Se você passeou um pouco pelas redes sociais na última quinta-feira, é possível que tenha se deparado com a hashtag #PotterDay. Isso porque o dia 31 de julho marca o aniversário do bruxo Harry Potter e também da autora da saga, a britânica J. K. Rowling. Porém, se os fãs ainda não tinham motivos suficientes para celebrar – spoiler: eles sempre têm -, um estudo, publicado no “Journal of Applied Social Psychology”, revelou que ler a série faz com que as pessoas sejam menos propensas a discriminar minorias.
De acordo com uma pesquisa da Universidade de Modena e Reggio Emilia, na Itália, a leitura da série – e a consequente identificação com o protagonista – melhorou significativamente a percepção dos jovens sobre grupos estigmatizados, como imigrantes, homossexuais ou refugiados. Três estudos foram conduzidos para que os pesquisadores chegassem a essa conclusão.
O primeiro pegou 34 alunos italianos da quinta-série, fez com que preenchessem um questionário sobre imigrantes e os mergulhou em um curso de seis semanas sobre “o menino que sobreviveu”. Então, foram divididos em dois grupos que leram passagens selecionadas da série. Os alunos do primeiro grupo discutiram o preconceito e a intolerância como temas dos livros, enquanto os outros leram passagens não relacionadas a estes temas, servindo como um grupo de controle. Os alunos do primeiro grupo mostraram “melhores atitudes em relação a imigrantes”, mas apenas quando se identificaram com Potter.
Um segundo estudo, com 117 estudantes do ensino médio italianos, descobriu que a identificação emocional do leitor com Harry estava associada a uma percepção mais positiva das pessoas LGBT em geral. Já o terceiro, que entrevistou estudantes universitários do Reino Unido, em última análise, não encontrou associação entre um vínculo emocional com Harry e percepções a respeito de refugiados. Porém, mesmo assim indicou que os estudantes que tiveram uma identificação emocional menor com Voldemort “tinham melhores atitudes para com os refugiados”.
Em todos os três estudos, os pesquisadores creditaram os livros com a melhoria da capacidade dos leitores em assumir a perspectiva de grupos marginalizados. Eles também alegaram que as crianças, com a ajuda de um professor, foram capazes de compreender que o apoio frequente de Harry a “sangues-ruins” (bruxos que tinham ascendência “trouxa”, ou seja, vinham de uma família não mágica) era uma alegoria para a intolerância existente na sociedade na vida real.
A intolerância, observam os pesquisadores, é um tema constante na série de romances fenomenalmente populares. Voldemort, que representa o mal puro, faz argumentos que têm paralelos “óbvios” com o nazismo, escrevem, notando que ele acredita que todo o poder deve residir em bruxos e bruxas “puro-sangue”, em oposição aos mestiços e aos “sangues-ruins”.
Além disso, Harry e seus amigos interagem com diversas espécies sub-humanas, como elfos e duendes, que se queixam regularmente sobre serem forçados a papéis subservientes, não muito diferentes do que ocorreu e ocorre com negros, durante a escravidão ou o apartheid da África do Sul. Harry “tenta compreendê-los e compreender as suas dificuldades”, escrevem os pesquisadores.
O estudo é consistente com uma pesquisa da Universidade Washington and Lee (EUA), publicada no início deste ano, que constatou que a leitura de ficção literária pode reduzir o racismo, ajudando os leitores a se identificarem com personagens de diversas origens. Além disso, também vai de encontro à opinião da própria Rowling, que já afirmou que os livros da saga “em geral, são um argumento prolongado pela tolerância, uma súplica prolongada pelo fim da intolerância”. [Medical Daily, Pacific Standard, Mic.com]