Mulher parece ter sido completamente curada do HIV após tratamento médico único

Por , em 18.02.2022
HIV infected 293T cell. Coloured scanning electron micrograph (SEM) of a 293T cell infected with the human immunodeficiency virus (HIV, pink dots). Small spherical virus particles, visible on the surface, are in the process of budding from the cell membrane. Any non highlighted vesicles of uneven shape are exosomes, thought to be involved in cell communication and transmission of disease, and under investigation as a means of drug delivery. Because 293T cells have lost their ability to protect themselves from viral infection, something that all cells are normally very good at, 293T are easily transfected, or infected, and can be used to produce large amounts of virus. This makes these cells an extraordinarily valuable tool in medicine and research. Magnification x 8000 at 10cm wide. Specimen courtesy of Greg Towers, UCL

Dez anos atrás, uma mulher americana que não foi identificada foi diagnosticada com HIV. Como 1,5 milhão de pessoas testam positivo no Brasil a cada ano, ela enfrentou uma vida inteira de terapias antirretrovirais para evitar que o vírus destruísse seu sistema imunológico.

Isso não acontece mais com ela hoje.

A paciente faz parte de um clube extremamente exclusivo de indivíduos que parecem ter expulsado o vírus inteiramente de seus corpos.

Uma equipe de pesquisadores nos EUA que trabalham como parte da Rede Internacional de Ensaios Clínicos Materno Pediátrico para Adolescentes em AIDS (IMPAACT) relatou recentemente que a paciente de meia-idade estava livre do vírus há mais de quatro anos após um tratamento revolucionário para câncer no sangue.

Apenas dois outros casos de remissão total do HIV foram confirmados satisfatoriamente, ambos após transplantes de medula óssea de doadores com mutações bloqueadoras do HIV no tratamento da leucemia.

Um deles, um homem caucasiano conhecido como “paciente de Berlim”, estava em remissão por mais de uma década antes de falecer em 2020 de seu câncer. O outro, um homem latino apelidado de “paciente de Londres”, está livre do vírus há mais de dois anos.

Assim como esses dois pacientes renomados, a mulher no centro deste último caso também foi diagnosticada com câncer no sangue. Em 2017, testes confirmaram que ela tinha leucemia mielóide aguda (LMA), uma condição com risco de morte que afeta a medula óssea.

Se a mulher fosse branca, ela teria uma chance maior de encontrar um tecido compatível dentro da biblioteca de doadores voluntários dominada pelos caucasianos.

Em vez disso, dada sua herança mestiça, os especialistas se voltaram para outra fonte de células-tronco que poderiam fornecer or germes para uma medula óssea nova e saudável – o sangue do cordão umbilical.

Ao contrário da maioria dos transplantes de tecidos, o sangue do cordão umbilical de um recém-nascido não requer uma combinação imunológica perfeita entre o hospedeiro e o doador. Desde a década de 1990, mais de 35 mil pacientes com leucemia em todo o mundo receberam uma doação de sangue do cordão umbilical.

Embora seja a principal escolha de tratamento para a LMA, o sangue do cordão umbilical leva semanas para se estabelecer e gerar glóbulos brancos (leucócitos) suficientes para manter longe as infecções. Isso o torna uma péssima opção para quem lida com uma infecção mortal persistente.

Para contornar esse problema, a equipe médica da paciente desenvolveu uma estratégia em duas frentes – receber infusões de sangue de um parente compatível para fornecer uma defesa temporária e células-tronco do cordão umbilical que poderiam gerar lentamente seus leucócitos.

A paciente sortuda recebeu células do cordão umbilical mais talentosas do que o esperado. Seu DNA carregava duas cópias da mutação delta-32 CCR5.

Essa pequena diferença genética altera a expressão do co-receptor CCR5, a porta de entrada que a maioria das cepas de HIV usa para entrar nas células do corpo. Sem acesso fácil aos glóbulos brancos, o vírus não pode invadi-los e destruí-los.

Cerca de três meses após o transplante, todos os leucócitos e mieloides da paciente (leucócitos que devoram invasores) foram derivados não de sua medula antiga ou do sangue de seu parente doador, mas das células-tronco do sangue do cordão umbilical.

Isso significa que todos eles apresentavam a versão protetora do co-receptor CCR5, bloqueando seu HIV para sempre.

Desde então, o paciente interrompeu toda a medicação anti-retroviral, não apresentando sinais de partículas de HIV ativas.

As células-tronco do sangue do cordão umbilical são uma excelente terapia contra leucemia, em comparação com as formas mais tradicionais de células-tronco do sangue de um doador. Por um lado, parece haver um risco reduzido de recaída.

Além disso, os efeitos colaterais comuns entre os transplantes de medula, como a doença do enxerto versus hospedeiro, são menos prováveis. De fato, a paciente neste caso deixou o hospital apenas 17 dias após o tratamento.

Mais emocionante, o fato de que o sangue do cordão umbilical é mais tolerante em termos de compatibilidade entre doadores e hospedeiros significa que pessoas de diversas origens étnicas e raciais podem finalmente ser elegíveis.

Os pesquisadores apresentaram suas descobertas preliminares na Conferência de 2022 sobre Retrovírus e Infecções Oportunistas, embora ainda não publiquem ou disponibilizem suas pesquisas publicamente.

Por enquanto, o estudo apresenta uma possibilidade empolgante de curar uma fração das pessoas portadoras de HIV – uma pandemia em andamento que atualmente afeta quase 40 milhões de pessoas em pelo mundo.

Isso não quer dizer que esta nova terapia estaria disponível para todas as pessoas que vivem com HIV, pelo menos não tão cedo. Os riscos envolvidos ainda significam que é uma opção disponível apenas para o tratamento de leucemias mortais, com a chance de curar o HIV como um bônus. O tratamento é muito agressivo e arriscado, com alto risco de morte.

Mas para aqueles poucos pacientes elegíveis atingidos com diagnóstico de câncer e HIV, é uma pequena para um futuro um pouco melhor. [Science Alert]

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