Mito de supercondutor a temperatura ambiente é destruído

Por , em 28.11.2023

Um artigo de pesquisa publicado em 24 de novembro na revista Matter, sob a liderança do Professor Luo Jianlin, do Instituto de Física da Academia Chinesa de Ciências, trouxe novas perspectivas sobre o composto Pb10-xCux(PO4)6O (0.92S). Essa descoberta fornece uma prova definitiva de que a substância LK99 não possui propriedades supercondutoras, contrariando afirmações anteriores que indicavam o contrário.

Antes dessa revelação, Sukbae Lee e sua equipe na Coreia do Sul sugeriram que o LK-99 agia como um supercondutor sob condições de pressão ambiente, atingindo uma temperatura crítica de supercondutividade de até 127°C (400 K). Tal hipótese gerou grande entusiasmo na comunidade científica e no público geral, especialmente em plataformas de mídia social, devido às suas potenciais implicações no campo tecnológico.

Conforme reportado pela Nature News, as supostas propriedades supercondutoras do LK-99 rapidamente se tornaram um tema de grande interesse, motivando uma série de tentativas de replicação por cientistas profissionais e entusiastas amadores. Apesar dos diversos esforços, evidências conclusivas da supercondutividade no LK-99 não foram apresentadas. O principal enigma permaneceu: por que ocorria uma diminuição tão significativa na resistência elétrica e por que isso se manifestava apenas em algumas amostras do LK-99.

Dependência da temperatura na resistividade de Cu2S, LK-99 incluindo Cu2S. Crédito: Instituto de Física

Na investigação conduzida, Luo Jianlin e sua equipe descobriram que as amostras de LK-99 produzidas por Lee e seus colaboradores continham uma quantidade significativa de impureza de Cu2S. Essa impureza passa por uma transição de uma estrutura hexagonal em temperaturas mais altas para uma estrutura monoclínica em temperaturas mais baixas, em torno de 400 K. A equipe observou uma redução drástica na resistência elétrica do Cu2S próximo a 385 K, uma temperatura próxima àquela relatada em estudos anteriores.

Além disso, ao analisar a resistividade combinada do LK-99 misturado com Cu2S, identificaram uma transição nítida na resistividade em temperaturas condizentes com as descobertas anteriores, mas sem alcançar resistência zero.

O estudo ressalta uma diferença crucial: a transição observada nesses compostos é uma transição estrutural de primeira ordem, fundamentalmente diferente de uma transição supercondutora de segunda ordem. Os pesquisadores notaram histerese térmica tanto nas medições de resistividade quanto de suscetibilidade magnética, reforçando a conclusão de que a transição observada no LK-99 é de primeira ordem, não indicativa de supercondutividade.

A descoberta desafia a noção previamente estabelecida de que o LK-99 poderia representar um avanço significativo na busca por materiais supercondutores operando em temperaturas mais altas. Este resultado também enfatiza a importância de uma análise detalhada e minuciosa na pesquisa científica, especialmente em campos de estudo tão complexos e inovadores como o da supercondutividade.

A equipe de Luo Jianlin demonstrou, através de sua pesquisa meticulosa, que conclusões precipitadas e não verificadas podem levar a interpretações errôneas e até mesmo a uma falsa percepção de avanço tecnológico. Seu trabalho serve como um lembrete do valor do rigor científico e da necessidade de validação independente em pesquisas de ponta.

Ao desvendar o mistério em torno do LK-99, os pesquisadores não apenas corrigiram um equívoco comum, mas também contribuíram para a compreensão mais ampla dos processos e mecanismos subjacentes à supercondutividade. Este estudo oferece um exemplo claro de como a ciência, através de investigações cuidadosas e análises críticas, pode esclarecer e até desmistificar afirmações que, à primeira vista, parecem promissoras, mas que, sob escrutínio rigoroso, revelam-se diferentes do esperado. [Phys]

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