Quem foi o primeiro ser humano?

Por , em 22.04.2014

Você tem um pai e uma mãe, e todo mundo que você conhece também. Esses pais todos também pais, e assim por diante. Mas, incrivelmente, não foi sempre assim. Simplesmente, não existe o primeiro ser humano.

Baseados em fósseis recuperados ao longo da história, cientistas estimaram uma “linha do tempo” dos nossos ancestrais (curiosidade: se juntássemos todos os nossos ancestrais em uma pilha, ela seria duas vezes maior que o Everest, montanha mais alta da Terra).

Hoje, somos o que a ciência chama de “homem moderno”, ou Homo sapiens. 20 mil anos atrás, havia o homem mesolítico. Há 200.000 anos, havia o homem paleolítico (esses homens também eram do gênero Homo, mas haviam outras espécies, como os Neandertais). Há 1,5 milhões de anos, tínhamos um hominídeo ainda mais primitivo, como o Homo erectus.

Porém, 25 milhões de anos atrás, já não temos mais um ser humano ou sequer um hominídeo; temos o Proconsul, um gênero de primatas parecidos com os atuais macacos que viveram na África.

Até aí, tudo bem. Só que, ainda mais longe, 75 milhões de anos atrás, aparece o nosso ancestral Plesiadapis, uma das mais antigas espécies de mamíferos aparentada aos primatas. Esse animal estava mais para esquilo do que algo parecido conosco. E, 160 milhões de anos para longe na nossa história, temos o Juramaia, um gênero extinto de mamífero euteriano (esse lembrava um musaranho).

E 300 milhões de anos atrás? Quem existia nessa época? O Hylonomus, o mais antigo réptil encontrado até hoje, anterior até mesmo aos dinossauros (mais tarde, esse lagarto primitivo se ramificou para os grandalhões protagonistas de clássicos como Jurrasic Park). Aliás, todos esses outros animais com quem temos uma “história conjunta” possuem suas próprias histórias, seus próprios “ramos” nessa árvore genealógica da vida.

Finalmente, 385 milhões de anos atrás, conhecemos o último de nossos ancestrais nessa retrospectiva, o Tiktaalik, gênero de peixes sarcopterígeos (que possuem barbatanas com músculo) extinto, com muitas características típicas de tetrápodes (animais de quatro patas). Ele provavelmente é um exemplo de antigas linhas de sarcopterígeos que desenvolveram adaptações a habitats pobres em oxigênio (talvez por conta de águas pouco profundas presentes no seu tempo), e que levaram à evolução dos primeiros anfíbios.

Ou seja, esses anfíbios se tornaram répteis, que depois viraram mamíferos, e primatas e hominídeos. E onde nós estamos? Quer dizer, onde se encontra o “primeiro ser humano”, o primeiro homem moderno, da mesma espécie que a gente, nessa lista?

Não há um.

Para os cientistas, é difícil dizer isso, afinal, todo Homo erectus teve pais Homo erectus e filhos Homo erectus, assim como os Tiktaalik, que vieram de Tiktaalik e produziram Tiktaalik, e todas as outras espécies que mencionamos aqui.

Não é possível apontar o momento exato em que uma espécie surgiu, porque esse momento não existe. Para ter uma ideia do que estamos falando, pense no fato de que você era um bebê, e hoje é adulto. Não existe um único dia em que você foi dormir bebê, e acordou adulto (embora tenhamos essa impressão às vezes).

E, apesar de parecer um paradoxo não haver um primeiro ser humano, essa observação é na verdade uma das chaves para entender a evolução.

A evolução ocorre de maneira rápida e gradual e, como um filme rodando, muitas vezes a gente não consegue ver a mudança enquanto ela está ocorrendo. Mas, toda vez que encontramos um fóssil, é como uma captura de tela de um ponto no passado. Essas fotografias (frequentemente com vários frames faltando entre uma e outra) nos permitem ver pontos da história e nos forçam a reconstruir, baseados nelas, o filme todo. E que filme… [It’sOkayToBeSmart]

15 comentários

  • Andriel Ferreira:

    Esta bem, você ir dormir bebê e acordar adulto é uma coisa, agora você ir dormir Hylonomus e acordar Juramaia é outra coisa.

  • Jhonatan Valim:

    Eu tenho uma dúvida. Como os estudiosos calculam à quanto tempo tal coisa aconteceu… O que eles usam? Como é possível saber que tal coisa aconteceu à tantos milhões de anos?

    • Cesar Grossmann:

      Datação radiométrica. Para materiais orgânicos recentes (acho que até alguns milhares de anos), usam a datação do Carbono-14. Para materiais mais antigos, usam outros elementos radiativos para a datação. Veja o artigo abaixo:

      Como sabemos o que e quando aconteceu

  • Lucas Leal:

    Talvez é que as espécies tenham evoluído aos poucos. Um pouco confuso, mas, verdade.

    • Cesar Grossmann:

      Existia uma teoria evolutiva pré-darwiniana que dizia que todos os seres vivos estavam a caminho de se tornarem homens ou seres humanos. Ela é do tempo que o ser humano se achava a última bolachinha do pacote (e tem gente que pensa assim até hoje).

  • Thiago Corrêa:

    Muito bom, interessante!

  • Christiane Donato:

    Olá!

    Só para você corrigir algumas datas. Segue abaixo.

    160 milhões de anos existiu o Juramaia, antes dele existiram:
    300.000 anos atrás – Hylonomus (data deveria ser em milhões)
    385.000 anos atrás – Tiktaalik (data deveria ser em milhões)
    Devem ser mudadas para milhões, já que existiram antes do Juramaia na escala de tempo geológico.

    Ótimo artigo!

    Abraço!

  • Kleber Rebouças:

    Fantástico!

  • Vinny:

    Muito boa a matéria, mas só um correção, na matéria diz “300.000 anos atrás” nesse caso lê-se 300 mil anos atrás, mas é 300 milhões de anos então devia estar: 300.000.000 de anos atrás ou 300 milhões de anos atrás.

  • José Antônio Alves Tabajara:

    “Nada de novo no front”! Que a vida animal começou na água, já sabíamos há algum tempo… A condição racional é, sim, o ponto de cogitação científica adequada à matéria, pois não existem animais meio-racionais. Trata-se pois de mutação única, restrita à espécie humana. E, considerando que nossa mente é capaz de abranger o cosmo, não será o homem um elo da consciência universal?

    • Wellington Silva:

      Qual a definição “funcional” de raciocínio para casa espécie!?

      “Nenhum organismo é superior ou inferior a outro.”

  • Cesar Grossmann:

    Uma decorrência óbvia de que a evolução acontece com populações, e acontece gradativamente. Não houve um humano, mas uma longa linhagem de animais que foi modificando gradualmente até ser o que é hoje. E continua mudando, mas você não vai ver esta mudança se comparar teu tataravô com teu tataraneto – é muita pouca variação para fazer diferença em meia-dúzia ou pouco mais de gerações.

    • Genioso Irreligioso:

      Por isso há quem não entenda e desmereça a evolução: o camarada queria ver “evolução” de pai pra filho ou de geração pra geração! Queria ver o ser humano evoluindo pra outra coisa! 😮

    • Cesar Grossmann:

      O interessante que se de um ovo de réptil nascesse uma ave (por exemplo), esta seria uma prova de que não existe evolução. Curiosamente o tipo de prova que os criacionistas querem ver para “acreditar na evolução”.

      Não é bizarro?

  • Joao Carlos Agostini:

    Legal o artigo.
    Mas rever o texto deixa ele ainda melhor. É 2 x maior que o Monte Everest, e são 300 milhões de anos e não mil, e, também, são 385 milhões e não mil. Não há mais a classificação Homo sapiens sapiens é apenas Homo sapiens.
    Mas agradeço o esforço, o filme é muito legal.
    Abs.

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