Bill Gates elogia os grandes avanços do Brasil em saúde e qualidade de vida

Por , em 13.12.2023

Bill Gates, traduzido livremente

Desde meus primeiros passos no Brasil em 1995, durante a expansão da Microsoft, que incluiu colaborações com importantes instituições financeiras, nutri uma grande admiração pelo país. As visitas à Amazônia, sempre presentes nos debates sobre mudanças climáticas, marcaram minhas viagens familiares. Contudo, foi através da minha atuação na saúde pública que reconheci o notável desempenho do Brasil nesse setor, apresentando lições valiosas para o mundo.

Nas últimas três décadas, o Brasil conseguiu reduzir a mortalidade materna em quase 60% e a mortalidade infantil em 75%, superando médias globais, além de aumentar a expectativa de vida em quase dez anos. Esses marcos não são coincidências, mas sim frutos de um investimento contínuo e focado do país no sistema de saúde primária, servindo de exemplo para outras nações.

Este progresso começou no final dos anos 80. Após um longo período sob regime militar, o Brasil estava entre os países mais desiguais do mundo. A democracia chegou em 1985, seguida pela criação de um sistema de saúde universal. Na década seguinte, houve uma queda nas mortes por doenças crônicas e causas maternas, neonatais e nutricionais, e um aumento na expectativa de vida. O fortalecimento dos serviços de saúde primária também reduziu internações hospitalares.

Entretanto, assegurar saúde é apenas um passo; financiá-la e garantir que alcance os mais necessitados são desafios distintos. Embora estivesse avançando, o Brasil tinha um longo caminho a percorrer. No início do século, o governo acelerou seus esforços, buscando solucionar deficiências no sistema de saúde, incluindo um aumento significativo nos investimentos. Uma das iniciativas mais importantes foi a expansão do programa de agentes comunitários de saúde (ACS).

Os ACS são profissionais treinados que atuam principalmente em áreas remotas ou carentes. Suas funções variam globalmente, incluindo monitoramento de doenças, campanhas de vacinação e exames de saúde básicos.

No Brasil, os ACS já haviam demonstrado sua capacidade de melhorar o acesso e os resultados em saúde pública durante um programa piloto no estado do Ceará. Com o aumento quase quíntuplo do financiamento federal para a saúde primária em quinze anos, o número de ACS triplicou.

Atualmente, o Brasil conta com mais de 286.000 ACS, atendendo cerca de dois terços da população – aproximadamente 160 milhões de pessoas. Cada ACS visita cerca de 100 a 150 residências por mês, orientando sobre saúde e higiene, promovendo cuidados preventivos, acompanhando consultas médicas, coletando dados socioeconômicos e auxiliando no acesso a outros serviços governamentais.

Esses profissionais são fundamentais para o maior sistema de saúde pública universal e gratuito do mundo, contribuindo para a redução da mortalidade infantil e alcançando níveis quase universais de imunização. Apesar dos impactos da pandemia nas taxas de vacinação, esforços estão sendo feitos para sua recuperação.

O programa Bolsa Família do Brasil também merece destaque. Ao oferecer transferências monetárias para famílias carentes que cumprem determinadas condições, como vacinação infantil e cuidados pré-natais, o programa se expandiu junto à saúde primária. Além de tirar quase um quinto da população brasileira da pobreza, o Bolsa Família ampliou o acesso e o uso dos serviços de saúde, contribuindo para a diminuição da mortalidade infantil.

Minhas percepções sobre essas iniciativas vêm da parceria da Fundação Gates com o Ministério da Saúde do Brasil. Essa colaboração se concentra em combater a malária, aprimorar a produção de vacinas, aproveitar talentos locais para questões de saúde global e empregar ciências de dados para avaliar programas sociais e de saúde. O progresso é notável.

Apesar dos avanços significativos, o Brasil ainda enfrenta desafios, como crises financeiras e cortes no orçamento da saúde, com algumas regiões ainda sem acesso aos ACS.

Ainda assim, o sistema de saúde do Brasil mostra o impacto transformador de um investimento estratégico na população vulnerável. Por isso, o Brasil é destacado pelo programa Exemplares em Saúde Global, que co-lancei em 2020. O objetivo é reconhecer países com progressos substanciais em saúde, entender as chaves de seu sucesso e compartilhar essas percepções globalmente. Nesse sentido, o Brasil tem muito a ensinar.

Embora a replicação do modelo brasileiro não seja viável para todos os países devido às diferenças nacionais, a combinação de investimento e inovação do Brasil serve como um modelo inspirador. Se o país continuar nesse caminho e outros se inspirarem ou trilharem seus próprios caminhos com o Brasil em mente, podemos vislumbrar uma comunidade global mais saudável. [Gates Notes]

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