Quando os seres humanos começaram a usar roupas?

Por , em 19.09.2013

Determinar exatamente quando os seres humanos começaram com o hábito que perdura até hoje de usar roupas é um desafio, principalmente porque, no início, elas teriam sido feitas com peles de animais, que se degradam rapidamente. Portanto, há pouca evidência arqueológica que pode ser usada para determinar a data em que as roupas começaram a ser usadas por nossos antepassados.

Já foram desenvolvidas várias teorias diferentes, com base naquilo que os arqueólogos foram capazes de encontrar. Por exemplo, com base em pesquisas genéticas sobre cor de pele, os cientistas descobriram que os seres humanos perderam os pelos do corpo em torno de um milhão de anos atrás, momento ideal para começarem a usar roupas para manter o calor corporal.

As primeiras ferramentas utilizadas para raspar peles de animais datam de 780 mil anos atrás, mas estas peles também serviram a outros usos, tais como o fornecimento de abrigo. Acredita-se que estas ferramentas tenham sido usadas para preparar a pele justamente para abrigo, em vez de roupas. Agulhas com buraco começaram a aparecer em torno de 40 mil anos atrás. Estas ferramentas, entretanto, já representam um estágio mais complexo do vestuário humano, o que significa dizer que as roupas provavelmente já vinham sendo usadas fazia algum tempo.

Agora, cientistas começaram a coleta de dados alternativos que possam ajudar a resolver o mistério de quando nós, seres humanos, começamos a cobrir nossas vergonhas. Um estudo recente da Universidade da Flórida, Estados Unidos, concluiu que os humanos começaram a usar roupas cerca de 170 mil anos atrás, no período que coincide com o fim da penúltima era glacial. Como eles determinaram esta data? Estudando a evolução dos piolhos.

Os cientistas observaram que os piolhos de vestuário são extremamente bem adaptados à roupa. A hipótese deles é a de que os piolhos do corpo devem ter evoluído para viver em roupas, o que significava que eles não existiam antes que os humanos começassem a se vestir. O estudo utilizou o sequenciamento do DNA dos piolhos de vestuário para calcular quando eles passaram a se dividir geneticamente do resto dos piolhos.

Os resultados do estudo são importantes porque mostram que as roupas apareceram cerca de 70 mil anos antes do início da migração dos humanos do norte da África para lugares de climas mais frios. A invenção de vestuário foi, provavelmente, um dos fatores que tornaram a migração possível.

Outras espécies de Homo podem ter migrado para o norte antes do Homo sapiens, e é possível que eles tenham produzido roupas antes mesmo dos Homo sapiens, o que lhes teria permitido sobreviver em climas mais frios. No entanto, os estudos sobre os piolhos se focaram apenas no momento em que os primeiros Homo sapiens começaram a usar roupas – chegando à data de 170 mil anos atrás – e não levaram em consideração outras espécies.

Este momento histórico também faz sentido devido a fatores climáticos conhecidos daquela época. Como relata Ian Gilligan, professor da Universidade Nacional Australiana, o resultado do estudo aponta para uma data inesperadamente precoce para o vestuário, muito mais cedo do que a mais antiga evidência arqueológica sólida, mas faz sentido. “Isso significa que os seres humanos modernos provavelmente começaram a usar roupas de forma frequente para se manterem aquecidos quando foram expostos pela primeira vez às condições da Idade do Gelo”, afima.

Quanto ao momento em que os seres humanos mudaram a base de seu vestuário de pele de animais para tecidos, a primeira evidência acredita-se que seja um ancestral de feltro. A partir daí, os primeiros seres humanos desenvolveram a atividade de tecelagem cerca de 27 mil anos atrás, com base em impressões de cestas e têxteis no saibro. Há cerca de 25 mil anos, surgiram as primeiras estátuas de mulheres usando uma variedade de roupas diferentes – o que sugere que a tecnologia de tecelagem já estava a pleno vapor a esta altura.

A partir daí, civilizações antigas mais recentes descobriram muitos materiais que poderiam ser utilizados em roupas. Os antigos egípcios, por exemplo, passaram a produzir o linho em torno de 5.500 aC, enquanto os chineses provavelmente tenham começado a produzir a seda por volta de 4.000 aC.

Imagina-se que não tenha demorado muito para que o vestuário passasse a ser usado não apenas manter as pessoas quentes, mas também por motivos estéticos. O primeiro exemplo de fibras de linho tingidas foi encontrado em uma caverna na República da Geórgia, e data de 36 mil anos atrás. Entretanto, por mais que a população da época já adicionasse cor às roupas, elas ainda eram muito mais simples do que as peças que vestimos hoje, e se pareciam mais com um mero pano envolto por cima do ombro e preso na cintura.

Por volta do ano 1300, certas regiões do mundo, devido a alguns avanços tecnológicos alcançados no século anterior, começaram a apresentar roupas drasticamente diferentes das utilizadas anteriormente. Por exemplo, as roupas passaram a ser feitas para se adapatarem ao corpo humano, com costuras, curvas, rendas e botões.

Cores mais fortes e tecidos novos também foram se tornando populares na Inglaterra. A partir deste momento, a moda no Ocidente começou a mudar em um ritmo alarmante, em grande parte baseada na estética. Enquanto isso, outras culturas tiveram sua moda alterada apenas após grandes agitações políticas, ou seja, as mudanças ocorreram de forma mais lenta.

A Revolução Industrial obviamente teve um enorme impacto sobre a indústria do vestuário. As roupas podiam ser feitas em escala industrial nas fábricas em vez de apenas em casa, e podiam ser transportadas da fábrica para o mercado em tempo recorde. Como resultado, se tornaram drasticamente mais baratas, aumentando o guarda-roupa das pessoas e contribuindo para a mudança constante da moda da forma que ainda vemos hoje.

Outro resultado interessante da Revolução Industrial no vestuário foi a independência feminina. Na sua maioria, as pessoas empregadas para trabalhar em fábricas de vestuário eram mulheres. Isso permitiu a elas conquistarem um senso de independência ao ganhar seu próprio dinheiro e poder sustentar suas famílias. [Gizmondo]

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