólidos de rochas monolíticas, mas sabemos que alguns são “pilhas de entulho”, coleções de pedras menores mantidas juntas presumivelmente por sua própria gravidade. Eles provavelmente seriam sólidos a princípio, entretanto repetidas colisões ao longo das eras os deixaram cheios de rachaduras, por isso são mais parecidos com sacos gigantes de pedra quebrada.

O 1950 DA é uma dessas pilhas de entulho, com altíssima rotação: um “dia” por lá tem apenas cerca de duas horas de duração. Ele tem aproximadamente 1,3 quilômetros de diâmetro, o que significa que, se você estivesse em seu equador, a força da gravidade para baixo, que o segura à superfície, seria um pouco menor do que a força centrífuga para fora. Ou seja, você seria lançado no espaço.

Isso seria estranho o suficiente em uma rocha sólida, mas como o 1950 DA não é sólido, tal fato significa que ele deveria voar por todos os lados. Como não o faz, deve haver alguma outra força mantendo estes pedaços juntos. Os cientistas especulam sobre o que essa força possa ser, sugerindo a força van der Waals – um efeito complicado que pode ser pensado como uma carga eletrostática entre as moléculas (embora isso seja simplificar demais) – como possível responsável.

Aprender sobre asteroides é fascinante e cientificamente importante, claro, mas há considerações práticas. Uma delas é que, se encontrarmos um que poderia atingir a Terra algum dia, temos que fazer algo para impedir isso. Uma ideia é bater nele com uma sonda espacial com força suficiente para alterar sua órbita. As características físicas da rocha são importantíssimas para isso; se é de metal, pedra ou uma pilha de escombros, irá reagir de forma diferente ao impacto. Quanto mais estudamos rochas como o 1950 DA, melhor.

O caso da manchete do “Telegraph”

O 1950 DA é o que chamamos de “asteroide próximo à Terra”, porque a sua órbita, por vezes, chega relativamente perto de nós – “perto” em uma escala cósmica, claro. Nas próximas décadas, uma passagem típica está a dezenas de milhões de quilômetros de distância, chegando tão perto quanto 5 milhões de quilômetros – o que ainda é mais de 10 vezes mais longe do que a lua!

Ainda assim, isso é a nossa vizinhança, o que é uma das razões para este asteroide ser tão bem estudado. Ele fica próximo o suficiente para que possamos ter uma visão decente dele quando passa por nós.

Ele pode impactar a Terra? “Meio” que sim. Neste momento, a órbita do asteroide não o traz perto o suficiente para nos atingir. Contudo, existem forças que atuam sobre asteroides ao longo do tempo que sutilmente alteram suas órbitas. Uma delas é o chamado efeito YORP, uma força fraca que surge devido à maneira como o asteroide gira e irradia calor. Os fótons infravermelhos emitidos pelo corpo celeste quando ele está quente podem fazê-lo agir de forma muito parecida com um foguete de incrivelmente baixa propulsão. Ao longo de muitos anos, isto pode alterar tanto a rotação do asteroide, quanto a forma da sua órbita.

Prever a posição de um asteroide ao longo dos anos é uma proposta arriscada, na melhor das hipóteses. Pequenas incertezas em sua posição medida propagam-se em erros maiores, de modo que quanto mais além no futuro tenta-se prever onde o asteroide vai estar, mais confusa essa posição fica.

No entanto, o 1950 DA é quase uma exceção. Temos observações referentes a muitas décadas (1950 é o ano em que foi ele descoberto) e observações de radar feitas em 2001 que fornecem medidas de posição muito precisas. Isso permite que a órbita do 1950 DA seja determinada num futuro mais distante do que a maioria dos asteroides.

No ano passado, outra equipe de cientistas se dedicou a este assunto, medindo uma série de pequenos efeitos sobre o asteroide, incluindo o impulso YORP, a gravidade dos planetas, a gravidade de outros asteroides, e assim por diante. Eles descobriram que a probabilidade de um impacto em 2880 é de cerca de 2,48 x 10-4, que é aproximadamente 1 em 4 mil. Para deixar claro: isso é muito pouco.

Essa é uma razão pela qual a manchete do “Telegraph” é sensacionalista – eles até usaram um dado antigo, que diz que probabilidade de colisão é de 1 em 300. Um outro motivo pelo qual a matéria foi infeliz é que levou a reprodução do erro por outros veículos e consequentemente uma propagação irracional do pânico. [Slate]

1 comentário

  • Jorge Davidtz:

    2880 ? Hum ! Não creio que haja motivos para preocupação . Daqui a 800 anos o ser humano já terá se auto destruído . Assim penso

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