Talento demais pode prejudicar equipes esportivas?

Por , em 9.07.2014

A ciência parece ter encontrado uma explicação para o fato de supertimes nem sempre se darem bem nas competições esportivas: talento demais. Isso mesmo.

Uma nova pesquisa indica que, após um certo ponto, a adição de mais superestrelas em uma equipe pode realmente ser prejudicial, resultando em pior desempenho do conjunto. Lembra da seleção brasileira na Copa de 2006, que tinha Kaká, Adriano, Ronaldinho, Ronaldo? Pois é.

A pesquisa, liderada pelo professor Roderick Swaab, da escola internacional de negócios INSEAD, mostra que a presença de muitos indivíduos muito talentosos pode minar a disposição dos jogadores para coordenarem as ações como um time, o que pode comprometer a eficácia do trabalho em equipe e o desempenho geral. Os resultados também revelam, porém, que a maioria das pessoas supõem o contrário, acreditando que acumular talento é a chave para o sucesso da equipe.

“A maioria das pessoas acredita que a relação entre talento e desempenho da equipe é linear – quanto mais sua equipe está repleta de talento, melhor ela vai se sair. No entanto, esta pesquisa documenta um efeito ‘talento demais’, que revela que, para as equipes que exigem altos níveis de interdependência, como no futebol e no basquete, o talento facilita o desempenho da equipe, mas só até certo ponto. Além deste ponto, os benefícios da adição de mais talentos vão diminuir e, eventualmente, prejudicar o desempenho da equipe porque eles não conseguem coordenar suas ações”, explica Swaab.

A pesquisa indica que o efeito talento demais só emerge em esportes que exigem um alto nível de interdependência entre os jogadores. Para esportes mais individualistas, como o beisebol, por exemplo, níveis muito elevados de talento não parecem prejudicar o desempenho.

Voltando ao exemplo de 2006: a seleção brasileira daquela Copa tinha, pelo menos, quatro jogadores espetaculares do meio para frente, mas que nunca conseguiram funcionar como um time. Parecia que cada um anulava o talento do outro. Naquele mesmo mundial, a final foi entre França e Itália. Se olharmos a parte ofensiva daqueles times, ambos possuíam um grande destaque no meio campo – Andrea Pirlo e Zinedine Zidane – e alguns excelentes coadjuvantes, que poderiam desempenhar o papel de estrelas, como Thierry Henry, pelo lado francês, e Francesco Totti e Alessandro Del Piero, pelo lado italiano, mas que não estavam exatamente no auge de suas carreiras.

O resto das escalações de ambos os times era formada pelos famosos “carregadores de piano”: não tão badalados, mas eficientes nas suas tarefas. Obviamente, esta não é uma regra absoluta. A seleção brasileira de 1970 é um bom exemplo disso.

“Na Copa do Mundo de 2014, há muitos times com uma lista de titulares impressionante, com os melhores jogadores do mundo atuando. No entanto, os treinadores que simplesmente montarem seus times com as supersestrelas à disposição podem, ao contrário da crença popular, voltar para casa mais cedo”, alerta Swaab.

Enquanto treinadores e comissões técnicas estão acostumados a lidar com esse tipo de situação, a lição pode ser levada para a sala de reuniões de grandes empresas.

“Como as equipes esportivas, as equipes nas organizações variam em seus níveis de interdependência. Quando o sucesso da equipe só depende da acumulação de desempenho individual (por exemplo, nas equipes de vendas), a empresa pode se concentrar em obter os indivíduos mais talentosos a bordo”, explica Swaab. “No entanto, essas mesmas estratégias podem prejudicar a coordenação de forma eficaz quando o sucesso da equipe depende de altos níveis de interdependência, como, por exemplo, nas equipes de estratégia. Quando a interdependência entre os membros da equipe é alta, as organizações poderiam contratar uma mistura de indivíduos com talento acima da média e outros com potencial dentro da média, ou investir mais na formalização dos papéis, graus e responsabilidades”, sugere.

A pesquisa foi realizada utilizando os dados dos período das eliminatórias da Copa do Mundo FIFA de 2010 e 2014 e das temporadas entre 2002 e 2012 da Associação Nacional de Basquetebol dos Estados Unidos (NBA) e da Major League Baseball (MLB), também nos EUA. Uma quantidade sem precedentes de informações, incluindo dados de coordenação dentro dos campos e das quadras, permitiu a mensuração de desempenho das equipes em relação à quantidade de talento que elas tinham na teoria. [Phys]

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