Você só usa 10% do seu cérebro. Comer cenouras melhora a sua visão. Vitamina C cura resfriado.
Nenhuma dessas coisas é verdadeira.
Mas fatos pouco importam nestes casos: as pessoas repetem esses bordões tantas vezes que você acredita neles.
Bem-vindo ao “efeito ilusório da verdade”, uma falha na psique humana que iguala repetição com verdade. Os comerciantes e os políticos são mestres em manipular este viés cognitivo. Seu(ua) namorado(a) traidor(a) também.
O mestre Donald Trump
Recentemente, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou três ordens executivas destinadas a parar o que ele descreve – repetidamente – como altos níveis de violência contra a aplicação da lei na América.
Parece importante, certo? Mas esses crimes estão em suas taxas mais baixas em décadas, assim como a maioria dos crimes violentos nos EUA.
“O Presidente Trump pretende construir forças-tarefa para investigar e parar tendências nacionais que não existem”, disse Jeffery Robinson, vice-diretor jurídico da American Civil Liberties Union.
Ele está certo de que as tendências não são reais, é claro. Mas algumas pessoas ainda acreditam nelas. Cada vez que o presidente escreve no Twitter ou diz algo falso, algumas boas almas correm verificar os fatos para apontar os erros – o que tem pouquíssimo efeito.
Uma pesquisa da Pew Research no outono passado descobriu que 57% dos eleitores americanos acreditavam que o crime nos Estados Unidos havia piorado desde 2008, apesar dos dados do FBI mostrarem que ele havia caído em cerca de 20%.
Repetição = verdade
Então o que está acontecendo aqui?
“A repetição torna as coisas mais plausíveis”, explica Lynn Hasher, psicóloga da Universidade de Toronto, no Canadá, cuja equipe de pesquisa reconheceu o viés pela primeira vez na década de 1970. “E o efeito é provavelmente mais poderoso quando as pessoas estão cansadas ou distraídas por outras informações”.
A repetição é também o que faz notícias falsas serem acreditadas e compartilhadas, e é a arma secreta da propaganda política. Não é nada novo: Adolf Hitler usava essa técnica. “Os slogans devem ser persistentemente repetidos até que o último indivíduo tenha absorvido a ideia”, escreveu ele em “Mein Kampf”.
O efeito funciona porque as pessoas avaliam a verdade de uma afirmação se apoiando em duas coisas: se a informação se encaixa com a sua compreensão, e se parece familiar.
Cérebro folgado
A primeira condição é lógica: as pessoas comparam novas informações com o que já sabem que é verdadeiro, considerando a credibilidade de ambas as fontes.
No entanto, os pesquisadores descobriram que a familiaridade pode superar a racionalidade – tanto que a repetição de um certo fato pode ter um efeito enorme.
“Quando você escuta a informação pela segunda vez é muito mais fácil de processá-la – você a entende mais fluentemente”, argumenta Lisa Fazio, psicóloga da Universidade de Vanderbilt, EUA. “Nosso cérebro interpreta essa fluência como um sinal de que algo é verdadeiro”.
Em outras palavras, a racionalidade exige trabalho de processamento. Seu cérebro ocupado se sente muitas vezes mais confortável em seguir uma simples intuição.
Como combater esse viés
Como com qualquer viés cognitivo, a melhor maneira de não cair nele é saber que ele existe.
Logo, se você ler algo que parecer a coisa mais correta do mundo, mas você não sabe exatamente por quê, tome conhecimento desse sentimento. Analise o “fato”. Verifique os dados.
Muito trabalhoso para você? Bem, lembre-se de que não é legal ser enganado.
Não é legal ser enganado.
Não é legal ser enganado.
Não é legal ser enganado. [Wired]