Cientistas deram um corpo robótico para um cogumelo e o deixaram solto por aí

Por , em 4.09.2024

Ninguém tem ideia do que passa pela “mente” de um cogumelo adormecido, quando sua vasta rede micelial pisca e pulsa como um cérebro em miniatura. Será que sonham com campos de musgo ou batem papo com as árvores?

Mas e se esse cogumelo, normalmente preso ao solo, tivesse a chance de “andar” por aí? Uma equipe de pesquisadores da Universidade Cornell, nos EUA, e da Universidade de Florença, na Itália, decidiu descobrir, colocando um cogumelo comestível do tipo Pleurotus eryngii (também conhecido como o rei dos cogumelos) no comando de dois pequenos veículos. E, pasmem, o cogumelo saiu “dirigindo” por aí!

Com uma série de experimentos dignos de um filme de ficção científica, eles mostraram que a atividade eletrofisiológica do cogumelo podia ser usada para transformar sinais ambientais em comandos para mover um dispositivo mecânico. Sim, um cogumelo se transformou em piloto de robô!

“Fazendo o micélio crescer na eletrônica do robô, conseguimos criar uma máquina bio-híbrida que sente e responde ao ambiente,” disse Rob Shepherd, cientista de materiais da Cornell. Em outras palavras, eles basicamente criaram um “cogurobô”.

O reino dos fungos, embora pouco explorado para essas aventuras cibernéticas, é uma verdadeira mina de ouro. Esses organismos são fáceis de cultivar, sobrevivem em condições onde muitos outros falhariam, e podem fornecer componentes vivos para sensores e até computação. É como ter pequenos engenheiros naturais prontos para ajudar.

Escondidos no solo, filamentos finos de fungos reagem a mudanças no ambiente enquanto buscam recursos. Alguns fungos até “conversam” entre si, com sinais que lembram os nossos neurônios. E agora, cientistas estão aprendendo a ouvir essas conversas secretas.

Ao usar algoritmos para interpretar a eletrofisiologia do micélio do P. eryngii, os cientistas transformaram essas “conversas” em comandos para robôs. Por exemplo, quando o cogumelo era exposto à luz UV, ele mandava o robô fazer algo – como mover suas rodas ou membros.

Demonstração em tempo real de um robô com rodas controlado por sinais de micélio. (Robert Shepherd)

Em experimentos controlados, a equipe fez um robô mole de cinco membros e um veículo com quatro rodas obedecerem ao cogumelo. Eles até conseguiram sobrepor os impulsos “naturais” do fungo, mostrando que podemos usar suas habilidades sensoriais para atingir objetivos específicos.

“Não se trata apenas de controlar um robô,” diz Anand Mishra, biorrobótico de Cornell. “É sobre criar uma verdadeira conexão com um sistema vivo. Quando você entende o que os sinais significam, é como se estivesse ouvindo os pensamentos do cogumelo. E isso é algo que o robô nos ajuda a visualizar.”

O “cogurobô” pode parecer uma ideia maluca, mas o sistema poderia ser muito útil em dispositivos mais simples que, por exemplo, ajustam a quantidade de nutrientes ou pesticidas em um solo, respondem a poluentes ou até monitoram mudanças em nossos corpos.

Os cogumelos têm segredos que estamos apenas começando a desvendar. E quem sabe? Talvez um dia eles nos contem até o que sonham, se não estiverem muito ocupados “dirigindo” por aí.

A pesquisa foi publicada na revista científica Science Robotics.

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