A estranha mosca que “desenhou” aranhas nas próprias asas

Por , em 12.11.2013

Esse é um caso interessante de mimetismo: uma mosca da família dos tefritídeos (a “verdadeira” mosca-da-fruta) é capaz de afastar predadores ao projetar asas que parecem conter formigas ou aranhas.

A Goniurellia tridens é um inseto “3 em um”. A foto acima foi tirada por Peter Roosenschoon em Dubai. Embora pareça estranha, a imagem da asa é absolutamente perfeita, explica a Dra. Brigitte Howarth, especialista mosca na Universidade de Zayed (Emirados Árabes Unidos).

A espécie é conhecida desde 1910 e encontra-se no Oriente Médio e na Ásia. A Dra. Howarth viu a G. tridens pela primeira vez em um arbusto no norte de Omã. “Eu estava olhando para o caule de folhas e notei que havia alguns insetos rastejando ao redor”. No início, ela suspeitava de uma infestação nas asas da mosca. “Mas era tão simétrico que eu pensei ‘isso não é possível’. Quando a olhei sob o microscópio, percebi que eram insetos pintados sobre as asas”, conta.

Em contraste com suas asas e olhos verdes brilhantes, o corpo da mosca é de um cinza esverdeado opaco, que combina com as folhas onde se encontra. E porque ela “precisa” ter aranhas pintadas nas asas?

“Quando ameaçada, a mosca pisca suas asas para dar a aparência de aranhas andando para trás e para frente. O predador fica confuso e foge”, argumenta Howarth.

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Alguns tefritídeos também têm marcas de aranha sobre eles. Aparentemente, é para escapar de uma aranha predadora que, quando vê as marcas e pensa estar em frente a uma colega, se mostra. Essa exposição sinaliza a presença da aranha, permitindo que a mosca fuja.
Howarth também sugere uma função sexual. “Esse mecanismo de defesa também pode tornar a mosca atraente para potenciais parceiros – algo que é menos preocupante para a mosca média. Geralmente, o macho não é exigente, e monta qualquer fêmea. Mas a G. tridens tem um namoro bem mais amoroso, mostrando suas asas em uma dança colorida”, diz.

Também existe a possibilidade de que a semelhança com as aranhas facilite a sobrevivência ou a reprodução da mosca. “Este comportamento pode ser elaborado como uma resposta ao ambiente restritivo da mosca. Algo que pode sobreviver em qualquer lugar não precisa ter tantos fatores de proteção”, conclui Howarth.

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A verdade é que nós não sabemos exatamente por que essa mosca tem tais marcações, mas com tempo e estudo, podemos sugerir algumas hipóteses testáveis. [WEIT]

22 comentários

  • Ronaldo Rhusso:

    Em pensar que o ancestral mais antigo dessa mosca é o mesmo ancestral humano, ou seja, uma ameba… Salve Darwin!!!! \\o

  • Denise da Silva:

    Vemos aí revelado que há um projetista por trás de toda esta beleza e inteligência. Num processo evolutivo jamais aconteceria. Deus!

    • Marcelo Ribeiro:

      Antes de afirmar isto, por favor, se informe. Do contrário fica parecendo que nega por negar, por ideologia cega, obediência sem sequer analisar a apurar os fatos. Use a sua mente, sua razão. Se Deus existe ele “te deu” estas capacidades por uma razão e não para repetir o que o pastor te conta cegamente. Esse é um exemplo perfeito da SELEÇÃO natural moldando os animais e não o contrário.

    • Cesar Grossmann:

      Existem outras espécies de moscas com manchas nas asas que não se parecem com nada. O projetista dormiu? Ou não existe?

  • JOTAGAR:

    A fábula das mutações com seleção natural neste caso é encantadora. Só penso como seria melhor a nossa genética se isso também funcionasse com seres humanos.

  • William Tavares:

    A natureza não para de nos surpreender.

  • Attilio Sousa:

    A evolução é esplêndida!

  • Tadeu Montenegro:

    Um belo dia, a mosca acordou pensativa: “Gente! preciso fazer alguma coisa, tomar uma atitude. Estou cansada de ser presa fácil para tantos inimigos… Já sei! Vou desenvolver um mimetismo incomum, fazendo com que surjam nas minhas asas imagens de insetos mais horrendos do que eu! Assim espantarei boa parte dos eventuais predadores. Atenção! Acaso, preciso de você: faça surgir no DNA a informação necessária para que assim aconteça.
    E assim foi.

    • Cesar Grossmann:

      Bonitinha estoria, mas não é assim que as coisas funcionam na natureza. A mosca foi selecionada pelos predadores.

      Alguma mosca nasceu com manchas nas asas, e os predadores a deixaram em paz. O resultado foi que os descendentes daquela mosca começaram a ter vantagens contra o predador que via as manchas como algo ameaçador.

      Entre duas moscas com manchas nas asas, uma com manchas simples, e outra com as manchas mais elaboradas, o predador pode decidir que uma delas é só uma mosca com manchas enquanto a outra é mais sinistra, e comer a mosca que tem manchas mais simples.

      Desta forma, a cada geração as manchas vão ficando mais elaboradas, através de processos de mutação e seleção natural.

      Onde fica o teu deus, agora? É ele que faz as mutações? Então o nome dele é Acaso.

    • Edir Marcelo Zucolli:

      Receio que no caso de alguns, só se houver na asa da mosca a frase “eu não evolui”, de preferência em português, inglês e espanhol, para que não haja qualquer dúvida.

    • Cesar Grossmann:

      Este seria um evento difícil de explicar usando o naturalismo. Mas não dá para descartar o caso de fraude, lembra a história das formiguinhas que deixavam mensagens na forma de buracos em folhas?

    • Edir Marcelo Zucolli:

      Isto que eu sugeri é uma hipérbole, Cesar! Não é preciso tocar tal extremo para refutar a evolução e patrocinar alguma visão mais etérea daquilo que nós não presenciamos (é óbvio que a maioria a recusará). Falta saber que imagem deveria surgir na asa da borboleta para que você se disponha a recuar e abrir mão de parte das tuas convicções.

    • Cesar Grossmann:

      Edir, se a ciência disser que houve influência de um designer, eu vou aceitar — eu não sou especialista, e não é correto ou inteligente você ter como verdadeira a opinião contrária dos especialistas.

      E por que esta importância toda para a opinião dos especialistas, visto que eles podem estar enganados? Por que eles sabem muito mais sobre o assunto do que eu. Eles trabalham com isto o dia todo, todos os dias da vida deles. Não tem como competir em conhecimento se você não se dedicar de forma idêntica a estudar, a experimentar, a observar, a coletar, a catalogar, a analisar, a testar, a verificar, e a submeter suas conclusões à crítica feroz dos concorrentes.

      Se eles chegarem a conclusão que uma mancha não pode ser explicada por meios naturalistas, eu vou concordar com a conclusão deles. Se eles não chegarem a um consenso, então eu não vou nem discutir a questão. E se eles acharem que não há dados suficientes para ter uma posição, muito menos eu.

      As manchas em forma de formiga ou de aranha tem sua explicação evolutiva, não tem por que apelar para mágica ou intervenção sobrenatural. Mutações acontecem, seleção natural existe, e todo o resto é perfeitamente plausível.

      O que não dá para admitir é alguém chegar com uma explicação mágica, como fez o Tadeu, e dizer que esta é a versão da ciência. Não é. Aliás, sempre que um criacionista falar sobre evolução, prepare-se para ouvir groselha.

    • Edir Marcelo Zucolli:

      No passado a ciência tentou sugerir a existência de um designer. Bons tempos os de Robert Boyle e Isaac Newton, ambos cientistas renomados e ainda assim profundamente religiosos… Mas, depois de Charles Darwin houve uma guinada e eu não vejo perspectivas de mudanças. Ou a visão fria e materialista de ciência oficial, ou os criacionistas negando o óbvio e falando “groselha”. Pobre ser humano que sempre abandona as propostas equilibradas para tocar em extremos… E, para gastar um pouco mais o meu latim, digo: “Sic transit gloria mundi!”

    • Cesar Grossmann:

      Não sei se dá para dizer que é uma visão fria e materialista. Bom, materialista ela é com certeza, mas não é destituída de experiências místicas: são, em grande parte, as experiências místicas que definem cientistas como Richard Dawkins, e outros, a dedicarem suas vidas a tentar compreender a natureza.

  • Jussara Gonzo:

    Criacionistas usando isto como prova divina em 1,2,3…

    • Cesar Grossmann:

      Não demorou muito, Jussara.

    • Basilio Monteiro Filho:

      Sou a parte de qualquer uma das teorias mas, é mais fácil acreditar racionalmente no criacionismo (mesmo tendo controvércias ao extremo) do que no evolucionismo. Essa de se passar milhares de anos para que desenhos de aranhas(ou formigas)aos pucos apareçam nas asas de uma mosca? É ridiculo.

    • JOTAGAR:

      Ei! Já li comentário semelhante aqui…isto é plagio ou falta de criatividade???

    • Cesar Grossmann:

      Basílio, é mais racional acreditar em magia, feitiçaria, milagres? Você tem um conceito estranho de racionalidade, “quando não houver uma explicação, diga que foi milagre”.

      Por que é tão absurdo que em milhares de anos apareçam manchas em asas de mosca que são semelhantes a formigas ou aranhas? Em poucos milhares de anos todas as espécies de cães foram criadas pela seleção artificial, um processo semelhante ao natural, com a diferença que a seleção não é feita pelas contingências da natureza, mas pela vontade dos criadores de cães.

      Se em poucos milhares de anos o homem é capaz de criar tanta diversidade, quanto mais a natureza, que conta com bilhões de anos e, no caso das moscas, várias gerações por ano.

    • Elizandro Roos:

      Pois é. Eu já percebi que não adianta discutir com eles. Religião é uma coisa que não se discute. Sigo minha vida.. fazer o que. Já teve tempos q eu ficava muito de cara com isso. rs

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