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A homeopatia é tão implausível quanto parece?

Geralmente a ciência ocidental é rápida em chamar de besteira qualquer “medicina alternativa”, mas existe uma diferença entre o que não foi provado que funciona e o que não pode funcionar de jeito nenhum.

Com o avanço das ferramentas de investigação da ciência, algumas práticas alternativas foram, em parte, reabilitadas. Um exemplo é a meditação, que era considerada puro misticismo, mas que técnicas de mapeamento da atividade do cérebro mostraram que pode melhorar a estrutura e funcionamento do cérebro (e promover bem-estar físico, mental, etc…).

Mas e a homeopatia? Criada por um médico alemão perto do início do século 19, ela tem crescido desde então. Será que ela é simplesmente algo que não foi testado e injustamente tem sido estigmatizada, ou ela é completamente implausível?

Para responder à pergunta, vamos dar uma olhada nos seus princípios. Vamos ignorar algumas noções homeopáticas, como a de que as doenças sejam causadas por distúrbios na “força vital” do paciente, em vez de algo externo, como bactérias ou vírus. Vamos nos focar no que mais importa: se o medicamento realmente melhora a saúde das pessoas.

Os medicamentos homeopatas são formulados de acordo com alguns princípios, chamados por alguns de “leis”. A primeira destas “leis” é que “semelhante pelo semelhante se cura”, ou seja, uma substância que produz os mesmos sintomas em uma pessoa saudável vai curar uma doença que tenha aqueles sintomas.

Este princípio, por assim dizer, apesar de baseado em teorias místicas, está incorporado na medicina ocidental na forma das vacinas, que são compostas de pelo menos partes da doença para a qual previnem.

Outra noção da homeopatia que é comum à medicina é a atenção às dosagens nos tratamentos. Todos os medicamentos homeopáticos aparecem em muitas concentrações diferentes. Mas há uma grande diferença: as concentrações são diminutas. Em homeopatia, menos é mais, então os homeopatas pensam grandes doses em termos de grandes diluições (menos princípio ativo), e não de grandes concentrações (mais princípio ativo).

Potência e homeopatia

A ideia de que uma dose menor de droga tenha um efeito melhor que uma dose maior vai contra todas as descobertas da medicina e da farmacologia. A contradição é problemática, mas não serve para eliminar a plausibilidade da homeopatia. A falha fatal está no tanto que a homeopatia dilui as substâncias.

A maioria dos medicamentos está disponível a concentrações máximas (ou diluição mínima) de 6X. Um remédio nesta concentração contém somente 1 micrograma (um milionésimo de um grama) do componente ativo. Para colocar em perspectiva, é 1/20 de uma dose de LSD (20 microgramas), 1/5000 da dose de morfina (5 mg) e 200.000 mais diluído que Ibuprofeno (200mg), um anti-inflamatório e analgésico comum.

Existem substâncias cujos efeitos ainda se fazem sentir com diluições maiores que 6X. A toxina botulínica, por exemplo, é letal (quando ingerida) a uma dose de 80 nanogramas, ou cerca de 4% de um medicamento homeopático 6X. E o corpo humano produz quantidades mínimas de várias substâncias químicas cujo efeito é um mistério para a ciência.

O problema é que a maior parte dos medicamentos homeopáticos são vendidos em diluições muito maiores que 6X. Em um site de medicamentos homeopáticos popular, o enxofre está disponível em 13 diluições diferentes, e a terceira mais diluída é 30X, o que está bem além do ponto onde a plausibilidade cai por terra.

Uma dose de um medicamento de concentração 21X contém apenas 20 moléculas do material original. Depois de uma nova diluição, só tem duas moléculas. Na diluição 23X, você tem uma chance de 20% de que uma dose do medicamento tenha uma única molécula do ingrediente ativo. Em uma diluição de 30X, a chance que uma dose tenha uma molécula do componente ativo é uma para cem milhões.

Delírios homeopáticos

Existem tratamentos homeopáticos disponíveis que são vendidos em diluições até mais absurdas. Oscillococcinum, um remédio popular contra gripe, derivado do fígado de patos e feito pela Boiron, um fabricante francês de medicamentos homeopáticos, é vendido em diluições de 400X. É uma proporção menor de ingrediente ativo do que uma gota d’água em todo o oceano.

Nesta concentração baixa, para garantir que você ingira uma única molécula do composto ativo, você teria que engolir 10380 pílulas – muito, muito mais pílulas que o número de átomos em todo o universo. Isso, sim, é bastante implausível. Imagine que no frasco do Oscillococcinum cabe toda a água de todos os oceanos da Terra. Neste caso não haveria sequer UMA GOTA de princípio ativo dentro deste colossal frasco.

No fim das contas, se a homeopatia realmente funciona ou não, fica a critério de quem opta por esse tipo de medicamento. Como muitos estudos clínicos em que pessoas que tomaram placebo obtiveram melhoras, nada parece totalmente impossível. [PopSci]

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