Observando células assassinas no seu trabalho sinistro

Por , em 4.09.2013

A célula assassina se aproxima de sua vítima. Em seu interior, há uma grande quantidade do pacote letal da enzima perforina, que irá abrir um buraco na membrana da vítima. Subitamente, um fluxo de cálcio se estabelece na direção da vítima, e a perforina é entregue. A vítima é perfurada e comete suicídio (apoptose) em menos de dois minutos.

A assassina, ao receber sinais de que a vítima está definhando, sai para procurar outra. E mais uma vez uma célula do nosso sistema imunológico, o linfócito T citotóxico, liquida uma célula cancerígena, um processo que leva não mais que 10 minutos – 3 para aplicar o “golpe”, e 7 para se libertar do cadáver e procurar a próxima vítima.

O golpe fatal foi percebido com detalhes graças a uma técnica inovadora de visualização, desenvolvida pelos pesquisadores Joe Trapani e Ilia Voskoboinik, ambos do Peter MacCallum Cancer Centre (conhecido como PeterMac), um hospital e centro de pesquisa e tratamento de câncer em Melbourne (Austrália).

O trabalho, publicado em conjunto pelas cientistas Misty Jenkins e Jamie Lopez no The Journal of Immunology, identificou o modo exato como a célula assassina consegue liberar sua carga fatal sem ser afetada por ela — a perforina consegue romper qualquer membrana celular, até mesmo a das células T que as produzem, e poucas centenas de moléculas desta substância são suficientes para matar uma célula. O método usado pelo linfócito T para evitar ser morto pela própria perforina foi divulgado em 2011, depois de oito anos de pesquisas.

Pelo seu trabalho com visualização de como os linfócitos T matam uma célula e então se movem para o próximo alvo, Misty Jenkins foi premiada com o L’Oréal Australia and New Zealand for Women in Science Fellowship, de 25.000 dólares australianos (cerca de R$54.000,00), que ela vai usar para continuar suas pesquisas.

No seu trabalho, a Jenkins também descobriu como acontecem falhas, quando o linfócito T não consegue matar a célula cancerígena, e o que acontece em seguida: quando um linfócito não tem grânulos suficientes para matar a célula, ele fica preso a ela – isso normalmente acontece quando o sistema imunológico está sobrecarregado.

No vídeo abaixo, resultado de uma pesquisa anterior, pode-se ver um linfócito T (em verde) atacando uma célula cancerígena. Quando os pontos vermelhos no linfócito se movem em direção à vítima, significa que o linfócito a identificou como cancerígena. No final do vídeo, o linfócito é colorido de amarelo para destacar a forma como ele se concentra sobre sua vítima. O vídeo é acelerado 92 vezes para destacar a ação, e foi feito por Alex Ritter, então um estudante de PhD da Universidade de Cambridge (EUA).

[MedicaXpress, PeterMac, L’Oreál Fellowships]

13 comentários

  • Rodrigo Tavora:

    A denominação assassina é utilizada até em livros científicos, tem a ver com a forma como ela ataca outras células, não tem nenhuma relação com o artigo ser sensacionalista ou não. É só ler um texto científico e comprovar … como este … http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1415-47572013000100004&script=sci_arttext

  • Eloyr:

    Caro LF. Vc. está equivocado… Um policial que mata um bandido apenas pq. ele é mau, é SIM um assassino igual ou pior que o bandido, pelo fato de ser conhecedor e ter o dever de cumprir a lei que o manda: “PRENDER”, p/ ser julgado e se for o caso: punido. Mas se o policial matar um bandido no estrito cumprimento do seu dever, protegendo uma vítima indefesa ou a sua própria vida… JAMAIS poderá ser considerado um assassino, tanto quanto a célula protetora que vemos neste caso. Em caso correlato, se alguém invadir a sua casa e ameaçar de morte a sua família, vc. tem o direito e até o dever de protegê-los e se outro meio não houver… Até matando o agressor. A lei te faculta esta atitude e vc. não será classificado como um assassino, em hipótese alguma.

    • Anderson Thiago:

      Não existe estrito cumprimento do dever legal quando um policial mata um bandido. Ocorre no caso legítima defesa (própria ou outrem). Nenhum policial tem como dever matar alguém, mas sim a proteção dos indivíduos. E fora isto tudo, o termo assassino utilizado na matéria está correto.

  • Carlos Lacerda:

    È isso ai Eloyr, compartilhamos a mesma visão.. mas creio que é um pequeno erro de expressão que o pessoal do hypesCience vão ver e concertar.

  • Rudolf:

    Fiquei sem entender se o “linfócito T citotóxico” normalmente faz parte do organismo ou se está sendo “desenvolvido” em laboratórios para combater células cancerígenas.

    PS: Os artigos que mais chamam minha atenção são postados pelo Cesar. O interessante é que só fico sabendo disso depois de ler o artigo. VALEU!!!

    • Rudolf:

      Estas células normalmente atacam células cancerígenas? Se sim, por que o câncer continua se desenvolvendo?

    • Lourdes Milder:

      oi Rudolf! este experimento nao está sendo desenvolvido em laboratorios, ele faz parte do nosso sistema natural de defesa imunologica: tudo que é estranho, é eliminado… agora, sua pergunta: por que o cancer continua se desenvolvendo? porque algumas celulas cancerigenas tambem sabem “trapacear” e, desta forma, nao se deixam reconhecer pelo nosso sistema de defesa… é bem bacana mesmo ver o funcionamento disso tudo… abraço!

    • Marc F.B.:

      Sim, os linfócitos T citotóxicos (ou simplesmente ‘células T’) existem normalmente no corpo, e fazem parte do nosso sistema imunológico; está entre suas funções eliminar células cancerosas, patógenas que entram no corpo e outras.

      É mais frequente do que se imagina o aparecimento células com potencial cancerígeno no nosso corpo, mas quase sempre uma célula cancerosa é detectada e destruída pelas células T, antes que se tornem um tumor; porém, UMA ou OUTRA consegue passar despercebida, pois possui um sistema de camuflagem muito eficiente (e complexo demais para explicar); essas formam as doenças que conhecemos como câncer.

      Mas sem esse sistema de defesa (mesmo que quase falho), os cânceres seriam MUITÍSSIMO mais comuns do que são normalmente.

    • Rudolf:

      Obrigado, Lourdes e Marc, pela explicação 🙂

  • Eloyr:

    Se alguém puder responder a minha pergunta; por favor: Esta pesquisadora tbm. atua ou faz algum “bico” como enfermeira? Quero estar nas mãos dela… Sempre!

  • Eloyr:

    Porque classificar o linfócito T como assassino? Para chamar atenção para o artigo? Melhor seria chamá-lo de: “guardião” do nosso organismo, pois está liquidando o verdadeiro assassino: o câncer. Este é o yahoo que eu conheço.

    • Luis Fernandes:

      É evidente que a terminologia foi utilizada para chamar a atenção do leitor. Mas o uso dela, no meu entender, nada tem de ofensivo: afinal, para o bem ou para o mal, o linfócito T “assassinou”, “matou”, “exterminou” ou “inutilizou” a uma outra célula – o termo que se utiliza, pois, não tem tanta relevância quando concluímos que, afinal, uma célula deu fim à vida da outra.
      Pensar diferente levaria a concluir que um policial que deliberadamente mata um bandido, apenas porque este é mau, não teria cometido assassinato…

    • Marc F.B.:

      Mas este é o nome vulgar dado para a célula (verdadeiramente nomeada “linfótico T citotóxico” ou “linfócito TDC8+”), pois bem ou mal, é sua função assassinar células nocivas para o organismo.

      Só para ter uma ideia, existe uma parecida com esta no sistema imune, e seu nome é NK cell (célula Natural Killer).
      São, metaforicamente, as guardiãs do rei (no caso, o rei somos nós), mas não deixam de ser assassinas.

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