Arqueólogos encontram 12 esqueletos em tumba secreta sob o Tesouro de Petra, Jordânia

Por , em 16.10.2024
Petra, na Jordânia. Foto de Giuseppe Milo

Petra, na Jordânia, conhecida como “cidade rosa” esculpida nas rochas, acaba de ganhar mais um capítulo fascinante em sua longa história. Durante uma escavação no Tesouro (ou Al Khazneh), arqueólogos localizaram uma tumba oculta contendo 12 esqueletos surpreendentemente bem preservados. A descoberta promete lançar nova luz sobre os misteriosos costumes dos antigos nabateus, um povo que deixou sua marca no deserto há mais de dois milênios.

Segredos sob as areias: uma tumba e 12 histórias esquecidas

Sob o icônico Tesouro, que atrai milhões de visitantes anualmente e já apareceu no clássico Indiana Jones e a Última Cruzada, arqueólogos revelaram uma câmara mortuária cuidadosamente escondida. Encontrar ossadas completas em Petra é um verdadeiro golpe de sorte: outras tumbas da região raramente apresentam esqueletos inteiros, e quando há algo, trata-se de fragmentos desgastados pelo tempo.

Richard Bates, especialista em geofísica da Universidade de St Andrews, na Escócia, participou da equipe de escavação. Ele comenta que a análise das estruturas ósseas e dentárias permitirá entender aspectos cotidianos do povo nabateu — desde sua dieta até as doenças que enfrentaram. Como os ossos mantêm um registro químico dos alimentos consumidos, estudos futuros poderão até indicar se eles se deliciavam com iguarias como tâmaras e mel ou se enfrentavam longos períodos de escassez.

A descoberta só foi possível porque um time de especialistas locais obteve uma rara autorização para explorar o subsolo do Tesouro. Bates utilizou radar de penetração no solo, identificando um espaço oco a cerca de 5 metros de profundidade. Com paciência e cuidado, os pesquisadores escavaram até revelar a câmara funerária, que mede aproximadamente 5,5 metros de largura por 2,7 metros de altura.

Da era dos nabateus ao domínio romano: um vislumbre de 2.000 anos

Entre os doze corpos desenterrados sob o Tesouro de Petra, um esqueleto chamou atenção dos arqueólogos. Fonte: Expedition Unknown

Os arqueólogos acreditam que a tumba data de um período entre o primeiro século a.C. e o primeiro século d.C., época em que Petra florescia como capital do Reino Nabateu. Este povo misterioso, famoso por esculpir estruturas grandiosas nas rochas cor-de-rosa, governou a região por cerca de 400 anos até ser anexado pelo Império Romano em 106 d.C.

Embora o Tesouro seja frequentemente chamado de mausoléu, há muita especulação sobre sua verdadeira função. A arqueologia moderna sugere que além de rituais funerários, o local pode ter servido como um espaço sagrado, utilizado em celebrações relacionadas à vida e à morte.

Curiosamente, uma das descobertas mais intrigantes foi um esqueleto segurando um vaso de cerâmica que lembra muito o famoso cálice retratado em Indiana Jones. A equipe não perdeu a oportunidade de fazer uma piada interna sobre ter encontrado o “Graal” em plena Petra, embora saibam que o valor da peça é histórico, não mágico.

Tumbas, turismo e a corrida por financiamento

As escavações no Tesouro remontam a 2003, mas o projeto foi interrompido por falta de recursos. Apenas em 2024, com o apoio de uma nova equipe liderada por Pearce Paul Creasman, do Centro Americano de Pesquisa, os trabalhos puderam ser retomados. A descoberta é agora tema de um episódio do programa Expedition Unknown, do Discovery Channel, gerando grande expectativa sobre os próximos passos da pesquisa.

O próximo desafio da equipe será levantar recursos para realizar estudos detalhados nos esqueletos. Bates afirma que apenas a exumação e análise completa de um corpo já exigirá investimento significativo. Ele estima que há outros túmulos ainda não explorados na área e, para confirmar essas suspeitas, serão necessários mais equipamentos de alta tecnologia — e, claro, dinheiro.

Na tumba, os arqueólogos descobriram uma peça de cerâmica milenar. Fonte: Expedition Unknown

O arqueólogo prevê que o projeto demandará financiamento internacional, dado o custo elevado de escavações arqueológicas e análises laboratoriais aprofundadas. Para os corpos, serão feitas tomografias e estudos isotópicos, que podem revelar detalhes surpreendentes, como as regiões onde os indivíduos nasceram ou o tipo de água que consumiam ao longo da vida.

Ecos do passado: como a ciência moderna transforma descobertas antigas

Além de saciar a curiosidade sobre a vida dos nabateus, a descoberta abre caminho para novas interpretações sobre a função das tumbas em Petra. A presença de 12 corpos completos sugere que a tumba pode ter abrigado não apenas uma família nobre, mas talvez um grupo com importância ritual ou simbólica para a sociedade local.

A bioarqueologia — área que estuda restos humanos antigos — poderá desvendar novos detalhes sobre os rituais funerários e a saúde dos nabateus. A análise dos dentes, por exemplo, indicará se a população local sofria com deficiências nutricionais. Caso sejam encontrados sinais de desgaste dentário, isso pode sugerir uma dieta rica em grãos não processados, comuns na região naquela época.

Por enquanto, o projeto aguarda novos patrocínios, e o mistério sobre o que mais pode estar escondido sob Petra continua. Se há uma lição que a arqueologia ensina, é que o passado nunca é totalmente revelado — e cada descoberta traz mais perguntas do que respostas. Como brinca Bates, “achar um corpo em Petra é como encontrar uma agulha em um palheiro… e nós acabamos de achar 12.”

A cidade de Petra, além de ser Patrimônio Mundial da UNESCO, é um exemplo fascinante de como ciência, história e aventura podem se misturar. No ritmo certo, essa descoberta pode ser apenas o início de um projeto ambicioso que revelará mais segredos da antiga civilização nabateia, escondidos por milênios nas areias do deserto da Jordânia. [NPR]

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