Animal com característica bizarra pode revelar como nosso ânus evoluiu

Por , em 7.03.2019

Se tem uma parte do corpo que devemos agradecer pela natureza ter nos dado, essa parte é o ânus. Sem ele, nossa vida seria bem diferente – criaturas que não foram abençoadas com a dádiva do ânus precisam fazer cocô através de suas bocas. A natureza, porém, não para por aí em sua esquisitice: cientistas acabaram de descobrir um animal cujo ânus simplesmente aparece quando é necessário e desaparece completamente depois que o organismo defeca.

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O biólogo Sidney Tamm, do Laboratório de Biologia Marinha de Massachusetts, nos EUA, passou um tempo considerável filmando uma espécie de água-viva-de-pente, a Mnemiopsis leidyi, enquanto estes animais defecavam. Até agora, acreditava-se que esses membros do filo ctenóforo, organismos semelhantes a águas-vivas, tinham um ânus comum, aberto o tempo todo. Mas as observações de Tamm mudaram para sempre os livros didáticos: ele descobriu que estes animais possuem um ânus que aparece e desaparece, o primeiro já registrado deste tipo.

“Essa descoberta é realmente espetacular. Não há documentação de um ânus transitório em nenhum outro animal que eu conheça”, disse Tamm em entrevista ao portal New Scientist.

Processo diferente

Estes animais engolem pequenos crustáceos e filhotes de peixe através de uma abertura similar a uma boca. De lá, a refeição passa por uma espécie de garganta e desce até um esôfago que a mói e, finalmente, chega um estômago em forma de funil. Quaisquer componentes volumosos que não podem ser digeridos são enviados de volta para cima e para fora da boca, enquanto o resto entra em uma rede ramificada de canais que distribuem nutrientes ao redor do corpo.

A parte final do processo, até então comum, é que torna tudo bizarro. O final do aparelho digestivo destes animais possui dois canais, cada um terminando em um “saco” em forma de Y. Os biólogos acreditavam que havia algum tipo de abertura em cada um deles para que os pedaços de peixe fossem excretados. Tamm, entretanto, não encontrou abertura alguma. “O ânus fica invisível entre as defecações. É impossível ver a olho nu ou com um microscópio”, disse ele em outra entrevista, desta vez ao portal na Motherboard.

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Além disso, parece que os animais usam apenas uma das duas extremidades do Y, alguns fazendo uso da esquerda e outros da direita. O outro não formava um ânus, pelo menos não nos dez dias em que as criaturas foram observadas.

Tamm registrou todo o processo digestivo em uma variedade de etapas da vida dos animais e analisou passo a passo, medindo como cada parte do sistema respondia. Ele descobriu que, conforme um dos canais incha com resíduos, ele se desloca para a borda externa do animal, até que esbarre em sua pele pelo lado de dentro.

É neste momento que o animal desenvolve seu ânus (a imagem acima mostra o ânus do animal no momento em que ele “existe”): o canal se funde com a pele externa para formar um poro anal, que imediatamente se fecha novamente depois de defecar. O pesquisador registrou o processo várias vezes, observando diferentes tamanhos de poros e temporização. Mas o buraco sempre desapareceu de novo, sem deixar vestígios discerníveis.

Entrada e saída

Esta descoberta, por mais trivial que pareça, pode, na verdade, dar aos cientistas informações importantes sobre a evolução. Entre os animais relativamente complexos existentes na natureza, os ctenóforos provavelmente representam o ramo mais antigo da árvore genealógica. Isso os torna organismos bastante úteis para estudar, já que podem dar algumas pistas sobre como as estruturas anatômicas fundamentais, como as bocas e os ânus, surgiram.

Nesta área específica, há uma pergunta importante a se fazer: do ponto de vista evolutivo, por que a maioria dos animais desenvolveu uma porta de saída quando uma única abertura pode fazer os dois trabalhos – ingerir alimentos e se livrar dos resíduos?

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Alguns animais com sistemas digestivos simples têm apenas um único ponto de entrada e saída, por onde a comida entra e sai. Esta nova descoberta pode ser o primeiro exemplo de um animal primitivo com uma abertura dinâmica.

Há a possibilidade de que haja algum tipo de estrutura que ainda não foi observada – análises posteriores serão necessárias para verificar ou refutar o trabalho de Tamm, acrescentando detalhes muito necessários sobre o processo digestivo destes animais. Mas se a fina parede de tecido realmente se rasgar toda vez que o animal precisa defecar – o que pode acontecer a cada 10 minutos -, então este pode ser um degrau evolutivo para os ânus de outros animais, incluindo seres humanos. [New Scientist, Science Alert, I Fucking Love Science]

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