Um tronco enterrado de qua 4 mil anos demonstra como podemos combater as mudanças climáticas

Por , em 1.10.2024
Cientistas desenterraram esta peça de madeira com 3.775 anos que manteve pelo menos 95% de seu carbono, graças a uma camada de solo argiloso que a cobria. (Ning Zeng)

Um tronco milenar mostra como enterrar madeira pode ajudar no combate às mudanças climáticas
Dois metros de solo argiloso mantiveram um tronco conservado por aproximadamente 3.775 anos.

Cientistas desenterraram recentemente uma peça de madeira com mais de 3.000 anos de idade que, surpreendentemente, ainda preserva 95% de seu carbono original. A chave para essa preservação: uma espessa camada de solo argiloso que isolou a madeira do oxigênio, evitando sua decomposição.

O cientista climático Ning Zeng, da Universidade de Maryland, foi quem fez a descoberta em 2013, enquanto trabalhava em um projeto na província canadense de Quebec. Ele e sua equipe estavam escavando uma trincheira que planejavam encher com 35 toneladas de madeira, cobrí-la com terra e deixá-la repousar por nove anos. A ideia era testar se a madeira enterrada realmente não se degradaria, sugerindo uma nova forma de armazenar carbono a baixo custo. No entanto, durante a escavação, eles encontraram algo inesperado: um tronco muito mais antigo do que o planejado.

A Simplicidade de Enterrar Madeira: Um Cofre Natural de Carbono

Zeng lembra-se de ficar imóvel, admirado, diante do achado. O tronco era uma prova real do conceito que estavam prestes a testar. Uma árvore da espécie cedro-vermelho-oriental havia absorvido dióxido de carbono do ar e transformado em madeira cerca de 3.775 anos atrás, e o solo argiloso que a cobriu preservou quase todo o carbono capturado. “O experimento já estava ali na nossa frente”, pensou Zeng.

Pesquisadores relatam que essa descoberta, publicada em setembro de 2024, reforça a viabilidade de enterrar madeira como solução para o armazenamento de carbono. Cientistas e empresários têm explorado essa ideia há anos, mas agora, com evidências tão sólidas, esse método pode realmente ser um dos caminhos viáveis para combater as mudanças climáticas. Daniel Sanchez, da Universidade da Califórnia, Berkeley, não envolvido diretamente no estudo, também acredita que métodos duradouros e de baixo custo como esse são promissores para enfrentar o aquecimento global.

Um Futuro de Soluções Simples

Esse tipo de solução torna-se ainda mais crucial quando se considera que reduzir emissões de gases de efeito estufa sozinhas pode não ser suficiente. De acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, apenas conter as emissões não basta. Além disso, será necessário capturar e armazenar cerca de 10 gigatoneladas de carbono por ano até 2060 para atingir as metas globais. Embora as plantas absorvam cerca de 220 gigatoneladas de dióxido de carbono anualmente ao crescerem, grande parte desse carbono retorna à atmosfera durante o processo de decomposição. Ao evitar parte dessa decomposição, enterrando madeira, seria possível contribuir de forma significativa para a retenção de carbono.

A descoberta desse tronco milenar oferece pistas valiosas sobre as condições necessárias para preservar a madeira por milhares de anos. Zeng suspeita que o solo argiloso encontrado na região canadense, sendo praticamente impermeável, impediu o contato do oxigênio com o tronco, preservando-o. Esse tipo de solo é mais comum do que se imagina. Portanto, bastaria cavar um buraco de alguns metros, enterrar madeira e permitir que ela ficasse intocada por séculos, mantendo seu carbono intacto.

Por Que Funciona?

Enterrar madeira, segundo os pesquisadores, poderia custar entre 30 e 100 dólares (aproximadamente R$ 150 a R$ 500) por tonelada de dióxido de carbono. Comparado à tecnologia de captura direta de carbono do ar, que custa de 100 a 300 dólares (aproximadamente R$ 500 a R$ 1.500) por tonelada, esse método simples e econômico oferece uma alternativa interessante. Os cientistas estimam que, se as condições que preservaram o tronco canadense puderem ser replicadas, seria possível sequestrar até 10 gigatoneladas de carbono por ano, utilizando madeira descartada ou proveniente de colheitas sustentáveis.

Apesar de encontrarem esse exemplar ancestral, a equipe de Zeng continuou com seu experimento planejado e está agora na fase final de análise, buscando aperfeiçoar as práticas. No entanto, o tronco em si já é uma evidência suficiente de que a técnica de enterrar madeira pode ser implementada de forma eficaz. Para Zeng, as conclusões são claras: “Estamos prontos para usar esse método.”

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