Água vazando para o núcleo da Terra pode ter originado uma camada misteriosa que produz cristais

Por , em 28.11.2023

Descobertas científicas recentes apontam para a origem de uma camada única, repleta de cristais, em torno do núcleo da Terra. Esta parece ter se formado a partir de água que “vaza” da superfície terrestre e interage com a composição metálica do núcleo.

Na década de 1990, geólogos identificaram uma camada fina envolvendo o núcleo externo da Terra, que foi batizada de camada E-prime ou E’. Esta camada, com mais de 100 quilômetros de espessura e situada a cerca de 2.900 quilômetros abaixo da superfície, é mais delgada em comparação com outras camadas do interior terrestre.

Anteriormente, houve teorias que propunham que essa camada teria se originado de remanescentes de magma rico em ferro dos primórdios da Terra, vindo do núcleo interno, ou como resultado de um impacto gigantesco com um protoplaneta, que também deu origem à Lua. Porém, essas hipóteses não foram amplamente aceitas na comunidade científica.

Um estudo recente, publicado na revista Nature Geoscience em 13 de novembro, propõe que a camada E’ pode ter sido formada por água que se infiltra da superfície da Terra através de placas tectônicas subduzidas, interagindo então com a superfície metálica do núcleo externo.

De acordo com essa nova teoria, a camada E’ poderia ter gerado uma quantidade significativa de cristais de sílica como resultado dessa interação, que posteriormente se integrariam ao manto – a camada espessa de magma situada entre o núcleo externo e a crosta terrestre da Terra.

Neste estudo, os pesquisadores realizaram experimentos para simular como a água poderia reagir com o núcleo externo sob alta pressão. Esses experimentos indicaram que o hidrogênio da água poderia substituir a sílica no metal líquido, levando à expulsão da sílica na forma de cristais. Isso sugere que a camada E’ provavelmente é rica em hidrogênio, mas pobre em sílica, desafiando as crenças anteriores sobre sua composição.

Os cientistas estimam que a camada E’ pode ter levado mais de um bilhão de anos para atingir sua espessura atual, o que sugere que ela pode ser mais antiga que o núcleo interno, que solidificou aproximadamente no mesmo período.

Essa descoberta indica que pode haver lacunas em nosso entendimento atual sobre as interações entre o núcleo externo e o manto da Terra.

Em uma descoberta anterior, em setembro de 2022, os mesmos pesquisadores sugeriram que a água que vaza poderia estar interagindo com grandes depósitos de carbono no núcleo externo, potencialmente formando imensas áreas produtoras de diamantes perto do limite entre o núcleo e o manto.

Dan Shim, geocientista da Arizona State University e coautor do estudo, comentou que esses achados desafiam a crença de longa data de que a troca de material entre o núcleo e o manto da Terra é mínima. As descobertas apontam para uma interação núcleo-manto muito mais dinâmica, sugerindo uma troca substancial de materiais.

Além disso, essas pesquisas ampliam nossa compreensão sobre os processos geológicos profundos da Terra. Ao estudar a camada E’, os cientistas estão desvendando mistérios sobre a formação e a evolução do nosso planeta. A descoberta de que água da superfície pode chegar tão profundamente abaixo da crosta terrestre e interagir com o núcleo externo abre novas perspectivas sobre o ciclo da água na Terra e seu impacto nos processos geológicos.

Esses avanços na geologia proporcionam uma visão mais detalhada dos processos internos do planeta, permitindo uma melhor compreensão de fenômenos como vulcanismo, terremotos e movimento das placas tectônicas. A pesquisa sobre a camada E’ não apenas desafia as teorias existentes, mas também estimula novas perguntas e investigações no campo da geociência.

À medida que avançamos no conhecimento sobre o interior da Terra, continuamos a descobrir a complexidade e a dinâmica do nosso planeta. Cada nova descoberta nos leva um passo adiante na compreensão das forças profundas que moldam a Terra e influenciam a vida na superfície. [Space]

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