Apresentador de TV usa mesmo terno por um ano e ninguém percebe
Acordar uma hora antes de sair de casa. Ainda meio sonolenta, ser cegada pela luz do celular ao olhar a previsão do tempo. Refletir se vale mesmo a pena confiar naqueles números suspeitos e arriscar ser pega de surpresa por uma tempestade de verão justamente quando se está usando a sua sapatilha nova. Finalmente sair da cama, tomar café da manhã e um banho e provar uma ou duas combinações de roupas até decidir pela escolhida do dia. Secar pelo menos a franja e dar um jeito na cara amassada pelo travesseiro. E, só então, sair de casa.
Enquanto essa é a rotina de várias mulheres em diversos lugares do mundo, a maior parte dos homens apenas acorda, come alguma coisa e escolhe uma calça e uma camisa que não pareçam muito bizarras quando usadas ao mesmo tempo. Isso tudo em aproximadamente 30 minutos – contando com o banho. É, ser mulher no nosso contexto social dá um trabalho danado. Se você resolve fugir desse padrão muito bem delimitado, fatalmente vai ter que lidar com colegas e semi-conhecidos intrometendo-se na sua vida.
Agora imaginem vocês o que a Fátima Bernardes, na época em que era âncora do Jornal Nacional, teria que aguentar se resolvesse ir contra a maré e apresentasse o programa não com um terninho bem diferente a cada dia, mas o exato oposto disto. Sim, eu também consigo ver a multidão com as tochas e foices.
Foi exatamente isto, porém, que um jornalista australiano resolveu fazer para provar um ponto. Karl Stefanovic usou o mesmíssimo terno – uma imitação barata da Burberry – por um ano. Como era de se esperar, ninguém disse coisa alguma a respeito.
Stefanovic é uma personalidade da TV australiana e coapresentador do telejornal matinal Today. Lisa Wilkinson, sua coapresentadora, enfrenta constantemente críticas e conselhos de moda geralmente não solicitados vindos dos telespectadores. Frustrado com isso, o colega decidiu fazer uma pequena experiência. Durante um ano, salvo um par de casos, ele usou exatamente o mesmo terno barato (com uma camisa e gravata diferentes) só para ver se alguém iria dizer algo.
“Ninguém notou, ninguém dá a mínima”, disse Stefanovic ao revelar a façanha. “Mas as mulheres usam a cor errada e são repreendidas. Elas dizem a coisa errada e há milhares de tweets escritos sobre elas. As mulheres são julgadas mais severamente e profundamente pelo que fazem, dizem e o que vestem”.
À exemplo do que acontece por aqui, em outros países os apresentadores de grandes programas jornalísticos também viram celebridades. Desta forma, a aparência das mulheres está sempre sujeita à crítica, enquanto os homens dificilmente são julgados na mesma proporção. É o famoso duplo padrão apontado pelas relações de gênero desiguais.
“Eu usei a mesma roupa no ar por um ano – com exceção de um par de vezes por causa de circunstâncias – para provar um ponto”, conta. “Eu sou julgado pelas minhas entrevistas ou pelo meu senso de humor terrível – sobre como eu faço o meu trabalho, basicamente – enquanto as mulheres são muitas vezes julgadas pelo que estão vestindo ou como seu cabelo está”, explica, destacando o argumento defendido por ele durante o experimento.
Apenas Lisa Wilkinson e outro membro do Today sabiam o que Stefanovic estava fazendo. E, por mais divertido e interessante que isso seja, ele mostrou algo que todos nós já sabemos: as mulheres lidam diariamente com o duplo padrão.
Só esperamos que ele tenha usado o tempo que economizou todas as manhãs com seu gesto admirável para levar seu terno a uma lavanderia de vez em quando. [Jezebel]