Animal congelado de mais de 40 mil anos ainda tinha sangue líquido em seu corpo

Por , em 22.04.2019

Cientistas acabam de encontrar o mais antigo registro de sangue ainda líquido já descoberto em um animal. Ele pertence a um potro de uma espécie de cavalos já extinta de 42 mil anos, descoberto congelado no solo frio da Sibéria. O potro de cavalo Lena (Equus caballus lenensis) foi encontrado na cratera Batagaika, no leste da Sibéria, no ano passado. O potro tinha de uma a duas semanas de vida e tinha com 98 cm de altura no ombro quando morreu, provavelmente ao se afogar na lama. O permafrost gelado não só preservou a pele e o cabelo do potro até o mais ínfimo detalhe, como havia até urina bem preservada ainda dentro da bexiga do animal.

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“Uma autópsia mostrou que a carcaça do potro estava extremamente bem preservada, o corpo sem deformação. Os pelos também preservaram a maioria das partes da carcaça, especialmente na cabeça e nas pernas”, diz Semyon Grigoriev, chefe do Museu Mammoth da Universidade Federal do Nordeste em Yakutsk, na Rússia, em matéria da rede CNN.

Segundo Grigoriev, esta é a segunda vez que um animal descongelado da Era do Gelo revelou conter sangue líquido. Em 2018, Grigoriev e seus colegas extraíram o sangue líquido de uma carcaça de mamute de 32.200 anos.

De acordo com matéria do portal Live Science, Grigoriev e seus colegas, que já estavam tentando clonar um mamute e outros animais do período Pleistoceno, já estão também tentando clonar o potro. Grigoriev diz ao Live Science que este é um tiro no escuro, mas que “na Rússia dizemos que a esperança morre por último”.

Para alcançar esse objetivo, porém, o sangue é um elemento secundário. Os glóbulos vermelhos encontrados nestes animais não têm núcleos, portanto não contêm DNA. Para realizar a clonagem, os pesquisadores estão se concentrando em células musculares e órgãos internos. Mesmo nestas regiões, encontrar DNA em condições suficientemente boas para a clonagem é um grande desafio. O DNA começa a se degradar logo após a morte de um animal, mesmo em excelentes condições de preservação, como é o caso do permafrost.

Segundo Grigoriev, a equipe tem tentado extrair células intactas e DNA de qualidade do potro sem sucesso há dois meses.

Surpresa

Os pesquisadores nunca esperam encontrar sangue ainda em estado líquido em animais tão antigos. Normalmente, o sangue coagula ou se transforma em pó mesmo em carcaças bem preservadas, porque os fluidos gradualmente evaporam ao longo de milhares de anos. No mamute, apelidado de “Buttercup” (botão-de-ouro) pelos pesquisadores, o sangue foi preservado no gelo que havia dentro da carcaça.

Além de revelar detalhes sobre o animal, a autópsia do potro deve revelar muito também sobre o período Pleistoceno na Sibéria. Os pesquisadores estudarão a bioquímica da urina preservada, do conteúdo intestinal e dos órgãos do animal, além de amostras dos solos e plantas encontradas na camada de permafrost onde o potro morreu.

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Quanto à clonagem, os pesquisadores continuarão tentando, tanto em Yakutsk quanto no laboratório de Hwang Woo-suk, colaborador da pesquisa e CEO da Sooam Biotech, empresa de biotecnologia da Coréia do Sul. O Live Science lembra que Hwang possui um histórico de crimes registrados no campo da biogenética.

Ele foi considerado culpado de apropriação indébita e violações de bioética em 2009, depois que um conjunto de experimentos com clonagem de células-tronco humanas, publicado na revista Science em 2004 e 2005, acabou sendo falsificado. Ele voltou às manchetes anos depois por clonar cães para clientes ricos. De acordo com reportagem da época na revista Vanity Fair, sua empresa clonou mais de 1.000 cães. Ele também tem trabalhado com Grigoriev e sua equipe nas tentativas de clonar um mamute.

Grigoriev e seus colegas esperam que, se conseguirem recuperar o DNA viável de um mamute, possam inserir o DNA em um embrião de elefante livre de sua informação genética, implantar o embrião em um elefante e trazer de volta à vida esta espécie extinta e tão simbólica do período glacial da Terra. Um processo semelhante poderia funcionar para o cavalo Lena, usando cavalos modernos como substitutos. [Live Science, CNN]

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