“Ajudinha” que só atrapalha? Professores exigem menos de estudantes das minorias raciais

Por , em 15.05.2012

Um novo estudo descobriu que as minorais raciais podem estar recebendo feedbacks mais positivos e menos críticos de seus professores. Seria essa uma maneira de “compensar” outros preconceitos?

A pesquisa foi conduzida nos estados americanos de Nova York, Nova Jérsei e Connecticuti. Os cientistas analisaram 113 professores brancos de escolas de ensino fundamental e médio de locais variados, como escolas públicas, bairros majoritariamente brancos, ou racialmente mistos, etc.

O estudo concluiu que os professores dão um feedback (uma correção) menos crítica a estudantes negros ou latinos, em comparação aos brancos. Claro que esse feedback é útil e tem a intenção de ajudar o aluno, mas ainda assim, o maior problema é que, por não serem mais “duros”, eles podem impedir um maior crescimento por parte de alunos da minoria racial.

“As implicações sociais destes resultados são importantes. Muitos estudantes minoritários podem não estar recebendo conselhos de seus instrutores que estimulem o crescimento intelectual e promovam realizações”, disse o pesquisador Kent Harber, professor de psicologia.

Ou seja, a falta de crítica pode fazer com que os alunos da minoria racial pensem que o que eles fizeram está bom, que não precisam melhorar, ou, pelo menos, não serve de estímulo para que a pessoa cresça mais intelectualmente.

Em um trabalho de igual mérito, feito por estudantes brancos, negros e latinos, os primeiros são mais estimulados, ou seja, recebem mais crítica para que possam fazer melhor, e os últimos recebem mais elogios. Isso pode explicar a diferença entre esses grupos (porque negros e latinos têm um “desempenho pior”).

O estudo

Os pesquisadores deram um trabalho feito por eles para os professores corrigirem, que estava mal escrito. Em alguns casos, eles disseram que um estudante branco o tinha feito, em outros, que um negro ou latino tinham feito o trabalho. Os professores tinham que corrigi-lo, e sua correção iria diretamente para o “aluno”.

Com as correções em mãos, os pesquisadores perceberam que os professores eram propensos a elogiar e menos propensos a criticar o trabalho se acreditavam que um estudante minoritário o tinha escrito.

Entre os fatores que influenciavam esse padrão, estava o apoio que o professor recebia de colegas e da administração da escola. No caso de um estudante negro, os professores que não tinham apoio eram mais propensos a “pegar mais leve”. No entanto, quando os professores pensaram que o estudante era latino, o fato de terem apoio não importou: eles mostraram a tendência de um feedback positivo do mesmo jeito.

O pesquisador acredita que isso tem consequências não só nas escolas americanas (e, se a mesma atitude for verdade em outros países, em escolas do mundo todo), mas também no mercado de trabalho.

Os governos têm procurado diminuir a lacuna de desempenho escolar entre os brancos e as minorais raciais. No Brasil, por exemplo, existe o sistema de cotas que ajuda estudantes de escolas públicas, negros e outros a conquistarem lugares nas universidades. Porém, de que adianta tudo isso, se eles não estiverem recebendo o mesmo tratamento?

Segundo Harber, essa atitude dos professores pode “inverter sucessos sociais conquistados através de legislação, jurisprudência, e mudança de atitudes culturais” em relação às minorias.

As tentativas de resolver essa diferença de desempenho escolar (como desigualdades no financiamento, racismo, etc) precisam levar em conta também a natureza do feedback instrucional dos professores brancos para estudantes de minorias.

A conclusão que fica é: os professores podem estar interferindo no futuro dos estudantes minoritários ao não exigirem deles o mesmo que de estudantes brancos. Se você é professor, vale uma reflexão.[LiveScience, ScienceDaily]

7 comentários

  • Jean P. Carvalho:

    Concordo em parte c/ as opiniões do Jonatas e After Ventus, mas gostaria de fazer algumas observações:

    Jonatas diz: “p/ responder uma questão (…) escolha uma das alternativas…” não é só isso; hoje valoriza-se + o fato do aluno saber formular a resposta, i.é., saber o caminho p/ chegar ao resultado, do q. saber o resultado em si – tanto é q. nos vestibulares as provas têm assumido cada vez + o aspecto de dissertativas.

    After diz: “não existe mais reprovação”; não é bem assim, After… o q. não existe + é o ensino seriado – o ensino agora é dividido por ciclos, como o é na grande Europa, q. alias é uma idéia interessante, só q. foi tremendamente mal implantada aqui no Brasil (prá não fugir à regra, lógico…), e os professores tiveram de se “adaptar” a um sistema q. eles mesmos ainda não compreendiam (e muitos ainda não compreendem). Baseada principalmente nos estudos de Jean Piaget, o sistema de Educação por ciclos prega q. é + vantajoso dar à criança um tempo maior p/ aprender um determinado conjunto de coisas (já q. em cada fase a criança estará + apta a assimilar uma determinada idéia ou operação); então, ao invés de ter de aprender um conjunto de matérias em 1 ano, ela tem 3, 4 ou 5 anos p/ aprender um conjunto maior de matérias; não há repetência realmente dentro dos ciclos, no entanto ela não poderá passar p/ o ciclo seguinte enquanto não tiver um domínio ao menos básico das matérias do ciclo em q. está, não importando há qto tempo ela está neste ciclo. Enquanto nos países da Europa central tem-se observado bons resultados oriundos deste esquema, aqui ainda penamos p/ compreendê-lo, e quiçá fazê-lo funcionar de maneira efetiva (e, sim, a culpa aí em grande parte é do Governo mesmo, q. resolveu implantá-lo sem nem estudá-lo ou entendê-lo direito…)
    Qto ao bullying: embora possa haver exageros na classificação de qualquer comportamento de “bullying” (até q. ponto apelidar os colegas é “bullying”?), o fato é q. ele realmente existe, e não só no Brasil, e deve sim ser combatido (só p/ lembrar: no Japão, a não muito tempo atrás, uma turma de pré-adolescentes simplesmente matou uma colega de classe, na base da porrada, porque esta era “lerda demais”… e olha q. estamos falando do Japão, onde o professor é sim respeitado, e as noções de disciplina, hierarquia e respeito aos + velhos ainda se fazem bem presentes…

    bom, creio q. por enquanto é isto, e espero q. esta discussão ainda se prolongue, estamos precisando urgentemente debater estas questões aqui no Brasil…

  • Flor de Lis:

    Coisa triste é esse sistema de cotas… maneira “educada” de segregar pessoas. Penso que o que precisa ser feito é dar condições iguais para todos, e deixar que cada um se esforce para conquistar seus méritos. O que os idealizadores desse sistema do ‘passe a qualquer custo’ pensa que está fazendo a essas pessoas? Não cobrar delas como se cobra de outros é tratá-las como coitadinhas e incapazes; é subestimar o potencial que elas tem de demonstrar que podem fazer melhor. É deixá-las à margem de qualquer disputa justa por julgar que são incapazes de vencer. ‘Passar a mão na cabeça’, ‘fazer vista grossa’ não é educar. Senhores, educar é arte, ato grandioso, de valor inigualável. Tratem alunos como pobres coitados que não darão dois passos e tudo que terão são profissionais limitados e seres humanos frustrados consigo mesmos; dotados de potenciais inaproveitados. É vergonhoso ver o que o governo faz ao tomar medidas paliativas e pontuais que não resolvem em nada, “empurrando o problema com a barriga”; enquanto a raiz da questão é muito mais profunda. É uma cota aqui, uma coisinha acolá, e segue o povo se acostumando na inércia de que ‘tá bom do jeito que tá’. Saudades dos tempos da educação de outrora; hoje não se respeita professor, depredam o patrimônio público e saem da escola ignorantes… não sabem sequer quem foi Zumbi dos Palmares ou Pedro Álvares Cabral.

  • Afer Ventus:

    Isso é uma questão de lógica:

    Nos dias atuais todo mundo é processado por todo mundo por qualquer coisa que se fala.

    Não só no quesito racismo/discriminação. Tem a questão “não submeter a pessoa a constrangimento”.

    Então, qual professor teria coragem de dar feedback mais duro, censurar, chamar a atenção mesmo que isso fosse para o bem do aluno?

    Que escola não pediria para seus professores “pegarem leve” com seus alunos?

    Hoje, não se pode chamar a atenção, apontar erros/falhas, mostrar que a pessoa age/pensa/comporta-se de forma errada que ela se sente “dodói” e processa. Virou festa. Virou moda.

    Ninguém, nos dias, atuais é capaz de ouvir umas verdades, aguentar quieto (se não tiver razão) e tirar disso alguma lição para crescer.

    O ditado “a verdade dói” um dia vai deixar de existir. Teremos gerações futuras que só conhecerão eufemismos e subterfúgios e se alguém ousar dizer uma verdadezinha sequer, o adulto (criança hoje que cresceu superprotegida, incapaz de saber a realidade do mundo e qual o papel dela e posição nessa realidade), vai ficar sem saber o que fazer, e a única forma de se defender é processar.

    Se não pudermos apontar erros/falhas, se não pudermos criticar (construtivamente), se não pudermos dar feedback, como a pessoa vai conhecer seus defeitos e corrigí-los e se tornar melhor?

    O ser humano, à medida em que cresce, deve (espera-se) evoluir. Mas pra isso, tem que aprender. Mas o mundo não é uma utopia, onde só se aprendem coisas boas.

    Cosas ruins estão por toda parte, inclusive em nós mesmos. Se não exergamos isso, dependemos dos outros para nos mostrar e nos ensinar como eliminar essas coisas ruins que carregamos.

    Agora, se tomamos tudo como ofensa, só estamos reforçando um mau caráter futuro.

    É óbvio que não existe verdade em racismo, discriminação. Mas hoje, qualquer coisa que é dita, a pessoa relaciona com cor da pele, religião, classe social, só para ter motivo para processar e se desobrigar de corrigir seu próprio defeito.

    Em suma, o racismo/discriminação está antes no ofendido que no ofensor.

  • Jonatas:

    Ok. Agora tenta pôr isso na concepção errônea do Ministério da Educação Brasileiro.
    A escolaridade do Brasil está aumentando? ótimo, mas e a qualidade da educação? bom, vejamos:
    Nas décadas do século passado, alunos cantavam o hino nacional, desfilavam, havia disciplina e autoridade nas mãos dos professores. Mas o melhor, o conteúdo realmente era cobrado, o professor não olhava se o aluno escolheu por sorte ou saber a resposta certa de uma questão, ele olhava a resolução.
    Comparando com o modelo atual: Pra responder uma questão, nem calcule se não saber, escolha uma das alternativas, tem uma chance em cinco de acertar e passar de ano. Vá fazendo isso a vida toda, não se precisa focar em aprender, só precisa passar de ano, e isso é possível, é só acertar na múltipla escolha, e então será mais um “ótimo” profissional brasileiro. Ah, mas espere, se você é índio, latino ou afro-descendente, não precisa nem acertar uma das alternativas, afinal, você tem cota.
    E o Professor? ah o Professor. Hoje em dia, se um aluno lhe falta o respeito na sala de aula, onde você tem a autoridade e o repreende, aí vem os pais à direção munidos do estatuto da criança e do adolescente e tua carreira honrosa fica na corda bamba… Oh Brasil… Quem sabe um dia exista ou se faça valer um Estatuto do Professor, pois já não chega uma valorização insignificante, um salário microscópico e ainda o peso nos ombros de construir o futuro da nação.
    Nesse vídeo, ele faz uma comparação entre o Brasil e a Argentina: apenas a cidade de São Paulo tem mais veículos que toda a Argentina. A los ermanos, como somos mais desenvolvidos que vocês… Mas apenas em Buenos Aires existem mais livrarias que em todo o Brasil, e os estudantes argentinos são muito mais inteligentes que os brasileiros, média mundial, onde estamos muito em baixo ainda, infelizmente…

    A quem possa interessar em deixar de ser apenas aluno e se tornar estudante:
    http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=Q2f9W7KDwjA#!

  • Paulo Eduardo:

    È a mesma coisa que dizer:

    – Você é negro/latino e não tem a mesma capacidade intelectual que uma pessoa branca, então parabéns pelo seu mau desempenho!!

    Isso tambem se aplica as cotas raciais nas universidades!

    Enquanto houver favorecimento em algum tipo de raça, nunca haverá igualdade racial!!

  • garretereis:

    É, racismo do mesmo jeito!

    • Afer Ventus:

      E o que não é racismo?

      Se eu “pego mais pesado”, a pessoa diz que é por causa da cor da pele/da religião/da classe social, etc.

      Se eu “pego mais leve”, a pessoa diz que é por causa da cor da pele/da religião/ da classe social, etc.

      Se eu trato igualmente, a pessoa diz que tem direitos, porque os antepassados foram escravos/morreram em campos de concentração/foram subjugados pela ditadura, etc.

      A ponto é: deixar de se esconder atrás de desculpas e bola pra frente.

      Como disse o Jonatas resumidamente: “antigamente”

      Antigamente, aguentávamos amolação dos colegas por qualquer coisa. Se fôssemos fortes, dávamos porrada. Se não, chamávamos uma turma e dávamos porrada.

      Aprendíamos a nos virar. A lutar. A impor nosso respeito e presença.

      Hoje o nome é meigo: bullying – proteger filhos de papai que sequer pisam com os pés descalços no chão assim que levantam-se da cama.

      Lembro-me bem, na primeira série. A professora chamou a atenção de uma colega. Essa colega mostrou a língua para a professora. Não deu outra. A professora pegou ela pelos cabelos, deu uma sacudida, pegou pela orelha e levou na diretoria.

      Hoje, se o professor fala: “fulano, por favor fale mais baixo”. O aluno volta no dia seguinte com uma faca ou arma, mata o professor e a escola é processada porque o funcionário (professor morto) constrangeu o aluno na frente dos outros.

      Que professor seria insano em agir como antigamente? Além do mais, não existe mais reprovação (não se pode mais contranger). Então tudo que o professor tem que fazer é dar a matéria, passar o aluno não importa o que aconteça, receber seu salário e sobreviver por mais um dia.

      Culpa do governo? Não. Culpa de pais superprotetores que, em vez de se espelhar em seus próprios pais, e notarem que são o que são hoje, por causa da educação recebida (dura, severa), fazem justamente o contrário: não posso corrigir meu filhinho porque não quero ser como meu pai foi pra mim…

      Aí o filhinho cresce matando professor, e de repente até o próprio pai, que não deixou claro a hierarquia existente entre pai e filho e, para ser chique e moderno, colocou a filosofia que pai tem que ser amigo.

      O mesmo vale para professores. Sem autoridade, eles estão de “pés e mãos atados”.

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