Bebidas Energéticas Estão Fora de Controle

Por , em 16.12.2023

Dennis Brown costumava frequentar uma filial da Panera Bread em Fleming Island, Flórida, onde tinha o hábito de pedir vários refrigerantes seguidos. Em vários dias no final de setembro e início de outubro, incluindo no dia de seu falecimento, Brown escolheu consistentemente a Charged Lemonade da Panera Bread como sua bebida preferida.

Este tipo de limonada, na sua versão de 20 onças, contém 260 mg de cafeína, e a opção maior de 30 onças possui 390 mg, aproximando-se do limite máximo diário de ingestão de cafeína sugerido pela Administração de Alimentos e Medicamentos dos EUA. No dia em que Brown faleceu, aos 46 anos, ele jantou na Panera Bread e, pouco tempo depois, sofreu um ataque cardíaco fatal nas proximidades.

A família de Brown processou a Panera Bread, alegando que Brown normalmente consumia bebidas sem cafeína, como chá gelado e água, e não estava ciente do teor de cafeína na Charged Lemonade. A advogada da família, Elizabeth Crawford, descreveu a bebida como perigosamente enganadora. A Panera Bread, por meio de sua porta-voz Jessica Hesselschwerdt, expressou condolências, mas negou qualquer responsabilidade, afirmando a segurança de seus produtos e comparando o conteúdo de cafeína na Charged Lemonade ao de um café torrado escuro padrão.

O aumento da potência das bebidas com cafeína tem atraído a atenção regulatória. Prime, uma bebida energética criada pelos personalidades do YouTube Logan Paul e KSI, tornou-se um tópico de debate online no início de 2022. Popular entre seu grande e jovem público nas redes sociais, a bebida levou o senador americano Charles Schumer a pedir uma revisão da FDA, classificando-a como um produto de alto teor de cafeína. Apesar disso, Prime continua sendo vendido, com a marca afirmando que seu conteúdo de cafeína é comparável ao de outras bebidas energéticas.

O Canadá, em contraste, tomou medidas para limitar a cafeína em bebidas energéticas, com um recente recall de várias marcas, incluindo Prime. Outros países, como Lituânia, Letônia, Turquia e Polônia, também restringiram a venda de tais bebidas para menores de idade.

A história de preocupações com bebidas cafeinadas remonta ao início dos anos 1900, com o conteúdo de cafeína da Coca-Cola sendo questionado. Atualmente, refrigerantes tradicionais contêm significativamente menos cafeína em comparação com muitas bebidas energéticas modernas.

Especialistas como o terapeuta nutricional Ian Marber e a pesquisadora Alex Ruani destacam os riscos associados ao excesso de cafeína e estimulantes adicionais em bebidas energéticas. Essas bebidas, frequentemente comercializadas para jovens audiências por meio de influenciadores e eventos de jogos, podem levar a vários problemas de saúde e tendências viciantes.

Apesar dessas preocupações, as bebidas energéticas continuam prosperando no mercado, com algumas marcas se posicionando como alternativas mais saudáveis. Huib van Bockel, por exemplo, com sua marca Tenzing, foca em ingredientes naturais e menor teor de açúcar. No entanto, os especialistas alertam que até essas opções “mais saudáveis” devem ser consumidas com moderação.

Em resposta aos riscos à saúde associados ao alto teor de cafeína, a Panera Bread adicionou advertências à sua Charged Lemonade, aconselhando contra o consumo excessivo por certos grupos. Apesar desses avisos, a popularidade e o marketing de tais bebidas altamente cafeinadas mostram nenhum sinal de diminuição.

O cenário das bebidas energéticas reflete uma evolução contínua nas preferências de consumo, especialmente entre o público mais jovem. O apelo dessas bebidas não se baseia apenas em seu sabor ou efeito estimulante, mas também em uma imagem cuidadosamente construída de estilo de vida ativo e aventureiro. Marcas como Red Bull e Monster Energy, por exemplo, têm sido associadas a esportes radicais e eventos de eSports, solidificando sua presença no imaginário popular como sinônimos de energia e desempenho.

Essa associação com um estilo de vida dinâmico e aventureiro, junto com o marketing influente nas redes sociais, tem impulsionado a demanda por bebidas energéticas. No entanto, esse sucesso tem seu lado sombrio, especialmente quando se considera o impacto na saúde dos consumidores jovens e impressionáveis. A crescente preocupação com os efeitos adversos do consumo excessivo de cafeína em bebidas energéticas está levando a uma maior conscientização e possíveis regulamentações mais rígidas.

Enquanto isso, a indústria das bebidas energéticas segue se adaptando e inovando, com algumas marcas buscando se diferenciar por meio de ingredientes naturais e afirmações de benefícios à saúde. Este movimento em direção a opções percebidas como mais saudáveis reflete uma mudança na mentalidade do consumidor, que busca alternativas que aliam energia e bem-estar.

O caso de Dennis Brown e o subsequente processo legal contra a Panera Bread lançam luz sobre a necessidade de maior transparência e conscientização sobre o conteúdo e os efeitos das bebidas energéticas. À medida que o mercado continua a evoluir, a informação clara e a educação do consumidor se tornam cada vez mais cruciais para garantir escolhas responsáveis e seguras. [Wired]

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