Escudo de matéria escura pode proteger galáxia-anã de colisão com a Via Láctea

Por , em 3.06.2014

De acordo com análises do Green Bank Telescope (GBT), da Fundação Nacional de Ciência (EUA), uma nuvem de hidrogênio de alta velocidade vindo na direção da Via Láctea parece estar envolta por uma cápsula de matéria escura. Os astrônomos acreditam que sem este escudo protetor, a nuvem de alta velocidade (NAV), conhecida como Smith Cloud, teria se desintegrado há muito tempo quando colidiu com o primeiro disco da nossa galáxia.

Caso isso seja confirmado em observações posteriores, poderia significar que a Smith Cloud é, na verdade, uma galáxia-anã que falhou. Tal objeto teria todos os materiais necessários para formar uma verdadeira galáxia, apenas não o suficiente para produzir estrelas.

“A Smith Cloud é realmente única. É rápida, bastante extensa e está perto o suficiente para ser estudada detalhadamente”, disse Matthew Nichols, do Observatório Sauverny, na Suíça, autor principal do artigo, que foi aceito para publicação na revista “Monthly Notices” da Real Sociedade de Astronomia (Reino Unido). “Ela também é um pouco misteriosa, já que um objeto como este simplesmente não deveria sobreviver a uma viagem através da Via Láctea, mas todas as evidências apontam para o fato de que ele resistiu”.

Estudos anteriores sobre a Smith Cloud revelaram que a nuvem passou pela primeira vez pela nossa galáxia muitos milhões de anos atrás. Ao reexaminar e remodelar cuidadosamente o objeto celeste, os astrônomos agora acreditam que a Smith Cloud contém e está realmente envolvida em um “halo” substancial de matéria escura – o material gravitacionalmente significativo e invisível que representa cerca de 80% de toda a matéria no universo.

“Com base na órbita prevista atualmente, nós mostramos que uma nuvem livre de matéria escura provavelmente não sobreviveria esta travessia do disco, enquanto uma nuvem com matéria escura facilmente sobrevive a passagem e produz um objeto que se parece com a Smith Cloud”, observou Jay Lockman, astrônomo do Observatório Nacional de Radioastronomia em Green Bank, nos Estados Unidos, e um dos coautores do artigo.

A Via Láctea é cercada de centenas de nuvens de alta velocidade, compostas principalmente de gás hidrogênio, que é muito rarefeito para formar estrelas em qualquer quantidade detectável. A única maneira de observar esses objetos, portanto, é com radiotelescópios extremamente sensíveis, como o GBT, que podem detectar a fraca emissão do hidrogênio neutro. Se fosse visível a olho nu, a Smith Cloud cobriria quase tanto do céu quanto a constelação de Orion.

A maioria das nuvens de alta velocidade compartilham uma origem comum com a Via Láctea – ou como blocos de construção que sobraram da formação da galáxia ou como aglomerados de materiais lançados por supernovas no disco da galáxia. No entanto, algumas vêm de mais longe no espaço, com sua própria “raça” distinta. Um halo de matéria escura fortaleceria o argumento de que a Smith Cloud seria uma dessas raras exceções.

Atualmente, a Smith Cloud está a cerca de 8.000 anos-luz de distância do disco da nossa galáxia. Ela está se movendo em direção à Via Láctea a mais de 150 quilômetros por segundo e deve se chocar conosco novamente em aproximadamente 30 milhões de anos.

Nichols explica que, caso seja confirmado que este corpo celeste é uma galáxia-anã falhada, a descoberta poderia definir novos limites para o quão pequenas as galáxias podem ser. Além disso, os pesquisadores acreditam que isso também poderia melhorar a nossa compreensão da formação estelar mais antiga da Via Láctea. [Science Daily]

2 comentários

  • Jean Carvalho:

    Queria entender melhor a fala do pesquisador: ““Com base na órbita (…), mostramos que uma nuvem de matéria escura livre…”

    • Cesar Grossmann:

      Está estranho, mesmo, dá a impressão que ele deveria estar falando de uma nuvem de hidrogênio, não de matéria escura.

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