O que nos torna humanos? Área do cérebro é ligada a poderes cognitivos superiores

Por , em 7.02.2014
A área está indicada em vermelho

A área está indicada em vermelho

Pesquisadores da Universidade de Oxford (Reino Unido) identificaram uma área do cérebro humano que parece diferente de tudo que existe nos cérebros de alguns dos nossos parentes mais próximos.

A área é conhecida por estar intimamente envolvida em alguns dos mais avançados mecanismos de planejamento e de tomada de decisões – características que os cientistas acreditam ser únicas dos humanos.

O professor e pesquisador Matthew Rushworth, do Departamento de Psicologia Experimental da Universidade de Oxford, explica que o corpo científico tende a pensar que nossa capacidade de planejarmos o futuro, sermos flexíveis em nosso comportamento e aprendermos com os outros são características particularmente impressionantes. “Em nossa mais recente pesquisa, nós identificamos uma área do cérebro que parece ser exclusivamente humana, e é provável que ela esteja relacionada de alguma forma a esses poderes cognitivos”, diz.

Thomas Suddendorf, professor de Psicologia da Universidade de Queensland, na Austrália, antes mesmo do anúncio do novo estudo, já concordava com os pesquisadores ao afirmar que uma das características-chave que nos faz humanos parece ser a de que podemos pensar em futuras alternativas e fazer escolhas deliberadas em conformidade com o contexto em que estamos inseridos.

Em um artigo para o jornal Huffigton Post, ele escreve: “Nossas mentes geraram civilizações e tecnologias que mudaram a face da Terra, enquanto até mesmo os animais que são nossos parentes mais próximos ainda vivem discretamente em florestas. Parece haver uma grande lacuna entre a mente humana e a animal, no entanto, tem sido notoriamente difícil entendê-la”.

A recente pesquisa da Universidade de Oxford parece dar um passo adiante neste caminho.

Imagens de ressonância magnética de 25 voluntários adultos foram utilizadas para identificar os principais componentes da área do córtex frontal ventro-lateral do cérebro humano, e como eles estão conectados com outras áreas do cérebro. Os resultados foram, então, comparados com os dados equivalentes de exames de ressonância magnética feitos com 25 macacos.

Esta área específica do córtex frontal ventro-lateral do cérebro – presente apenas em seres humanos e outros primatas – está envolvida em muitos dos aspectos mais elevados da cognição e da linguagem humana. Algumas partes desta região estão ligadas a distúrbios psiquiátricos, como o transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), a dependência de drogas ou distúrbios de comportamento compulsivo. A linguagem é afetada quando outras partes são danificadas após um derrame (AVC) ou doenças neuro-degenerativas. Uma melhor compreensão das ligações e redes neurais envolvidos deve ajudar no entendimento das mudanças no cérebro que vão junto com essas condições.

O professor Rushworth explica que o cérebro é um mosaico de áreas interligadas. “Queríamos nos focar nesta região muito importante da parte frontal do cérebro e observar quantas peças deste quebra-cabeça existem e onde elas estão posicionadas”, conta.

A partir dos dados de ressonância magnética, os pesquisadores foram capazes de dividir o córtex frontal ventro-lateral humano em 12 áreas. “Cada uma dessas 12 áreas tem seu próprio padrão de conexões com o resto do cérebro, uma espécie de ‘impressão digital neural’, que nos dá a pista de que ali acontece algo único”, descreve Rushworth.

Os pesquisadores foram capazes de comparar as 12 áreas da região no cérebro humano com a organização do córtex pré-frontal do macaco. Em geral, as regiões se mostram muito semelhantes: tanto que 11 das 12 áreas foram encontrados em ambas as espécies. A forma com que as regiões estão conectadas com as demais áreas do cérebro também é muito parecida com a organização nos humanos.

No entanto, uma área em especial do córtex frontal ventro-lateral humano não possui nenhum equivalente no macaco: uma área chamada de polo frontal lateral do córtex pré-frontal. De acordo com um dos autores do estudo, Franz-Xaver Neubert, o maior trunfo da pesquisada foi justamente descobrir uma área no córtex frontal humano que não possui equivalente algum nos macacos. “Esta área tem sido identificada com o planejamento estratégico e as tomadas de decisão, bem como a habilidade que os humanos possuem de realizar diversas tarefas ao mesmo tempo”.

O grupo de pesquisa da Universidade de Oxford também constatou que as partes auditivas do cérebro humano estão muito bem conectadas com o córtex pré-frontal. No caso dos macacos, esta conexão é bem menos intensa. Os pesquisadores sugerem que isso pode ser um ponto importantíssimo e até determinante para a nossa capacidade de compreender e produzir discursos. [Science Daily e Huffington Post]

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