É assim que o universo se parece através dos olhos de raios-X

Por , em 19.06.2020

Essa imagem incrível mostra o universo visível em comprimentos de onda de raios-X. Ela foi feita pelo telescópio espacial eROSITA, que vem escaneando o céu inteiro desde julho de 2019.

Outro patamar

O primeiro levantamento do eROSITA (do Obversatório Spektrum-Röntgen-Gamma, uma colaboração russa e alemã) compilou mais de um milhão de objetos brilhantes em raios-X, aproximadamente o dobro do que havia sido levantado nos últimos 60 anos de pesquisas astronômicas.

“A imagem acima muda completamente a maneira como olhamos para o universo energético”, afirmou o astrofísico Peter Predehl, principal investigador da missão eROSITA e membro do Instituto Max Planck (Alemanha).

“Estávamos todos aguardando ansiosamente o primeiro mapa do eROSITA. Grandes áreas do céu já foram cobertas em muitos outros comprimentos de onda, e agora temos os dados de raios-X. Precisamos dessas outras pesquisas para identificar as fontes de raios-X e entender sua natureza”, complementou a astrofísica Mara Salvato, também do Instituto Max Planck.

Raios-X = muita energia

A maioria dos objetos astronômicos emite raios-X, mas em proporções diferentes em relação a outros comprimentos de onda.

Raios-X possuem comprimentos muito curtos de onda, e por consequência muita energia. Logo, são emitidos por alguns dos objetos mais quentes e energéticos do universo, como supernovas, buracos negros, estrelas de nêutron e quasares.

Remanescente de supernova na constelação de Vela

Obrigado, eROSITA

Raios-X são invisíveis a olho nu. Além disso, essas emissões são em sua maioria bloqueadas pela atmosfera terrestre, de maneira que a única forma de as estudar é enviando telescópios ao espaço.

Não admira que o universo em raios-X pareça bem diferente do que estamos acostumados quando miramos o céu à noite, não é mesmo?

Ainda mais o universo captado pelas lentes do eROSITA. Enquanto diversos outros telescópios já viajaram pelo universo levantando dados em raios-X, este possui um alcance quatro vezes maior do que o último instrumento utilizado para esse tipo de pesquisa, o satélite ROSAT.

Seu levantamento coletou o equivalente a 182 dias de dados, com cada exposição contendo entre 150 a 200 segundos, totalizando 165 gigabytes. Todas essas informações brutas, por sua vez, tiveram que ser processadas por uma equipe de astrônomos.

O que vemos no mapa?

Cerca de 77% do mapa é composto pelo brilho de buracos negros supermassivos ativos, conforme eles engolem material dos núcleos das galáxias. Estes objetos são extremamente energéticos, e existem muitos deles no céu.

Já cerca de 2% dos dados vêm de aglomerados de galáxias brilhando em raios-X por conta do gás quente retido por sua gravidade coletiva. Aliás, o mapa também revela a estrutura de gás quente dentro da própria Via Láctea, o que pode levar a novos estudos fascinantes.

Superaglomerado Shapley, a maior concentração de galáxias no universo próximo

Falando em objetos próximos a nós, aproximadamente 20% dos dados vêm de estrelas da nossa galáxia com coroas quentes e magneticamente ativas.

Beta Centauri é a segunda estrela mais brilhante da constelação de Centaurus e a décima mais brilhante do céu

O 1% restante é composto de objetos diversos, como restos de supernovas e jatos emitidos por estrelas despedaçadas por buracos negros.

Próximos passos

Toda essa riqueza de detalhes, ainda que muito impressionante, é só o começo: nos próximos anos, sete novos levantamentos serão feitos e combinados em um mapa vasto e extremamente sensível do universo em raio-X. Mal podemos esperar!

“Já estamos amostrando um volume cosmológico do universo quente muito maior do que era possível antes. Nos próximos anos, seremos capazes de sondar ainda mais longe, onde as primeiras estruturas cósmicas gigantes e buracos negros supermassivos estavam se formando”, concluiu o astrofísico Kirpal Nandra, do Instituto Max Planck. [ScienceAlert]

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