Humanos desceram das árvores muito depois do que se pensava
Uma análise dos ossos de uma garotinha que morreu 3,3 milhões de anos atrás na África Oriental sugere que nossos ancestrais desceram das árvores mais tarde do que muitos cientistas pensavam.
As omoplatas fossilizadas de Selam, uma menina de três anos de idade descoberta em Dikika, na Etiópia, mostram características que sugerem que ela e sua família eram excelentes “escaladores”, apesar de também serem adaptados para andar no chão.
Ou seja, este hominídeo já era bípede, mas continuou a subir em árvores, como os seus antepassados símios. Humanos e macacos supostamente compartilharam seu último ancestral comum cerca de 6,5 milhões de anos atrás.
O exemplar-chave
Selam (que significa “paz”) é um exemplo muito bem preservado da Australopithecus afarensis, espécie precursora importante dos modernos seres humanos. Ela é da mesma espécie que Lucy, o famoso esqueleto de 3,2 milhões de anos descoberto em 1974.
Embora A. afarensis seja uma espécie que já andava verticalmente, a questão de saber se também passava boa parte de seu tempo nas árvores era muito debatida, em parte porque um conjunto completo de omoplatas nunca tinha sido encontrado para análise.
Recentemente, no entanto, David Green, da Midwestern University em Illinois (EUA), afirmou que os novos fósseis fornecem fortes evidências de que esses indivíduos ainda subiam em árvores nesta fase da evolução humana.
A pesquisa
Encontrar omoplatas intactas e anexadas a um esqueleto é muito raro, pois elas dificilmente fossilizam, e, quando o fazem, são quase sempre fragmentárias.
Por conta disso, o estudo leva os cientistas mais perto de responder à pergunta “quando nossos antepassados abandonaram o comportamento de escalada?”.
Selam é o esqueleto mais completo de sua espécie já descoberto. Depois de libertar as omoplatas do arenito que a envolvia, os pesquisadores as digitalizaram e fizeram medidas detalhadas para compará-las com as de humanos modernos e grandes macacos.
A análise da forma e da função dos ossos revelou que o estilo de vida da espécie era parcialmente ligado às árvores. Ao mesmo tempo, seu quadril, perna e pés eram adaptados para andar na posição vertical.
Quando os cientistas compararam a escápula de Selam com a de membros adultos da Australopithecus afarensis, ficou claro que seu padrão de crescimento foi mais consistente com o de macacos do que com o de humanos.
A descoberta confirma o lugar central que a espécie de Lucy e Selam ocupa na evolução humana. Mesmo bípede como seres humanos modernos, A. afarensis era ainda um grande escalador. Apesar de não ser totalmente humano, estava claramente nesse caminho.
Green acredita que o Homo erectus, um ancestral do Homo sapiens que viveu há 1,9 milhão de anos, tinha uma morfologia que o tornava mais similar aos humanos modernos e parece ser, até o momento, a primeira espécie estritamente bípede.
Descer das árvores e aprender a andar ereto sobre duas pernas é considerado pela ciência um dos momentos decisivos na história evolutiva humana, que levou nossos antepassados a tomar decisões mais sofisticadas, como controlar o fogo, e a um comportamento social mais complexo.
O estudo foi conduzido pelas instituições Midwestern University e California Academy of Sciences, e publicado na revista Science.[DailyMail, Independent]
1 comentário
Muito boa a matéria.