Bill Gates escreve carta para Steve Jobs, que ele guardou em leito de morte
Bill Gates tem gostos comuns. Sobre seus luxos, ele cita DVDs, livros e hambúrgueres. Durante várias reuniões que começam às vezes no começo da manhã, ele só consome latas de coca-cola light.
Isso de um homem com a fortuna estimada em mais de R$ 100 bilhões. Como ele disse para alguns pupilos em uma escola de Londres, na semana passada: “Se eu não tivesse dado meu dinheiro, eu teria mais do que qualquer um no planeta. 90% dele vai embora”.
Apesar de sempre educado, ele tem as qualidades de um excluído social. Quando era um adolescente nerd em Seattle, estudava computação. Em Harvard, foi o cara que largou a faculdade e fundou uma corporação bilionária. Na Microsoft, revolucionou o mundo tecnológico.
Uma das poucas pessoas a compreender suas compulsões foi Steve Jobs, que morreu em outubro. A longa relação entre os dois, muito conturbada, está descrita na última biografia de Jobs, mas, até agora, Gates havia comentado pouco sobre isso.
“Steve foi um gênio incrível que contribuiu imensamente para o campo onde estou. Nós tínhamos períodos em que éramos competidores. Os computadores pessoais em que eu trabalhava tinham uma parte do mercado muito maior do que a Apple, até os últimos cinco ou seis anos, onde o trabalho de Steve no Mac, iPhones e iPads foi muito bom. Foi um avanço, e nós gostávamos do trabalho um do outro”, diz.
Esse tributo, parte elogio, parte memória, é mais leve do que os comentários de Jobs. “Ele passava muito tempo competindo comigo. Em muitos momentos, Steve me criticava. Se você pegar os piores exemplos, é quase uma litania”, fala. Na visão de Jobs, o rival era “sem imaginação” e “estreito”. Como disse em uma entrevista, “Gates seria um cara mais amplo se tivesse tomado ácido ou fosse para um ashram”.
A atmosfera mudou em 2007, quando Gates deixou a Microsoft para fundar a Fundação Bill e Melinda Gates, com sua esposa. “Steve e eu fizemos um evento juntos, e ele não podia ter sido mais legal… Eu passei um pouco de tempo com ele no ano passado”.
Alguns meses antes de Jobs morrer, Gates fez uma longa visita a ele. “Nós ficamos horas falando sobre o futuro”. Depois, com a iminência da morte de seu adversário, escreveu uma carta. “Eu disse para Steve como ele deveria se sentir ótimo pelo que fez e a empresa que criou. Escrevi sobre seus filhos, que eu pude conhecer”.
O último gesto não foi, diz ele, conciliatório. “Não havia paz para ser feita. Nós não estávamos em guerra. Fizemos ótimos produtos, e a competição sempre foi um aspecto positivo. Não existia causa para perdoar”.
Após a morte de Jobs, Gates recebeu uma ligação da sua esposa, Laurene. “Ela disse: ‘Veja, essa biografia não demonstra nem um pouco do respeito mútuo que vocês tinham’. E ela disse que ele tinha apreciado minha carta, e guardou em sua cama”, contou.
Bill Gates raramente fala nesses assuntos humanos. Como matemático, ele prefere números a emoções, focando nas bilhões de pessoas pobres e o dinheiro necessário para ajudá-las a sobreviver e trabalhar para prosperar. Quando questionado sobre seu objetivo, por um aluno da escola, ele afirmou: “Eu tenho 56 anos. Espero poder viver mais 25 ou 30 anos para ver as mortes desnecessárias caírem para zero”.
Ele não espera que seus três filhos, que vão herdar uma pequena parcela do seu dinheiro, sigam seu caminho. “Nossa fundação não vai durar muito além da minha vida e da minha mulher. Os recursos vão durar cerca de 20 anos após nossa morte. Não há negócio de família, e meus filhos vão fazer suas próprias carreiras”, explica.
Enquanto especula que eles vão virar “bons médicos e advogados”, ele admira não apenas empreendedores, mas o sistema de mercado. “O capitalismo tem funcionado muito bem. Veja a Coreia do Norte versus a do Sul, ou a China antes e depois de 1979. O capitalismo tem alguns déficits. Ele não necessariamente cuida dos pobres, e impede inovações, então temos que cuidar disso. Nós não temos que perguntar se o capitalismo é errado”.
Apesar de não ser especificamente religioso, e longe de ser um devoto, ele se move pela fé. “Eu acreditei no computador pessoal e dediquei minha vida a isso”, afirma. “Se você tem um sonho, e ele se realiza, é uma coisa muito legal”. Agora ele estende a sua paixão para acabar com as doenças e a fome. O homem que mudou a forma como os países ricos vivem está igualmente determinado a mudar a forma como os pobres vivem.
Você pode ler as cartas anuais de Bill Gates em gatesfoundation.org. [Telegraph]
9 comentários
A carta é para Jobs, mas a matéria praticamente só fala em Gates?
Gates diz que dedicou a vida ao computador pessoal, mas abocanhou o mercado de PCs depois que eles já haviam sido inventados (sim, pela Apple). Logo, ele não deveria dizer isso.
Acho que Bill Gates, durante o periodo da sua riqueza, percebeu que o dinheiro não é tudo, sente-se gratificado por manter suas Obras sociais e ajudar os excluidos, já que êle pode e como pode.
Com certeza é um gênio, s´não sei se é um bom sujeito….
Nossa eu daria tudo para estar presente na última conversa deles, em que falam sobre o futuro! rs. Imaginem a conversa de dois gênios da tecnologia?
Mente boa, não pensa em si só, vê o outro ser humano com olhar de igualdade, isso sim que o mundo precisa, e menos tiro no pé!
Gostei de seu comentário e queria só registrar uma coisa: enquanto Gates tenta melhorar a vida dos pobres, o que dizia Steve Jobs sobre os COITADOS que matavam na fornecedora da Apple, a Foxxcon?… Fica a dica…
O pensamento de Bill Gates, traduz a realidade que se vive no mundo, com uma diferença que, se posta em prática´pelos detentores de fortunas como a sua, mudaria o quadro de miséria no mundo e viveriamos uma verdadeira revolução social. Como ele mesmo disse, o capitalismo não é um mal social, apenas não estamos usando-o de forma inteligente ao ponto de darmos fim às desigualdades.
O Bill Gates sim, é um homem que merece cada cêntimo que ganha. Merece respeito
gates e um exemplo de humano