8 experimentos mentais filosóficos desenhados para expandir sua mente

Por , em 17.01.2018

Já falamos aqui no Hype sobre as experiências de pensamento. Ao invés de realizar experimentos físicos, reais, como outros cientistas, filósofos realizam o que chamamos de experimentos mentais, raciocínios lógicos a respeito de acontecimentos fictícios, que podem ter suas consequências exploradas pelo nosso pensamento e pela nossa imaginação.

Essas “histórias curtas” trazem importantes insights. A partir delas, os filósofos podem aprender algo novo sobre a natureza humana, sobre a realidade, sobre o certo e o errado, sobre a existência de Deus e muitos outros tópicos.

A filósofa Helen de Cruz, que também possui conhecimento em arte, decidiu criar uma série que ilustra experimentos mentais de várias tradições.

Seus desenhos foram feitos com o aplicativo Paper 53 para iPad e um lápis Apple Pencil, e compartilhados por ela no portal The Bored Panda. Confira oito deles:

O tom ausente de azul (David Hume)


O experimento mental: um homem viu todas as cores, exceto um tom particular de azul. Mas como ele viu outros tons desta cor, se ele os organizasse em sua mente, ficaria claro que há uma lacuna entre eles. Ele poderia preencher essa lacuna (essa cor) usando sua própria imaginação?

A relevância dessa discussão: o filósofo britânico David Hume criou esse experimento mental como um contraexemplo da ideia de que aprendemos sobre o mundo através da experiência. Se esse fosse o caso, não deveríamos preencher o tom de azul com nossas mentes, mas parece que podemos. Curiosamente, porém, quando Helen de Cruz apresentou seu desenho para amigos, eles acharam que o suéter do homem era o tom ausente de azul, e não era. Então, talvez não seja tão fácil assim preencher lacunas de conhecimento somente com a imaginação.

A máquina de experiências (Robert Nozick)


O experimento mental: a máquina de experiências é um dispositivo especial que pode lhe dar qualquer experiência que você gostaria: quer ser um jóquei famoso ou um escritor? Gostaria de ter muitos amigos? A máquina faria você acreditar que isso realmente está acontecendo, enquanto você está na verdade apenas flutuando em um tanque, com eletrodos anexados ao seu cérebro. Você se conectaria a esta máquina pelo resto da vida? Sua vida seria pré-programada para maximizar seu prazer e, enquanto você estivesse conectada, pensaria que tudo era real.

A relevância dessa discussão: o que é felicidade? Os filósofos discutem esta questão há muito tempo. Um dos ângulos possíveis é se perguntar se a felicidade é mais do que o prazer. Intuitivamente, parece que o prazer pode ser suficiente para a felicidade. Esta posição é chamada de hedonismo. Mas o experimento criado pelo pensador norte-americano Robert Nozick desafia essa ideia. Se o prazer fosse suficiente, todo mundo se conectaria nessa máquina em um piscar de olhos. Mas a maioria de nós hesitaria. Isto acontece, de acordo com Nozick, porque queremos mais da vida: temos projetos e objetivos, e se conectar a uma máquina para viver uma existência falsa não é uma forma de realizá-los. Isso parece sugerir que o hedonismo está errado.

A criança no poço (Mêncio)


O experimento mental: Este é o caso de uma criança que está prestes a cair em um poço, e você está observando a cena. Sem exceção, você se sentiria alarmado e angustiado. Isso não aconteceria porque você espera impressionar os pais da criança e ganhar o louvor dos vizinhos e amigos, ou porque você não gosta dos gritos da criança, ou porque sua reputação sofreria se você não tentasse ajudar a criança.

A relevância dessa discussão: o filósofo Mêncio conclui com esse experimento que o sentimento de compaixão é fundamental para os seres humanos. Nascido na China no século IV aC, Mêncio seguia a tradição de Confúcio. Ele desenvolveu a teoria de que os seres humanos têm quatro raízes ou moralidades: ren (humanidade, compaixão), yi (justiça), li (propriedade ritual) e zhi (sabedoria). Essas raízes estão presentes em todos os seres humanos, mas precisam ser cultivadas para florescer, assim como as plantas precisam de água para crescer. Este experimento mental explora a ideia de que os humanos são intrinsecamente compassivos (ou seja, possuem ren).

Bela Adormecida (Adam Elga)


O experimento mental: a Bela Adormecida faz parte de um experimento no qual pesquisadores colocam uma mulher para dormir. Ela é informada de que uma moeda será lançada. Toda vez que ela é despertada, é colocada de volta para dormir com uma droga que a faz esquecer que acordou. Os pesquisadores lançam a moeda. Se der coroa, ela será brevemente despertada na segunda e terça-feira. Se der cara, ela só será despertada na segunda-feira. Quando ela acorda na segunda-feira, sem saber que dia é, qual crença deve ter de que a moeda deu cara?

A relevância dessa discussão: quando se trata de lançar moedas, pensamos sempre que a chance de a moeda dar cara é de 50%, afinal, essa é a probabilidade “padrão”. Mas o professor de filosofia da Universidade Princeton (EUA) Adam Elga acredita que, do ponto de vista da Bela Adormecida, a probabilidade deve ser de cerca de 33% (1/3). Ela não sabe se é segunda ou terça-feira, então ela deve pensar que pode ser qualquer um desses dias. Dado que ela pode estar acordada porque deu coroa e é terça, deu coroa e é segunda ou deu cara e é segunda, a probabilidade de cada uma é 1/3.

Otto e Inga visitam um museu (Andy Clark e David Chalmers)


O experimento mental: Otto e Inga querem visitar o Museu de Arte Moderna. Otto tem doença de Alzheimer. Ele consulta um caderno que sempre carrega com ele. Seu caderno desempenha o mesmo papel que a memória biológica geralmente desempenha. O caderno diz que o museu fica na rua 53º. Inga consulta sua memória biológica e forma a mesma crença. Parece que Inga tem uma crença (tácita) sobre o lugar onde o museu fica antes de recuperá-lo de sua memória biológica. E quanto a Otto? Embora não esteja armazenada em seu cérebro, mas em um caderno, podemos dizer que a informação de Otto sobre a localização do museu é uma crença?

A relevância dessa discussão: esse conceito foi criado por Andy Clark e David Chalmers em “The Extended Mind”. A questão trabalhada pelos autores é a seguinte: os pensamentos são apenas coisas que acontecem em nossos cérebros, ou também no mundo? Parece, neste caso, que o caderno de Otto funciona exatamente do mesmo modo que o cérebro de Inga. Então, se chamarmos a memória de Inga da localização do museu de crença, devemos chamar a de Otto também, mesmo que não esteja em seu cérebro. É possível argumentar que a lembrança de Otto não é uma crença, porque alguém poderia manipular ou roubar seu caderno. Mas o cérebro de Inga também pode ser afetado, por exemplo, quando ela está embriagada.

O jardineiro invisível (John Wisdom)


O experimento mental: duas pessoas retornam ao seu grande jardim esquecido e negligenciado. Embora pareça selvagem, ainda há flores em excelente estado. Um deles diz: “Deve haver um jardineiro trabalhando aqui”. O outro responde: “Eu não penso assim”. Para ver quem está certo, eles examinam cuidadosamente o jardim e perguntam aos vizinhos, que nunca viram ninguém trabalhando nas plantas. Eles também pesquisam o que acontece com jardins que ficam sem cuidado. “Você vê”, diz o cético, “não há jardineiro”. O crente responde: “Este jardineiro é invisível, e se olharmos com mais cuidado, encontraremos provas de que ele vem, mesmo sem ser visto ou ouvido”. O cético continua pensando que não há nenhum jardineiro. Essa disputa pode ser resolvida?

A relevância dessa discussão: o filósofo britânico John Wisdom criou este experimento como uma analogia sobre a existência de Deus, e como as pessoas podem ver a questão de maneira diferente. Um teísta pode ver o design, um ateu não. A questão é em que medida podemos ver algumas características da realidade como evidência a favor ou contra a existência de Deus. É realmente uma disputa sobre fatos, ou duas formas diferentes de olhar para o mundo, como um jardim florido ou como uma área selvagem?

O nobre russo (Derek Partif)


O experimento mental: um nobre russo jovem e idealista pretende dar suas propriedades aos camponeses quando herdá-las. Ele também percebe que seus ideais podem mudar. Portanto, ele coloca essa intenção em um documento legal que só pode ser revogado por sua esposa, e pede-lhe que ela lhe prometa que não consentirá em revogar o documento se ele mudar de ideia mais tarde. Ele mesmo diz que esses ideais são essenciais para ele: “Se eu perder esses ideais, quero que você pense que eu deixo de existir”. Agora, suponha que, mais tarde, na meia idade, o nobre russo de fato peça a sua esposa para revogar os documentos. O que ela deveria fazer?

A relevância dessa discussão: essa reflexão foi levantada pelo filósofo britânico Derek Parfit, e é um enigma sobre identidade pessoal. O nobre russo velho é o mesmo que o jovem? Sua esposa deveria ser liberada de sua promessa?

O homem flutuante (Avicena)


O experimento mental: imagine um homem trazido à existência já adulto, se materializando do ar, então ele não tem memórias anteriores. Ele está flutuando, seus olhos estão fechados, ele não ouve nada, e seus membros e dedos estão espalhados de forma que ele sequer sente seu próprio corpo. A questão é: este homem está ciente de si mesmo?

A relevância dessa discussão: este experimento mental ocorre em vários escritos do filósofo persa Ibn Sina, mais conhecido como Avicena. A questão que ele aborda é se somos a mesma coisa que nossos corpos. Avicena pensa que este não é o caso, porque o homem flutuante, apesar não sentir seu corpo, estaria ciente de algo. Não pode ser de nenhuma experiência corporal, e ele também não tem memórias. Portanto, a consciência deve ser de sua alma. [BoredPanda]

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