Bill Gates: um novo tipo de terrorismo poderia matar 30 milhões de pessoas em um ano e nós não estamos preparados

Por , em 21.02.2017

Bill Gates fez um discurso poderoso sobre política de segurança internacional na última Conferência de Segurança de Munique, na Alemanha.

Há 20 anos, o CEO decidiu fazer da saúde global o foco do seu trabalho filantrópico. Conforme explicou ao portal Business Insider, o nosso mundo está mais conectado do que a maioria das pessoas percebe – e precisamos tomar alguns cuidados para prevenir uma ameaça que poderia exterminar 30 milhões de pessoas em apenas um ano.

Epidemia mortal: o inimigo invisível

Zonas de guerra e outras regiões de estado frágil são os locais mais difíceis para eliminar epidemias. Não por coincidência, também são alguns dos lugares mais prováveis para elas começarem – como vimos com o ebola em Serra Leoa e Libéria, e com a cólera na Bacia do Congo e na área do Chifre da África.

Também é verdade que a próxima epidemia poderia se originar na tela de um computador, a partir de uma intenção terrorista em usar engenharia genética para criar uma versão sintética de algum vírus, uma cepa supercontagiosa e mortal.

O ponto é: nós ignoramos a ligação entre a segurança de saúde e a segurança internacional. Seja por um capricho da natureza ou pelas mãos de um terrorista, os epidemiologistas afirmam que um patógeno que se espalhe rapidamente pelo ar pode matar mais de 30 milhões de pessoas em menos de um ano.

E o que é mais assustador, há uma probabilidade razoável de o mundo experimentar um surto nos próximos 10 a 15 anos.

O que fazer?

Em 1918, uma cepa de gripe particularmente virulenta e letal matou entre 50 milhões e 100 milhões de pessoas.

Acha que isso é coisa do passado? De acordo com Bill Gates, o fato de que uma pandemia global tão mortal quanto essa não tenha ocorrido na história recente não deve ser confundido com evidência de que uma pandemia global mortal não ocorrerá no futuro.

A boa notícia é que, com os avanços na biotecnologia, novas vacinas e medicamentos podem ajudar a prevenir a propagação de epidemias.

Ao mesmo tempo, a maioria das coisas que precisamos fazer para nos proteger contra uma pandemia de ocorrência natural são as mesmas que devemos fazer para nos preparar para um ataque biológico intencional.

O CEPI e a vacina salvadora

Primeiro e mais importante, temos que construir um arsenal de novas armas – vacinas, drogas e diagnósticos.

As vacinas podem ser especialmente importantes para conter epidemias. Hoje, normalmente leva 10 anos para os cientistas desenvolverem e licenciarem uma nova imunização. Para reduzir significativamente as mortes por um patógeno aéreo de movimento rápido, porém, teríamos que diminuir consideravelmente esse tempo, para até 90 dias ou menos.

Damos um passo importante no mês passado com o lançamento de uma nova parceria público-privada chamada Coalition for Epidemic Preparedness Innovations (CEPI). A esperança é de que o CEPI leve a produção de vacinas seguras e eficazes tão rapidamente quanto surjam novas ameaças.

Basicamente, a ideia é criar um veículo de entrega de material genético sintético que instrui as células de uma pessoa a fabricar uma vacina dentro de seu próprio corpo.

Uma vez que você construiu uma plataforma de vacina para um patógeno, pode usá-la novamente para outros patógenos, o que significa que também pode ser aplicada a outras doenças difíceis de tratar como HIV, malária e tuberculose.

Vigilância internacional

Naturalmente, a capacidade preventiva de uma vacina não ajudará se um patógeno já tiver se espalhado para fora do nosso controle. Como as epidemias podem rapidamente se enraizar nos lugares menos equipados para combatê-las, também precisamos melhorar a vigilância internacional.

Isso começa com o fortalecimento dos sistemas básicos de saúde pública nos países mais vulneráveis, afirma Bill Gates. Temos também de assegurar que cada país conduza vigilância de rotina para recolher dados sobre os surtos de doenças.

“Devemos garantir que os países compartilhem informações de maneira oportuna e que haja recursos laboratoriais adequados para identificar e monitorar patógenos suspeitos”, Gates disse ao Business Insider.

Guerra contra os patógenos

A terceira coisa que precisamos fazer é nos preparar para as epidemias da maneira como os militares se preparam para a guerra.

Isso inclui exercícios de preparação para que possamos entender melhor como as doenças se espalham, como as pessoas respondem em uma situação de pânico e como lidar com coisas como estradas sobrecarregadas e sistemas de comunicação.

Também precisamos de pessoal médico treinado pronto para conter uma epidemia rapidamente, e melhor coordenação com forças armadas para ajudar com a logística e proteção de áreas.

No centro de tudo, dinheiro

O CEO aplaude iniciativas de nações como a Alemanha a favor da segurança da saúde, mas lembra que dinheiro é um problema para a maioria dos países no mundo.

“Não há dinheiro suficiente para ajudar os países mais pobres com preparação epidêmica. A ironia é que o custo de garantir uma preparação adequada contra pandemias em todo o mundo é estimado em US$ 3,4 bilhões por ano – e a perda anual projetada de uma pandemia pode chegar a US$ 570 bilhões”, escreve em Business Insider.

Top 3 das ameaças globais

Até poucos anos atrás, a única grande ameaça para a humanidade parecia ser de uma guerra nuclear. No final da década de 1990, os mais razoáveis entre nós já aceitavam que o clima alterado representava outro grande problema para a Terra.

Bill Gates afirma que a ameaça de pandemias mortais deve entrar nesse top 3, ao lado da guerra nuclear e das mudanças climáticas. Inovação, cooperação e planejamento cuidadoso podem mitigar dramaticamente os riscos apresentados por cada um desses perigos.

“Quando a próxima pandemia atacar, poderia ser outra catástrofe nos anais da raça humana. Ou poderia ser um extraordinário triunfo da vontade humana. Um momento em que provamos mais uma vez que, juntos, somos capazes de enfrentar os maiores desafios para criar um mundo mais seguro, mais saudável e mais estável”, conclui. BusinessInsider

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