Os animais também possuem livre arbítrio

Por , em 21.02.2011

O homem, apesar das regras sociais e dos outros tipos de restrições, goza de livre arbítrio. Segundo pesquisadores, os animais também, desde as moscas até os mais evoluídos.

Claro que a ideia de “livre arbítrio” precisa ser redefinida. Entre os animais, o processo é semelhante, não idêntico.

Os animais têm sempre uma variedade de opções disponíveis para eles. Essas “escolhas” se encaixam numa probabilidade complexa. Entre os seres humanos, as escolhas são vistas como decisões conscientes. E nos animais?

Foi estabelecido há muito tempo que o “comportamento determinístico” – a ideia de que um animal provocado de tal forma vai reagir com a mesma resposta toda vez – não é uma descrição completa do comportamento animal.

Segundo os pesquisadores, mesmo os animais mais simples não são previsíveis. No entanto, a ausência de determinismo não sugere um comportamento completamente aleatório também – é por isso que a pesquisa mostra que o comportamento animal não é nem totalmente restrito, nem totalmente livre.

Experimentos com moscas revelaram que, embora o comportamento animal possa ser imprevisível, as respostas parecem vir de uma lista fixa de opções. Os cientistas acreditam que o livre arbítrio seja uma propriedade biológica, um traço de personalidade: o cérebro possui a liberdade de gerar comportamentos e opções.

O mecanismo exato pelo qual os cérebros de todos os animais produzem essa liberdade continua a ser uma questão sem resposta convincente.

Os pesquisadores utilizaram modelos matemáticos para simular a atividade do cérebro em um computador, descobrindo que o que funcionou melhor foi uma combinação de comportamento determinístico e um outro comportamento conhecido como estocástico (que parece aleatório, mas na verdade, segue um conjunto definido de probabilidades).

Essa “estocasticidade” mostra-se, por exemplo, em terremotos. Eles não podem ser previstos com precisão, mas ao longo do tempo se pode perceber que eles se encaixam perfeitamente em uma curva.

Tal como acontece com o comportamento animal, há uma ordem subjacente e a probabilidade de um processo que pode aparecer ao acaso. Segundo os pesquisadores, a probabilidade é a melhor descrição para a “livre escolha animal”, já que lidamos com a situação de que animais não pensam.

Ao pensar, os seres humanos têm todas as opções e, teoricamente, todas as opções têm a mesma probabilidade. Mas na vida real não é bem assim. Existem opções com probabilidades extremamente raras. Os pesquisadores também afirmam que os cérebros podem criar mecanismos que transtornem o elemento probabilístico do comportamento, dependendo da situação em mãos.

Os cientistas acreditam que o livro arbítrio animal seja resultado de uma evolução. A variabilidade que é inerente ao comportamento é um pré-requisito para a sobrevivência em um ambiente competitivo.

Ou seja, um predador não deve ser sempre capaz de adivinhar as ações de sua vítima, mas as ações não devem ser tão aleatórias que incluam opções ainda mais perigosas do que o predador.

No mundo da neurobiologia, a ideia tem certo apoio. Porém, são necessários mais resultados experimentais que correspondam aos modelos matemáticos.

Ainda assim, o debate sobre livro arbítrio é muito mais complexo, e a discussão atual não aborda temas como a consciência, as suas origens, ou se os animais a compartilham.

O livre-arbítrio, como descrito neste estudo, vem com um significado geral, um pré-requisito necessário, mas não está nem perto de ser suficiente para lidar com coisas como moralidade e responsabilidade. Ainda assim, lembram os cientistas, sem essa capacidade muito básica de escolher entre as opções, nós não teríamos que pensar em todas as outras coisas que vêm antes: consciência, educação, etc. [BBC]

13 comentários

  • Lucas Cardoso:

    Legal, mas para mim o livre-arbítrio não está na liberdade de escolher uma opção entre um leque de várias mas sim ter a opção de expandir as opções.
    Por exemplo as moscas, elas tem um gama de opções de comportamento, no entanto, uma delas não pode simplesmente parar tudo e ir produzir mel, querer virar uma abelha. Já nós seres humanos possuímos a capacidade, acredito que devido a imaginação, de expandir as opções, pensar fora da caixa, isso sim é livre-arbítrio.

  • Eduardo Olivira Ramos:

    SÓ QUE O HOMEM NÃO É ASSIM O HOMEM TEM UM LIVRE ARBÍTRIO BASTANTE AMPLO. ABERRE-O O SUFICIENTE E ELE FUNCIONARA A BASE DE BOTÃO DE PRESSÃO.

  • Luan:

    Cesar vc se acha tao inteligente, mas o que adianta disto se não sabe respeitar a opnião do próximo. Do que adianta tanta inteligencia e conhecimento acumulado e quase nada de sabedoria…

  • Nina:

    Pelo que está escrito então daria para se dizer que os humanos têm o livre-arbítrio semelhante a qualquer outro animal, variando apenas a quantidade de variáveis, como numa espécie de equação imensa. Claro que todas as pessoas respondem aos estímulos dentro de um leque de possibilidades, limituado pelos freios morais, bagagem cultural e processamento de entendimento do estímulo. Nada de mais até agora; os estudos de Etologia são relativamente antigos e esse artigo somente apresenta como novidade e tom bombástico o que já era visto na década de 70.
    Nada religioso, nada esotérico. Sou religiosa, mas sei que a ciência pode – e deve – permanecer fora do viés dos pontos de fé.

  • Aristides Neto:

    O livre arbítrio depende de fatores internos, que por sua vez, dependem dos fatores externos: cultura, personalidade, dentre outros. Se as circunstâncias se repetirem, provavelmente o resultado será o mesmo, desde que não faltem fatores ou que não sejam incluídos outros.
    A não repetição citada é a aleatoriedade. Que não é o caso do livre arbítrio.

  • criancinha:

    errata: leia-se “necessariamente”, ao invés de “necerrariamente”.

  • criancinha:

    Caso esse livre-arbítrio seja absoluto como alguns o vêem, deve ser independente de qualquer interferência exterior.

    Desse modo, se me pedem para imaginar um número qualquer. Eu imagino o número 3. Se voltar-mos no tempo à época exata em que eu imaginei o número. Caso meu livre-arbítrio seja independente de fatores externos, então mesmo que se refaçam, todas as circunstâncias fáticas exteriores, eu poderia imaginar outro número, como um 4, um 5 ou um 6.

    Agora se necerrariamente eu deva sempre escolher o numero 3, foçosamente se observa que essa escolha dependeu de causas externas, mas que são tão complexas ao nosso entendimento, que achamos que nossa decisão em imaginar o número é independente.

  • criancinha:

    Será mesmo que existe o livre-arbítrio, da maneira mais absoluta que costumam entendê-la? Ou nossas decisões podem ser previstas por meio de calculos tão complexos que somente uma unidade de inteligência superior seria capaz de resolvê-los?

  • silviojbmaia:

    O livrearbítrio, como tudo, tem início, vem de transformação, e é startado em sua expressão básica, sendo um atributo da consciência, que se pensava ter início no ciclo ou reino hominal, mas na verdade comprovada é no animal. O Alto na parte kardequiana blindada respondeu como mais ou menos a mesma que entre um homem e Deus, a diferença evolucional entre um animal e um homem terráqueos. Terráqueos. A evolução das formas entre o macaco e o homem é extraterrestre, sendo que em mundos mais adiantados os animais fazem trabalhos de gerência. Posto isso para uma visualização dessa evolução, parece-me que a consciência tenha início em algum ponto bem depois da virada vegetal/animal, ao mesmo tempo em que passando o ser a ter sua individualidade em reencarnações, não mais voltando à matriz comum após o encerramento de uma vida corpórea. Não faz sentido supor que um marimbondo já possa ser uma individualidade reencarnante. Visitem http://br.groups.yahoo.com/group/multilistalivre/ http://br.groups.yahoo.com/group/silviojbmaia/

  • Ice Blue:

    As pessoas estão confundindo eles estão falando de Livre Arbítrio como os animais podem escolher e não que “Deus” deu isso a eles, as pessoas confundem tudo isso é ciência não religião.

  • Cesar:

    Nossa, Pensador, como você é inteligente, sabe tudo que passa pela cabeça dos cientistas, sabe até no que eles acreditam ou não, e o que eles admitem ou não. Fala sério, você deve tomar café da manhã com metade dos cientistas, e almoçar com a outra metade, por isto você sabe tudo que se passa pela cabeça deles. Eu me sindo privilegiado que uma pessoa tão bem informada, e que é capaz de emitir juízos tão úteis e necessários, partilhe da mesma internet que eu, visite os mesmos artigos e, principalmente, compartilhe sua sabedoria…

  • Fernanda:

    Tem muito fundamento, pois hj mesmo eu estava para sair de casa e minha cachorrinha sempre fica estressada quando percebe que vou sair. Quando peguei a bolsa e as chaves do carro ela correu para a área e se deitou em seu sofazinho, como a dizer que gostaria de ficar do lado de fora. Pensei que, por causa do calor, ou sei lá pq, ela deve ter tido alguma espécie de pensamento sobre ser melhpor ficar esperando do lado de fora da casa. Ela sempre me surpreende de diversas maneiras.

  • Pensador:

    Muitos cientistas deveriam admitir logo que acreditam em um “Deus”.

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