Médicos descobrem uma mulher que não tem cerebelo

Por , em 13.09.2014

Essa mulher deu todo um novo sentido para a expressão “perder a cabeça”. No auge dos seus 24 anos, ela estava se queixando de tonturas e náuseas. Então, os médicos decidiram que o melhor era interná-la para mantê-la em observação. Em algum momento, ela contou que teve problemas de equilíbrio a vida inteira.

Essa combinação de sintomas já é suficiente para a gente não esperar o melhor prognóstico do mundo, mas os médicos continuaram investigando. E quando realizaram uma varredura completa no seu cérebro, imediatamente perceberam qual era o problema: estava faltando uma pecinha chamada cerebelo.

O que é o cerebelo?

O cerebelo, que é latim para “pequeno cérebro”, é um pequeno pedaço de massa encefálica situado abaixo e na parte de trás do cérebro. Ele contém uma alta densidade de neurônios – apesar de ser responsável por apenas 10% do volume total do cérebro, é capaz de gerenciar mais da metade do total de neurônios disponíveis.

Ou seja: viver muito anos sem um cerebelo está, devo dizer, muito longe de ser algo comum. Tanto que essa paciente de 24 anos de que estamos falando é apenas uma das NOVE pessoas conhecidas que viveram tanto tempo nessas condições.

Médicos descobriram uma mulher sem cerebelo

O caso dessa mulher apresenta um exemplo fascinante de neuroplasticidade – processo pelo qual uma ou mais regiões do cérebro se adaptam para compensar danos causados a uma área diferente do cérebro, ou uma perda de alguma função corporal.

Se você perder um dedo, por exemplo, as representações neurais dos dedos vizinhos ficam maiores, de forma que eles ficam mais sensíveis. Da mesma forma, se uma pessoa tem o nervo óptico comprometido, os neurônios dedicados à visão são “realocados” para ajudar em outras funções cognitivas. Esta é inclusive uma razão pela qual os cegos tendem a ter uma excelente capacidade de audição.

No caso da mulher, no entanto, a parte do corpo em falta não é um dedo ou um nervo óptico, mas um grande pedaço de cérebro. O cerebelo desempenha um papel importante no controlo motor, auxiliando na executando de funções de coordenação e movimento. A equipe do neurocirurgião Feng Yu, responsável pelo caso, chama essa condição de um raro exemplo de completa agenesia cerebelar primária. “Esse fenômeno surpreendente”, como descrevem os médicos, “apoia o conceito da plasticidade do sistema motor extracerebelar, especialmente no que diz respeito à perda de cerebelo, que ocorre no início da vida”.

De acordo com Mitchell Glickstein, professor de neurociência da Universidade de Londres (Reino Unido), essa legação de que as pessoas com agenesia cerebelar completa podem ser inteiramente livres de sintomas é generalizada e mantida por uma tradição que a comunidade médica tem de achar que as pessoas que nascem sem um cerebelo podem não ter sintomas observáveis.

Na verdade, segundo ele, todos os casos documentados da doença tem sido associados a um atraso profundo no desenvolvimento do movimento normal.

Isso certamente parece ser o caso dessa mulher de 24 anos de idade. Segundo sua mãe, a paciente em questão não conseguia ficar em pé sozinha até os 4 anos de idade. Só aos 7 ela conseguiu andar sem a ajuda de ninguém.

Outras sintomas

As limitações de uma vida sem cerebelo não pararam por aí.

Ela só teria conseguido falar de forma inteligível aos 6 anos de idade, já que a dificuldade em articular palavras e sentenças é um dos sintomas sensíveis da disfunção cerebelar.

Hoje, no entanto, os sintomas da mulher sem cerebelo não chegam a ser caracterizados como “debilitantes”, mas sim como um leve atraso. Seus movimentos são “um pouco irregulares”, esclarecem os médicos. A equipe de Yu também ressalta que ela é casada e tem uma filha, e sua gravidez e parto não apresentaram grandes dificuldades. [io9]

Deixe seu comentário!