Uma nova pesquisa sugere que os genes que desempenham um papel na orientação dos órgãos internos também podem determinar se alguém é destro ou canhoto. O estudo, publicado no mês de setembro na revista PLoS Genetics, indica que estes genes devem afetar o cérebro, sendo importantes na determinação do lado dominante das pessoas.
Mesmo assim, os resultados não são capazes de explicar a razão pela qual apenas uma minoria das pessoas é canhota, pois cada gene só desempenha um papel pequeno na lateralidade de cada indivíduo. “O lado dominante é uma característica complexa, há centenas de genes envolvidos”, afirma um dos autores da pesquisa, William Brandler, doutorando no campo da genética na Universidade de Oxford, na Inglaterra. “Há também muitas influências do ambiente”.
Em todo o mundo, algo entre 5% e 20% da população é canhota. O favorecimento de um lado do corpo para a realização da maioria das tarefas permite que nós façamos essas coisas mais rapidamente, mas exatamente por que há uma tendência tão forte para o domínio da mão direita em seres humanos permanece um mistério. Parentes próximos dos seres humanos, como os chimpanzés, apresentam, aproximadamente, a mesma probabilidade de serem canhotos.
Um estudo de 2012 revelou que as sociedades mais cooperativas, que compartilham ferramentas e tarefas, têm mais pessoas com a mesma mão dominante. Outros estudos propõem que ser canhoto é útil em uma eventual briga – mas somente se a maioria das pessoas espera por um gancho de direita.
Embora alguns genes tenham, de fato, influência na lateralidade das pessoas, eles não são os únicos fatores determinantes nessa história – gêmeos idênticos muitas vezes possuem lados dominantes diferentes. Pesquisas mais ousadas já chegaram a indicar que são danos cerebrais no útero que fazem com que o cérebro da criança se modifique e a transforme em canhota.
Para chegar às raízes genéticas da lateralidade, Brandler (que é canhoto) e seus colegas pediram a 728 participantes do experimento que movessem uma fila de 10 pinos usando primeiro a mão direita e depois a esquerda. Quanto maior o tempo que a pessoa leva para realizar a tarefa em um dos lados, maior é a dominância do outro.
Os pesquisadores, na sequência, analisaram os genes dessas pessoas e identificaram vários associados ao maior domínio da mão. Em seguida, confirmaram a ligação com um grupo maior, de 2.666 pessoas. A associação mais forte foi com um gene chamado PCSK6, que cria as partes direita e esquerda do nosso organismo, ainda no útero. Os outros genes desempenharam um papel na forma como os órgãos do corpo são orientados.
As pessoas que apresentam defeitos nesses genes podem, sim, viver de maneira saudável, mas possuirão “situs inversus”, uma condição médica na qual os órgãos internos não se localizam exatamente no local em que manda sua orientação normal.
A má-formação afeta uma em cada entre 8 mil e 25 mil pessoas. Nesse caso, os órgãos surgem no lado oposto ao fisiologicamente normal – ou seja, o coração, estômago, baço e pâncreas surgem do lado direito, enquanto o fígado e a vesícula biliar aparecem no lado esquerdo. Por mais incrível que possa parecer, a condição não é fatal. Na realidade, ela praticamente não traz incômodo nenhum a quem a possui, uma vez que os órgãos se organizam de acordo com uma lógica interna.
“Outros indivíduos podem ter deficiências mais graves, como isomerismo esquerdo, em que as pessoas possuem, essencialmente, dois lados esquerdos e vários baços, ou heterotaxia, uma condição geralmente fatal, em que os órgãos estão espalhados por todo o corpo”, informa Brandler.
Os resultados sugerem que os mesmos genes que afetam a simetria esquerda dos órgãos do corpo também afetam a forma como o cérebro está conectado. Isso, por sua vez, afeta a capacidade da mão direita ou esquerda de alguém de ser dominante.
“A lateralidade é um reflexo exterior das assimetrias do cérebro para a coordenação motora. Se você é destro, isso significa que o hemisfério esquerdo do seu cérebro é dominante para a coordenação motora. Isso porque os nossos cérebros realizam essa conexão inversa em relação ao resto do corpo”, conta Brandler. [Yahoo! News]