Excesso de álcool pode ser ruim, todos sabem disso. Mas uma pesquisa recente demonstrou que se abster completamente também não é a melhor opção.
As pessoas que não bebem têm um risco de mortalidade maior do que os bebedores moderados. Mas os abstêmios são um grupo diverso, e as razões que as pessoas têm para não beber afetam seu risco de mortalidade individual, chegando a colocá-los no mesmo nível de risco que os que bebem regularmente, de acordo com a análise da Universidade do Colorado (EUA).
Ou seja, é muito cedo para se recomendar “encher a cara”. Não beber ainda é melhor do que ter um consumo elevado de álcool; vários estudos têm mostrado que a probabilidade de morrer aumenta à medida que as pessoas consomem mais bebidas alcoólicas. No entanto, esses mesmos estudos têm mostrado que o risco de mortalidade de uma pessoa também aumenta no outro extremo – entre as pessoas que optam por não beber nada.
Alguns pesquisadores levantaram a hipótese de que o aumento da mortalidade entre os abstêmios poderia estar relacionado ao fato de que o consumo moderado de álcool – beber, em média, menos de um drinque por dia – pode realmente proteger as pessoas de doenças e reduzir os seus níveis de estresse.
Os psicólogos da Universidade do Colorado decidiram examinar se as características dos diferentes subgrupos de pessoas que não bebem podiam explicar o aumento do risco de mortalidade. Eles estudaram o levantamento de dados coletados em 1988 pelo National Health Interview Survey sobre os hábitos de consumo de mais de 41 mil pessoas de todo o Estados Unidos.
Durante a pesquisa, os abstêmios foram convidados a fornecer suas razões para não beber. Possíveis respostas variaram de porque “não socializavam muito” para “sou um alcoólatra” e “razões religiosas ou morais”.
“Entre os abstêmios, as pessoas têm todos os tipos de justificativas para não beberem”, disse o professor de sociologia Richard Rogers, do Instituto de Ciência Comportamental. “Não podíamos apenas supor que os abstêmios são um grupo unificado”.
A equipe de pesquisa dividiu os que não bebem em três categorias gerais: “antigos bebedores”, “abstêmios ou pessoas que nunca beberam mais de 12 doses” e “bebedores pouco frequentes ou pessoas que bebem menos de 12 doses por ano”.
Abstêmios que optaram por não beber por um conjunto de razões que incluem motivações religiosas ou morais, responsabilidades à sua família, bem como não gostar do sabor, tinham riscos de mortalidade semelhantes durante o período avaliado.
“Então, essa ideia de que os abstêmios têm sempre maior mortalidade do que os bebedores leves não é verdade”, disse Rogers. “Você pode encontrar alguns grupos de abstêmios que têm riscos de mortalidade semelhantes aos que bebem moderadamente”.
O outro subgrupo de abstêmios – cuja maior razão para não beber parecia ser uma aversão ao sabor, e em menor grau responsabilidades familiares, motivações religiosas ou morais ou à criação – tinham um risco de mortalidade 17% mais elevado durante o período de estudo em comparação com bebedores leves.
Os cientistas também descobriram que os bebedores pouco frequentes tiveram um risco de mortalidade um pouco maior do que os bebedores leves. Ex-bebedores, no entanto, tinham o maior risco de mortalidade de todos os abstêmios. Ex-bebedores cujo conjunto de razões para não beber agora incluíam o fato de serem alcoólatras e problemas com a bebida, por exemplo, tiveram um risco de mortalidade 38% maior do que os bebedores leves durante o período de acompanhamento.
Em comparação, as pessoas que bebem entre uma e duas bebidas por dia, em média, têm uma taxa de mortalidade 9% maior do que os que bebem moderadamente, enquanto as pessoas que bebem entre dois e três drinques por dia têm uma taxa de mortalidade 49% superior. As pessoas que consomem mais de três doses por dia tiveram um risco de mortalidade avaliado em 58% mais elevado durante o período, em comparação com os outros.
Apesar da confirmação de que alguns subgrupos de abstêmios têm uma taxa de mortalidade maior do que os que bebem pouco, isso não significa, necessariamente, que as taxas de mortalidade dessas pessoas cairão se elas começarem a beber, disse Rogers.
Por exemplo, pessoas que tinham problemas com bebida no passado podem aumentar o risco de mortalidade ainda mais se começarem a beber novamente.
Além disso, as pessoas que não bebem nada têm características socioeconômicas mais baixas do que os bebedores moderados, o que poderia ser uma das causas para as diferenças de mortalidade. “Eu acho que a ideia de que beber pode ser benéfico parece exagerada. Pode haver outros fatores que reduzam a mortalidade para os bebedores leves”, explica Rogers.
Muito caminho precisa ser percorrido para a ciência chegar a uma conclusão, mas todos podemos concordar, por enquanto, que vale a dica: beba com moderação. [ScienceDaily]
[Science20]