Conheça moléculas que podem alterar sua memória

Por , em 13.10.2011

A memória foi sempre um dos fatores de estudo mais abstratos do cérebro humano. Como nós somos capazes, afinal, de armazenar as informações que chegam até nós? A resposta para isso é uma verdadeira aula de química, já que há várias moléculas envolvidas no processo. A psiquiatria continua descobrindo, além de novos compostos, novos fatos sobre a memória.

O cortisol é um exemplo das moléculas que estão, segundo estudos recentes, envolvidas com a memória. Conhecido até pouco tempo por seu papel de resposta ao estresse e à adrenalina, esse hormônio esteroide é também capaz de aumentar a memória em curto prazo (aquela que serve para coisas imediatas e não sobrevive a uma noite de sono).

O estresse por si só, contudo, já foi comprovado como fator que dificulta a memória. Isso cria uma situação inusitada: o estresse é ruim para a memória, mas o hormônio produzido por ela é bom. Essa situação sugere, como explicam os cientistas, um delicado equilíbrio entre a lembrança e o esquecimento. Para ter mais pistas sobre como isso funciona, os pesquisadores estão analisando os neurotransmissores.

Médicos que se especializam no mal de Alzheimer estão conhecendo um novo composto químico: a P7C3. Como se trata de uma molécula que protege os neurônios, um tratamento baseado em P7C3 pode amenizar muito a degradação das células nervosas, característica do mal de Alzheimer, e adiar os seus efeitos mais nocivos em pessoas acima dos 60 anos.

O curioso é que os cientistas, apesar de saberem da importância da P7C3, ainda não entendem exatamente como ela funciona. A molécula foi descoberta através de um método de “abordagem indiscriminada”, que consiste de testes de tentativa e erro com outras substâncias similares. Em outras palavras, sabem que a P7C3 funciona, mas não sabem como ela atua.

Muita gente já quis esquecer algo, apagar um ponto da memória. Um futuro onde haverá um medicamento que permite isso não parece impossível, desde a descoberta da molécula “CaMKII”. Trata-se de um composto grande: quimicamente, é uma molécula mil vezes maior que o cortisol ou a P7C3. E o que torna o CaMKII especial é a suposta capacidade de causar esquecimento.

Os testes, por enquanto, foram conduzidos apenas em ratos. Verificou-se que o CaMKII, após ser injetado no cérebro dos roedores em grande quantidade, diminuía a memória de curto prazo dos animais, em experimentos relacionados ao medo em determinada situação.

O problema, no entanto, é o mesmo do cortisol: para que possa ser aplicado, é preciso haver um ponto de equilíbrio que os cientistas ainda desconhecem. Os testes com os ratos mostraram isso claramente, porque a injeção de CaMKII em excesso afetou outros pontos da memória que eles não pretendiam alterar. Se você quisesse esquecer apenas uma situação embaraçosa pela qual passou ontem, por exemplo, acabaria esquecendo também onde mora, se as doses do medicamento não estivessem corretas.

Os médicos tentam enxergar um futuro para essa aplicação, já que o CaMKII é um composto barato e que pode ser produzido em larga escala. Mas é claro que o seu uso por parte dos humanos ainda está em um futuro muito distante, porque ainda há muito a ser descoberto sobre o assunto.

Alguns psicólogos têm se dedicado a imaginar um futuro no qual o CaMKII, por exemplo, estivesse funcionando, e nós já pudéssemos de fato apagar qualquer memória indesejada. Isso pode trazer uma série de consequências sobre as quais há muito que se discutir.

Pondo em termos práticos: você gostaria de apagar a lembrança de um abuso sexual, é claro, mas será que há necessidade de apagar algo menos marcante, como um fim de namoro, um dia ruim no trabalho ou um mau resultado em um teste?

Os cientistas alertam para o fato de que as memórias (inclusive as ruins) ajudam a formar quem somos, a moldar nosso caráter e personalidade. Apagar qualquer memória à nossa escolha poderia, por exemplo, nos fazer sempre menos preparados para enfrentar aquela situação no futuro. Essa e outras consequências, que ainda estão no campo da suposição, precisam de mais estudo para que se faça um perfil do que um medicamento apaga-memória poderia proporcionar. [PopSci] [io9]

15 comentários

  • Medicina Integrativa:

    O importante não é apagar a memória ruim, mas sim saber lidar com a experiência ruim através de:
    – Ressignificação
    – Reconsideração em relação aos nossos verdadeiros propósitos existenciais
    – Fortalecimento de nossa essência em conformidade com o meio, situação ou pessoa a qual estamos lidando.
    Tudo isso resulta numa reestruturação interna para o nosso fortalecimento consciencial, o que de fato jamais ocorreria se apagássemos da memória.

  • Rock:

    Na década de 70 foi publicado um livro -Admiravel bebe novo em referência ao Admirável mundo novo- de David Rorvik que relatava perspectivas de avanços na bioquimica , genética,etc. Em determinado capítulo fazia referência à “Puromicina”, já existente ou em pesquisas, que faria as pessoas esquecerem seletivamente.Comentava do risco de governos colocarem em reservatórios de agua de populações que quisessem manipular. Citava outros “medicamentos”, chamados cronoléptogenicos, que fariam a pessoa (ou vítima) não ter mais noção de tempo e não saber se havia passado horas ou vários anos em relação a eventos de referência.Euforiantes que fariam pessoas rirem enquanto se lhes arrancava braço.Intelectualismos sem coração e seus efeitos (diria sem Deus mas devo respeitar as crenças dos demais)

    • Rafael:

      Olá Rock,

      Cara… que comentário show!! Me interessei pelo assunto. Você tem alguma referência onde posso encontrar mais detalhes sobre esse assunto além do livro que você citou?!

      Grande abraço

    • Rock:

      Olá Rafael.
      A única referência é o livro que citei e que não tenho mais.Estas coisas não são muito divulgadas…mas creio que as pesquisas continuam.

      Abraço

  • Ofecher:

    Penso que este CaMKII poderá ter grandes benefícios se analisarmos, por exemplo, sua utilização em pacientes dependentes químicos. Todavia, como tudo, têm seus riscos.

  • Joabe:

    Seria usado demais na minha sogra, sem falar nas brigas entre eu e minha mulher kkkk-

  • Zacca:

    Vamos imaginar, em uma ditadura mundial hipotética no futuro:

    Um indivíduo do grupo de uma rebelião ou algo similar. É preso, e injetado isso em quantidade para que esqueça quem é ou para que protesta ou luta…

    Então isso pode vir a ser um tipo de lobotomia moderna…
    Coisa boa, isso não é…

  • Valéria:

    Esse CaMKII seria usado não pra gente esquecer o que quiser, mas para o que a gente não deveria ter visto ou algo que não queira esquecer… se futuramente colocarem isso numa farmácia irá vender que nem água

    • igor:

      Cara isso seria um sonho tem tanta coisa que eu simplesmente queria esquecer

  • iea:

    Curioso é saber que existe as respostas para essas duvidas cientificas porém eles os cientistas sempre perguntam para os livros errados, algum desses idiotas já leu Phistis Sofia…? é uma pena saber que continuamos(falando em termos humanidade) na ignorância porque além desses idiotas não saberem o que procuram ainda continuam publicando besteiras…tentativa e erro isso é chamado de pesquisa séria?!… tentativa e erro demonstra o quanto sabem alguma coisa…doutores não sei do que, pois, tentar e errar com ferramentas que foram produzidas tbém apartir de tentativa e erro certamnete não vai dar uma resposta adequada…é uma pena que ignorantes ilustrados(cheio de diplomas) se auto intitulem de cientistas…que fazendo pesquisa por tentativa e erro achem alguma resposta realmente que vai nos tirar da ignorância e que ainda vão achar as respostas para nossos problemas…

    • H. K. Kox:

      Aguardo ansioso por suas descobertas usando os meios “corretos”.
      Falou, falou e não disse nada.
      Foi genérico e metafórico, nada de concreto.
      Elabore algo com mais conteúdo antes de querer usar esse tom, por favor.

      Sem mais.

  • eduardo:

    Eu não quero um medicamento que me faça esquecer… mas sim um que me faça lembrar de tudo… tipo pessoas com hipetimesia..

  • Roberto:

    Lembrar nunca é demais. Por isso seria melhor desinventar essa CaMKII. Entretanto o Cortizona parece bom, inclusive é um bom medicamento para tratar fobias, especialmente medo de altura.

    • igor:

      Esquecer e tão ou mais importante que lembrar.

  • Canis Majoris:

    Planeta dos macacos

Deixe seu comentário!