Luz exozodiacal é detectada por telescópio

Por , em 9.11.2014

Usando todo o poder de um telescópio enoooorme, conhecido mundialmente como Very Large Telescope Interferometer (VLTI), uma equipe internacional de astrônomos detectou luz exozodiacal perto de zonas habitáveis em torno de nove estrelas vizinhas.

Esta luz é a luz das estrelas refletida por poeira criada a partir de colisões entre asteroides, e a evaporação de cometas. A presença de grandes quantidades de poeira nas regiões do interior em torno de algumas estrelas pode representar um obstáculo visual à imagem direta de planetas semelhantes à Terra.

Como é a luz exozodiacal?

Dos locais escuros da Terra, a luz zodiacal se parece com um brilho branco difuso e fraco visto no céu à noite após o fim do crepúsculo, ou antes do amanhecer. Ela é criada, como falei ali no começo, pela luz solar refletida fora das partículas diminutas e parece se estender por toda a vizinhança. Esta luz refletida não é apenas observada da Terra. Ela ser vista a partir de todos os lugares do sistema solar. Então o que há de tão legal nisso?

O brilho observado neste novo estudo é uma versão muito mais extrema desse fenômeno, de forma que esta luz exozodiacal já havia sido detectada anteriormente, mas essa é a primeira vez que um telescópio consegue detectá-la em torno de estrelas próximas a nós.

Ao contrário das observações anteriores, a equipe não observou o pó que posteriormente se formará dentro de planetas, mas sim a poeira criada em colisões entre planetas pequenos de alguns quilômetros de diâmetro com objetos chamados “planetesimais”, que são semelhantes aos asteroides e cometas do sistema solar.

A poeira deste tipo é também a origem da luz zodiacal no sistema solar.

Para você ter uma ideia melhor desse grande avanço, usando o poder do VLTI e empurrando o instrumento aos seus limites em termos de precisão e eficiência, a equipe foi capaz de atingir um nível de desempenho cerca de dez vezes melhor do que outros instrumentos disponíveis no mundo.

Mas o que tudo isso significa?

Significa que o estudo sobre a evolução dos planetas acaba de ganhar uma nova luz.

Como explica Steve Ertel, da Universidade de Grenoble, na França, autor principal do artigo, “se quisermos estudar a evolução de planetas como a Terra perto da zona habitável, precisamos observar a poeira zodiacal na região em torno de outras estrelas” e “detectar e caracterizar esse tipo de poeira em torno de outras estrelas é uma maneira de estudar a arquitetura e evolução dos sistemas planetários”, conclui.

Detectar a tênue poeira perto da estrela central deslumbrante requer observações de alta resolução com alto contraste. A interferometria, que combina luz coletada no mesmo momento através de vários telescópios diferentes é, até agora, a única técnica que permite a observação desse tipo de fenômeno.

Para cada uma das estrelas observadas, a equipe usou o telescópio auxiliar de 1,8 m para alimentar a luz ao VLTI. Onde havia uma forte concentração de luz exozodical, eles foram capazes de determinar totalmente os discos de poeira, e separar o fraco brilho da luz dominante da estrela.

Ao analisar as propriedades das estrelas cercadas por um disco de poeira exozodiacal, a equipe descobriu que a maior parte da poeira foi detectada em torno de estrelas mais velhas. Este resultado foi muito surpreendente e levanta algumas questões que colocam em xeque a nossa compreensão dos sistemas planetários – já que qualquer produção de poeira conhecida causada por colisões de planetesimais deveria diminuir ao longo do tempo, como o número de planetesimais se reduz à medida que são destruídos.

Poeira exozodiacal

Emissão de poeira exozodiacal, mesmo em níveis baixos, torna significativamente mais difícil de detectar planetas semelhantes à Terra com imagens diretas. A luz exozodiacal detectada nesta pesquisa é um fator de mil vezes mais brilhante do que a luz zodiacal visto em torno do sol.

O número de estrelas contendo luz zodiacal ao nível do sistema solar é muito provavelmente muito mais elevado do que os números encontrados na pesquisa. Estas observações são, portanto, apenas um primeiro passo para estudos mais detalhados de luz exozodiacal.

“A alta taxa de detecção encontrada neste nível brilhante sugere que deve haver um número significativo de sistemas contendo um pó mais fraco, ainda indetectável em nossa pesquisa, mas ainda muito mais brilhante do que a poeira zodiacal do sistema solar”, explica Olivier Absil, da Universidade de Liège, coautor do estudo.

A presença de tal poeira em tantos sistemas poderia, portanto, se tornar um obstáculo para observações futuras, que visam fazer imagens diretas de exoplanetas parecidos com a Terra. [Phys]

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