Os benefícios de saúde do tricô

Por , em 26.01.2016

Se você está procurando um novo hobby, considere tricotar. Pode parecer algo “ultrapassado” ou “chato”, mas na realidade a atividade pode ser muito satisfatória e ter uma série de benefícios a saúde.

É o que pensa Jane Ellen Brody, autora americana que já publicou várias obras sobre ciência e nutrição, e que possui uma coluna sobre “Saúde Pessoal” no The New York Times.

Escrevendo para o jornal, Jane explicou que o tricô está “na moda” novamente e que suas vantagens são muitas.

É como meditar

Nos EUA, tem havido um ressurgimento do tricô e outros artesanatos, e não apenas entre pessoas idosas. O Craft Yarn Council, um conselho nacional sobre artesanatos, relata que um terço das mulheres com 25 a 35 anos agora faz tricô ou crochê. Mesmo homens e crianças estão experimentando a arte.

O interesse é justificado. Ao que tudo indica, o tricô tem o poder de relaxar as pessoas. De acordo com o Dr. Herbert Benson, pioneiro em medicina mente e corpo e autor de “A Resposta do Relaxamento”, diz que a ação repetitiva de tricotar pode induzir um estado de relaxamento como a associada com a meditação e yoga.

Uma vez que você passa da fase de aprendizagem, atividades como tricô e crochê podem diminuir a frequência cardíaca e pressão arterial e reduzir os níveis sanguíneos nocivos do hormônio do estresse cortisol.

Bônus

Ao contrário de meditação, atividades artesanais também resultam em produtos tangíveis e muitas vezes úteis que podem melhorar a autoestima das pessoas. Jane, por exemplo, gosta de ter fotos dos produtos que cria no seu celular, para impulsionar seu ânimo quando sente que precisa.

Desde os anos 1990, o Craft Yarn Council faz um levantamento com centenas de milhares de pessoas, que rotineiramente listam alívio do estresse e realização criativa como os principais benefícios das atividades artesanais.

Neste levantamento, o pai de um bebê prematuro relatou que, durante o tempo que a filha passou na unidade de terapia intensiva neonatal, aprender a tricotar foi o que lhe deu um senso de propósito em um momento no qual ele se sentia muito impotente. O hobby continuou a ajudá-lo mais tarde na vida, a lidar com o estresse no trabalho, proporcionar uma sensação de ordem em dias agitados e dar tempo ao seu cérebro para resolver problemas.

Não para por aí

As recompensas de tricotar podem ir além de aliviar estresse e ansiedade com a satisfação de criação.

Por exemplo, Karen Zila Hayes, uma coach de estilo de vida de Toronto, no Canadá, realiza vários programas de terapia com tricô, incluindo “Tricô para Largar” para ajudar os fumantes a abandonar o hábito, e “Tricô para Curar” para pessoas que estão lidando com crises de saúde, como um diagnóstico de câncer ou doença grave de um membro da família.

As escolas e prisões com programas de artesanato também relatam que as atividades têm um efeito calmante e melhoram as habilidades sociais, já que são feitas em grupo. Ter de seguir instruções complexas ainda pode melhorar as habilidades de matemática das crianças.

Algumas pessoas inclusive acham que o artesanato ajuda a controlar seu peso. Assim como é um desafio para qualquer pessoa fumar enquanto tricota, quando as mãos estão segurando agulhas, também se torna complicado comer e pensar em comer só por tédio.

Para Jane, o trabalho manual foi de grande ajuda com seus dedos artríticos. Ela sentiu que eles se tornaram mais hábeis. Uma mulher encorajada a tentar tricô e crochê depois de desenvolver uma doença autoimune que causou muita dor na sua mão também relatou no site do Craft Yarn Council uma melhora.

Ocupa a mente

Um estudo de 2009 da Universidade de British Columbia (Canadá) com 38 mulheres com transtorno de anorexia nervosa que aprenderam a tricotar revelou que o ofício levou a melhorias significativas. 74% das mulheres disseram que a atividade diminuiu os seus medos e as impediu de ruminar sobre seu problema.

Betsan Corkhill, coach de bem-estar da Inglaterra, criou um site chamado Stitchlinks para explorar o valor do que ela chama de “tricô terapêutico”. Entre seus entrevistados, 54% dos clinicamente deprimidos disseram que tricô era uma atividade que os fazia se sentir feliz ou muito feliz.

Em um estudo com 60 pessoas com dor crônica, Corkhill e seus colegas concluíram que o tricô permitia que as pessoas redirecionassem seu foco, reduzindo a sua percepção da dor. Pode ser que o artesanato “ocupe a mente”, tornando mais difícil para o cérebro registrar os sinais de dor.

Ou até faz bem para a mente

E há ainda algumas pesquisas que sugerem que tricô e crochê podem ajudar a evitar um declínio na função do cérebro com a idade. Em um estudo de 2011, pesquisadores liderados pelo Dr. Yonas Geda, psiquiatra na Clínica Mayo, nos EUA, entrevistaram 1.321 pessoas com idades entre 70 e 89, a maioria cognitivamente normal, sobre as atividades nas quais se engajavam.

O estudo, publicado no Journal of Neuropsychiatry & Clinical Neurosciences, descobriu que aqueles que se envolviam em artesanato como tricô e crochê tinham uma chance reduzida de desenvolver transtorno e perda de memória cognitiva leve.

Embora seja possível que apenas pessoas cognitivamente saudáveis busquem essas atividades, aqueles que liam jornais ou revistas ou tocavam música não mostraram benefícios similares. Os pesquisadores especulam que as atividades artesanais promovem o desenvolvimento de vias neurais no cérebro que ajudam a manter a saúde cognitiva.

Em apoio a essa sugestão, um estudo de 2014 da Universidade do Texas em Dallas, nos EUA, demonstrou que aprender a tricotar uma colcha ou fotografar levava a uma melhora na função de memória em adultos mais velhos. Os que que se envolveram em atividades que não eram intelectualmente desafiadoras não viram tais melhorias. [NYTimes]

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